segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Doclisboa'12: Amanhecer a Andar

*4/10*

"Hoje em dia, um homem quando acorda tem que amanhecer a andar", diz uma das personagens deste documentário que faz parte da Competição Nacional de longas-metragens. A realizadora, Sílvia Firmino, parece ter-se inspirado nesta frase para a escolha do título do seu filme Amanhecer a Andar, que teve exibição este Sábado no Doclisboa.


Histórias de quem que vive em redor do antigo Grande Hotel Beira, em Moçambique, onde alguns habitam, em condições precárias. Um velho homem guarda uma escola durante a noite e, ao amanhecer, abre portas e varre o chão arenoso, ao mesmo tempo que ouvimos crianças a cantar o hino de Moçambique. Este homem é Augusto e é ele que nos leva ao espaço onde o documentário se passa. Um espaço amplo, misterioso, que se revelará fragmentado no encontro com as personagens principais do filme. Elvita trabalha incessantemente mas não deixa de defender o seu descanso junto do marido. Carlos procura um empréstimo para aumentar uma pequena banca de venda e finalmente começar também a construir a casa para a família. Salim reza várias vezes ao dia, ensina o Alcorão a crianças e, em família, não perde a atenção do primeiro filho homem. Três vidas em percurso, num movimento que olha para o futuro sem perder a tranquila condição no presente.

Amanhecer a Andar reúne um conjunto de imagens que teriam grande valor se fossem trabalhadas e apresentadas de outra forma. Vemos o dia a dia destas pessoas, mas não sabemos os seus nomes (para além do que nos é dito na sinopse), não percebemos a relação que existe entre os vários personagens, e, muito menos o que a realizadora pretendia transmitir com esta longa-metragem.

A fotografia não é, claramente, um ponto forte, nem as próprias personagens e algumas cenas parecem totalmente encenadas (como a conversa sobre o empréstimo). Contudo, há momentos interessantes que poderiam ter sido aproveitados da melhor forma. A conversa entre Carlos e o encarregado da obra da sua futura casa, apesar de divertida, ao mesmo tempo, demonstra bem as dificuldades, não só financeiras, como também do próprio planeamento do território e mesmo no que respeita aos esgotos (inexistentes). Perto do final, a comparação das actividades dos homens, que se reúnem para ver futebol, e das mulheres, que dançam animadas, são dois momentos muito interessantes. A música, que nos acompanha ao longo do filme,  é também uma mais-valia.

Sente-se demasiadamente a ausência de testemunhos, existindo muitos vazios por preencher. Sílvia Firmino tinha nas mãos material potencialmente valioso, que poderia ter resultado bem, mas parece ter preferido contrariar o título da sua longa-metragem.


Amanhecer a Andar repete amanhã, dia 22 de Outubro, às 16h30, no Cinema São Jorge.

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