segunda-feira, 18 de março de 2013

MONSTRA'13: Grave of the Fireflies

"Why must fireflies die so young?"
Setsuko
*8/10*

No rescaldo da MONSTRA ainda há que escrever. Outro filme de 1988, a completar um quarto de século este ano, é Grave of the Fireflies (O Túmulo dos Pirilampos), que teve direito a duas sessões especiais no Festival de Animação de Lisboa.

A longa-metragem de Isao Takahata é um clássico de anime e baseia-se em acontecimentos reais, no meio da fantasia que lhe está adjacente. A temática é forte: tudo acontece nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial. Seita, de 14 anos, e a sua irmã Setsuko, de 4, ficam órfãos após a sua mãe ser morta durante um ataque aéreo das forças americanas em Kobe, no Japão. Após desentendimentos com a tia que os acolhe temporariamente, os irmãos mudam-se para um armazém abandonado. Sem mantimentos ou parentes que os ajudem, ambos lutam contra as dificuldades que se juntam às que também o seu país vive.

No início do filme já sabemos como tudo termina, apenas desconhecemos o que acontece até lá e é isso que  Grave of the Fireflies nos vai narrar. Uma história emocional, que tem lugar em plena Guerra, e que não se coíbe de mostrar imagens chocantes - bombardeamentos, casas a arder, mortes -, ainda que seja em animação. A temática é triste, mas é mesmo essa aura infeliz que conduz o espectador a estabelecer uma ligação com Seita e Setsuko, os protagonistas. 

Vive-se a sua dor no grande ecrã em momentos extremamente profundos, uns bem mais naturais do que outros. Perto do fim temos, aliás, essa questão está bem patente, com uma recordação "forçada", seguida do momento mais comovente de todo este Grave of the Fireflies.

Para além da Guerra e das suas tenebrosas consequências, o rasto de morte e destruição que deixou, neste caso concreto, no Japão, a longa-metragem de Isao Takahata faz-nos reflectir sobre a legitimidade para causar tal situação, mais ainda quando o ataque foi feito a civis. A par das questões políticas, o realizador torna central a relação entre os dois irmãos, com Seita a tudo fazer pelo bem-estar da irmã, e a pequena Setsuko a mostrar-se uma guerreira, transformando-se aos 4 anos na "mulher da casa".


Ao mesmo tempo, os Pirilampos, que dão título ao filme, têm um papel, ainda que subtil, muito importante e quase premonitório em Grave of the Fireflies. Quando eles estão no ecrã, proporcionam-nos das mais belas cenas da longa-metragem. De destacar tecnicamente é a variação de cores consoante dois momentos do filme: cores quentes no inicio e fim, que contrastam com cores mais naturais, por vezes pálidas, em todo o resto da película.

Grave of the Fireflies é um marco no cinema de animação e obrigatório para os fãs do género. Os mais sensíveis devem preparar-se para momentos de emoções fortes e sentimentos à flor da pele. Com uma construção muito competente, a longa-metragem japonesa ganha ainda mais pontos pela reflexão que nos propõe e pela crueza com que conta a história.

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