terça-feira, 30 de abril de 2013

Crítica: Spring Breakers / Viagem de Finalistas (2012)

"This is the fuckin' American dream. "
Alien
*3.5/10*

"Sexo, drogas e Britney Spears" podia ser o lema de Spring Breakers, um filme que se habilita fortemente a ganhar o título de desilusão do ano. Nem a mais interessante componente técnica desculparia o vazio argumentativo que paira sobre o novo filme de Harmony Korine.

Aquilo que poderia ser uma curiosa sátira social deixa-se contagiar por esse mesmo "sonho americano" que critica, numa cultura pop degradada e ilusória, onde perdura um machismo evidente e exagerado, e em que nada se extrai do conteúdo.

Quatro jovens (as meninas da Disney, Selena Gomez e Vanessa Hudgens, juntamente com Ashley Benson - uma das protagonistas da série Pretty Little Liars - e Rachel Korine) partem para a sua viagem de finalistas, depois de alguns percalços para conseguirem o dinheiro necessário para a fazer. No meio de um ambiente de festa e loucura as quatro vêem a sua vida complicar quando são detidas. Contudo, é quando Alien, um traficante de droga, surge no seu caminho que esta viagem toma um rumo inesperado.

O argumento, demasiado básico, não oferece nada de novo ao cinema como tanto se tinha feito anunciar. Spring Breakers sustenta-se no sexo sem limites, na loucura - quase sempre levada ao extremo dos exageros -, no consumo de álcool e drogas e em rixas entre gangs rivais. A sátira a este "ideal" dos adolescentes americanos cai por terra bem cedo, com o filme a querer agradar a públicos tão diferentes que cai numa repetição de ideias, de frases, de imagens, como se a plateia tivesse dificuldades cognitivas e não compreendesse os acontecimentos à primeira. A desconstrução que é feita é tão má que tudo o que, à partida, poderia dar bons resultados se perde em minutos.

O deslumbramento que as "meninas da Disney" (a partir daqui referir-me-ei assim às quatro protagonistas) demonstram não é aproveitado para mostrar o quão ilusório é esse "sonho americano", preferindo Korine apostar no mais fácil - o deslumbramento, sim, mas de um público que se quer alienado por sexo e machismo, do início ao fim. As mulheres que aqui vemos são pouco inteligentes, sem personalidade, imitações. Toda a nudez do filme é-nos proporcionada por elas: em momento algum vemos um homem mais "exposto", bem pelo contrário, eles subjugam-nas, tal como o realizador que insiste em planos do corpo feminino, sempre explorando a sexualidade - mas repetitiva e exacerbadamente. Nem mesmo com o final do filme, que poderia contrariar essa tendência, tal consegue ser minorado, de tão artificial e improvável que o mesmo é.

Verdade seja dita, tecnicamente, Spring Breakers está repleto de competência. Tem desde logo a seu favor o facto de ser filmado em 35mm, mas nem isso compensa a pobreza - e preguiça - de conteúdo que a longa-metragem demonstra. As cores explodem num universo alucinatório, espelhando a loucura em torno do álcool e das drogas, com uma fotografia genial - sob a direcção de Benoît Debie - e uma banda sonora a condizer - onde surge a princesa da pop Britney Spears (também ela ex-menina da Disney).


Ironicamente, é Britney Spears quem oferece a melhor cena de Spring Breakers - com James Franco ao piano a tocar Everytime para as três jovens que o acompanham. É este um dos poucos grandes momentos onde assistimos ao paradoxo, que poderia ter sido o grande foco deste filme, numa alternância entre esta imagem cómica, de um rapper traficante a cantar pop, e a violência do gang de Alien - repare-se que até do nome deste personagem poderia ter saído uma subtil crítica à alienação da juventude actual.

E nem os actores salvam o filme, com James Franco numa prestação mediana e as quatro jovens protagonistas - Selena Gomez como Faith, Vanessa Hudgens como Candy, Ashley Benson como Brit e Rachel Korine (esposa do realizador) como Cotty - sem merecer grande destaque. Ainda assim, Gomez e Korine são quem parecem sair-se melhor, conferindo alguma intensidade dramática às suas personagens. Total erro de casting foi Vanessa Hudgens que provou ter apenas uma expressão facial.

É impossível perdoar a Harmony Korine por ter desperdiçado uma ideia tão boa num filme tão fraco e vazio, que se traduz numa espécie de Morangos com Açúcar para adultos. E ao fim de contas, Spring Breakers será, provavelmente, um dos mais sobrevalorizados do ano, infelizmente.

13 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com grande parte da crítica (que felizmente não conta com os spoilers que pediram para revelares). É a prova que estar na capa dos Cahiers du Cinéma não é sinónimo de qualidade.

Só discordo quando dizes que "se traduz numa espécie de Morangos com Açúcar para adultos". É que no Morangos com Açúcar, toda aquela banalidade ainda se justifica pelo facto dos argumentistas tentarem chegar a um público específico, aqui parece ser apenas o Harmony Korine a dizer "vejam eu sou rebelde".

Boa crítica.

Inês Moreira Santos disse...

Muito obrigada, Aníbal. Tens razão. Tanta rebeldia pedia um filme a sério e não um desperdício imperdoável de uma boa ideia.

Cumprimentos cinéfilos.

Ana Sofia Santos disse...

Mamas e rabos. Rabos e mamas.
Drogas e álcool. Álcool e drogas.

VOLTA Larry Clark

Inês Moreira Santos disse...

É verdade, Sofia. O que é demais enjoa. E tanto mau gosto injustificado ainda pior.

Cumprimentos cinéfilos.

Unknown disse...

concordo inteiramente com a critica, uma ideia boa, por isso fui ver o filme - boa fotografia (dito por uma leiga como eu mas vale o que vale) mas ao fim e ao cabo tão mau, tao vazio, tao repetitivo nas falas e cenas - exactamente como disseste, acham que o publico nao percebe à primeira? - enfim fiquei desapontada

Joana, 20 anos

Inês Moreira Santos disse...

Obrigada pelo comentário, Joana. Tens toda a razão, e a ideia merecia muito mais.

Cumprimentos cinéfilos.

eusouaquele disse...

R: Não tens que agradecer :)

pond disse...

E a falta de maturidade de vocês as vezes me choca. Tendo eu meus dezesseis anos e com mais maturidade do que vocês.
A ideia era essa, a repetição as imagens, a falta de trabalho e a preguiça com as cenas. Korine nunca quis um filme rico em belezas ele queria mostrar realmente a alienação que esse tal sonho americano leva as pessoas, fazer de tudo por dinheiro, por diversão, por putaria? E quis mostrar que o quanto mais as pessoas aproveitam elas se confundem, a diversão com a felicidade, o sexo, o prazer com o amor.

Inês Moreira Santos disse...

J. Gomez:

Não me parece que haja aqui qualquer relação com maior ou menor maturidade. São opiniões, isso sim, e como tal, todas elas são válidas desde que devidamente justificadas.

Obrigada pelo comentário.

Lolo Arziki disse...

Concordo plenamente mal acabei de ver o filme fiz uma critica em voz alta para mim sozinha de tanta desilusão, porque é quase que frustrante passar uma hora e meia a ver um filme com alguma expectativa e depois se deparar com uma excessiva pobreza do argumento e com um filme estereotipado, dum machismo evidente. Eu sinceramente acho que é um dos piores que já vi nos últimos anos, mal acabei de ver vim ver criticas do filme e só tenho a dizer que estou total de acordo porque o argumentista e o realizador do filme estão a subestimar os espectadores em ''oferecer'' filme deste tipo claramente a estereotipar a adolescência e juventude americana e não só (porque não fizeram o filme só para a América) e acho que nem os ''gangstar's'' mereciam umas representações tão fracas, tão pobres e tão pejorativo, sem falar que a imagem do negro é completamente pejorada e também estereotipada, se calhar a ideia era mesmo enaltecer as meninas da Disney.

≈ H2O Meninas Sereias ≈ disse...

Olá, Inês! Eu estava procurando críticas sobre o filme "Spring Breakers" e encontrei a sua! E preciso dizer que você não foi muito feliz nela. "Spring Breakers" foi dirigido/criado por Harmony Korine, conhecido por fazer filmes realísticos e polêmicos. Apesar de ter AMADO o filme, preciso adimitir que o filme, sim, peca em alguns sentidos. Mas foi nesse aspecto que eu achei sua crítica muito sem sentido. Primeiramente, o fato de você ter dado 3.5 em 10 já prova que você não captou a mensagem do filme.A mensagem fica bem implícita, mas em hora nenhuma o filme foi fraco e vazio. Korine mostrou bravamente a realidade do novo conceito de liberdade dos jovens de hoje em dia, esse é o meio que eles usam para se sentirem mais vivos, e ele soube passar isso direitinho. Sobre o elenco, eu parei de ler sua crítica quando você diz que ter colocado a Vanessa Hudgens no filme foi um erro de casting. Pelo contrário. Ela foi a atriz que mais se entregou e se destacou, deixando todo mundo de boca aberta. Terçeiramente, você deveria corrigir sua frase: "Sexo, drogas e Britney Spears". Caso você não tenha reparado (o que é bem notável), o que mais tem no filme são as músicas do Skrillex, que na minha opinião, é o tempero do filme. Noto que a única coisa "fraca e vazia" aqui, certamente, é a sua crítica. Tenha uma boa noite! :)

Inês Moreira Santos disse...

Loide Reis, muito obrigada pelo comentário.

≈ H2O Meninas Sereias ≈, então parece que leu a crítica até ao fim. São opiniões.

Unknown disse...

J. Gomez me desculpe mas você conhece o diretor pessoalmente ? Porque esse filme é totalmente imaturo, a filmagem é boa como todas as críticas defendem, porém, a história é fraca demais. E me desculpe as meninas ao fim matando uma gangue ?? Tá fácil manter a paz hein. Muito bom para quem teoricamente não tinha treinamento só características de sociopatas. E me perdoe mas 16 anos ? Acho que muitos daqui tem vivências pessoais mais longas que você.