sábado, 19 de janeiro de 2013

Crítica: Anna Karenina (2012)

"Anna isn't a criminal, but she broke the rules!"
Condessa Nordston 
*7.5/10*

Joe Wright quis trazer Anna Karenina, de Tolstoy, uma vez mais para o cinema, mas ousou muito mais, transbordando originalidade e desconstrução, numa longa-metragem que confunde teatro e cinema, sem nunca esquecer para que plateia trabalha.

É inesperado o fulgor que o realizador foi capaz de dar a uma história que pouco tem de extraordinário ou cativante. Todavia, o resultado é um filme com cenas por vezes hipnotizantes, onde as componentes visual e artística se sobrepõem de tal modo ao fraco argumento, que desvanecem o tédio que este poderia gerar.

A história desenrola-se na Rússia, em finais do século XIX, no seio da alta-sociedade, e explora a capacidade de amar, desde a paixão entre adúlteros, à ligação entre uma mãe e o seu filho. Quando Anna (Keira Knightley) questiona a sua felicidade, grandes mudanças ocorrem na sua família, amigos e comunidade.


A par de Karenina, que encontra consolo no Conde Vronsky, para fazer face a um casamento pouco feliz com o político Karenin, é-nos apresentado o jovem Levin que luta pelo amor da princesa Kitty. Uma história que pouco interesse desperta ao lado do triângulo protagonista.

Amor, traições, tragédia, uma época, um país, uma sociedade. Anna Karenina não traz, argumentativamente, nada de novo, mas é sobre esse enredo banal (de duas histórias de amor) que constrói uma estranheza encantadora. Aqui, o teatro entra literalmente dentro do cinema, e os cenários mudam à nossa frente. Os bastidores não nos são escondidos, bem pelo contrário, servindo, constantemente, cada cena, cada movimento, fazendo com que o filme se construa, na sua grande maioria, entre eles e o palco. A ilusão e o artifício que o cinema poderia criar são desmontados perante os nossos olhos. O que pode provocar essa inicial estranheza, depressa se assume como uma ironia natural (onde o expoente máximo será talvez a cena da corrida de cavalos), construída de forma a oferecer um novo fôlego a uma história tão simples.

O motor da longa-metragem é toda a componente técnica, desde a realização, que nos proporciona alguns planos-sequência fabulosos, ou, outras vezes, ilusões de continuidade arquitectadas de forma perfeita; à fotografia, a cargo de Seamus McGarvey, que joga com cenários e iluminação de forma genial, oferecendo-nos, conforme a situação, uma gélida Rússia, escura e repleta de cores frias, os momentos luminosos de amor quente entre Karenina e Vronsky, ou a alternância entre claros e escuros que varia consoante a felicidade/infelicidade da protagonista; à banda sonora a condizer, a cargo de Dario Marianelli; aliada a uma direcção artística de excelência, onde actores e figurantes estão exemplarmente coreografados, conferindo, eles mesmos, uma musicalidade muito especial a Anna Karenina, que poderia ser apelidado como um filme “dançante”, especialmente na sua primeira metade.


Também os pormenores conferem algo de especial a Anna Karenina, desde os espelhos, aos comboios, e mesmo, claro, o subtil tom premonitório presente ao longo da longa-metragem. O elenco, com nomes como Keira Knightley, Jude Law ou Aaron Taylor-Johnson, tem interpretações razoáveis, onde é a actriz que se destaca, provando, uma vez mais, como está à vontade em papéis de época. Knightley veste bem a pele da protagonista cheia de amor e coragem, e ofusca com o seu brilho a história paralela de Levin e Kitty.

É a superioridade técnica e artística de Anna Karenina que dá ao argumento a cor e paixão que lhe faltam, provando o filme ser digno das quatro nomeações que detém aos prémios da Academia, nas categorias de Melhor Fotografia, Melhor Direcção Artística, Melhor Guarda-Roupa e Melhor Banda Sonora.

1 comentário:

Unknown disse...

A melhor interpretação para mim foi a do Aaron, por isto reassisti algumas vezes