sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Crítica: Cloud Atlas (2012)

"I believe there is a another world waiting for us, Sixsmith. A better world. And I'll be waiting for you there. "

Robert Frobisher
*6.5/10*
Os realizadores da trilogia Matrix, Andy e Lana Wachowski, aliaram-se a Tom Tykwer e prometiam vir revolucionar o cinema deste ano. Cloud Atlas, que liga personagens do passado, presente e futuro, revelou-se, afinal, um filme pouco mais do que razoável, com um elenco de luxo, sim, mas sem nada que o torne especial ou o faça destacar-se.
Um emaranhado de histórias pouco criativas, de onde pouco se extrai, Cloud Atlas ambicionou ser muito mais do que o que conseguiria alcançar. Dos seis casos que nos são expostos, destacam-se pela positiva dois ou três; visualmente, há bons momentos, mas como um todo, os irmãos Wachowski e Tykwer não conseguem impressionar e, muito menos, demarcar-se do que já foi feito.

Tendo por base o livro de David Mitchell, em Cloud Atlas as personagens conhecem-se e voltam a reunir-se de uma vida para a próxima. Nascem e renascem. Acções e escolhas individuais têm consequências e impacto entre si quer no passado, presente ou futuro. Uma alma é moldada, de assassino a herói, e um simples acto de bondade tem repercussões ao longo de séculos, tornando-se na inspiração de uma revolução.

As boas intenções dos realizadores parecem estar espelhadas na sinopse. Elas existem, mas faltou maior dedicação para atingir o patamar a que se propuseram. As próprias personagens surgem quase como épicas, mas no desenrolar do filme percebemos que não têm muito conteúdo.

Cada actor divide-se por uma multiplicidade de personagens, que vivem em tempos distantes. Todos eles têm alguma relação com os restantes, as acções de uns têm repercussões na vida e no mundo dos outros. Certo é que a continuidade de história para história está extremamente bem conseguida e o trabalho de montagem merece elogios. No que toca ao argumento, Cloud Atlas peca pelo vazio da mensagem que pretende transmitir. Das seis histórias, apenas metade se destaca por algum motivo, ou acrescentam algo ao todo.
É a história do compositor interpretado por Ben Whishaw que conquista a atenção e demonstra maior originalidade e qualidade. É ela a chave do filme, através da Cloud Atlas Sextet, que funciona como uma metáfora de toda a longa-metragem com as suas seis narrativas. É nestas cenas que o espectador consegue sentir-se envolvido no que vê, criando laços com o seu protagonista, que pode ser visto como o verdadeiro criador de Cloud Atlas. De destacar, também é a narrativa futurista, onde o amor e os direitos humanos estão em jogo. Por último, protagonizado por Jim Broadbent, o caso do editor livreiro que se vê internado num lar de idosos proporciona talvez dos momentos mais divertidos da longa-metragem.

Cloud Atlas ganha muito na excelente caracterização das personagens, tornando os actores por vezes irreconhecíveis. A nível visual, a direcção de fotografia faz um bom trabalho, a par da realização, e os efeitos especiais estão bem conseguidos.

O elenco é outro ponto de interesse do filme. Tom Hanks lidera as interpretações, na pele de uma grande diversidade de personagens, desde um pastor protector da família, a um escritor endiabrado, ou um médico ganancioso, por exemplo. Ben Whishaw prova mais uma vez o seu talento, com uma discreta mas importante participação, na pele de Robert Frobisher, personagem com pequenos pormenores que a tornam cativante e essencial. O veterano Jim Broadbent oferece-nos agradáveis interpretações em todas as personagens que encarna, em especial duas delas: o compositor Vyvyan Ayrs e o editor Timothy Cavendish. Outros nomes a realçar no elenco são Jim Sturgess, Hugo Weaving, Halle Berry ou Doona Bae.

Cloud Atlas assemelha-se a um sonho, confuso, com muitas personagens e histórias cruzadas, mas está longe de ser um filme inesquecível. Andy e Lana Wachowski e Tom Tykwer queriam chegar às nuvens mas pouco fizeram por levantar os pés do chão. 

6 comentários:

Jorge Teixeira disse...

Genericamente concordo. Um filme que dá o passo maior que a perna, por assim dizer, que não consegue aprofundar, explorar ou até se debruçar convenientemente sobre o seu tema-base, a sua mensagem.

Apesar de tudo, não é um mau filme, de todo.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

Inês Moreira Santos disse...

Obrigada pelo comentário, Jorge.
É verdade, anuncia muito mais do que aquilo que nos dá.

Cumprimentos cinéfilos.

Unknown disse...

O melhor filme feito até hoje...

Anónimo disse...

Concordo em grau, gênero e número (confuso de segmentos) que o filme apresenta avaliado nesta crítica. Ao meu ver o filme esbarra em superficialidade e pretensão. As questões filosóficas, a existência e a subjetividade dos personagens são abordadas remotamente e não sustentam a veracidade dos segmentos (impossibilidade de adaptar os meandros literários da trama em um filme construído à velocidade da luz). Outro problema é o comprometimento da narrativa pela transição de gêneros. É irritante assistir um segmento dramático e emocional e, logo a seguir, adentrar outro com interpretações hilárias e situações cômicas. Ótimos efeitos especiais, cenários, paisagens e excelentes atuações não sustentam o truncamento do enredo. Mais um tiro no pé de Andy e Lana (Larry após a mudança de sexo) Wachovski. Buscando filmes surreais, filosóficos e metafísicos consistentes, adentremos o universo de On The Silver Globe (Zulawski), Avalon (Mamori Oshi) ou The Holy Mountain (Alejandro Jodorowski). E sou prova cabal de adoração da trilogia Matrix, apesar dos inúmeros detratores. Passe longe de Cloud Atlas. danielbrasil@hotmail.com

Anónimo disse...

E obrigado por postar meu comentário.

ticha disse...

Alguém me sabe dizer para onde foi o marido no fim..?
E a filha quando chega mesmo n o final do filme, corresponde a antes ou depois da descoberta inicial do filme?