sexta-feira, 10 de maio de 2013

Crítica: A Essência do Amor / To The Wonder (2012)

"Love that loves us..."
Marina

Depois de, em 2011, A Árvore da Vida ter chegado aos cinemas para dividir opiniões, mas também para oferecer um filme com uma dimensão muito poderosa, Malick regressou com A Essência do Amor (To the Wonder). A espera não foi grande – principalmente se tivermos em conta filmes anteriores, já que entre Dias do Paraíso e A Barreira Invisível tivemos de esperar 20 anos -, mas o resultado não é tão marcante como se poderia fazer esperar.

O amor e a fé são o centro da questão, num filme, apesar de tudo, cheio de características que o tornam singular no cinema actual. A espiritualidade continua a envolver o trabalho de Malick que, mais uma vez, convida o espectador a reflectir sobre o que vê no ecrã mas, ao mesmo tempo, sobre si mesmo e a sua forma de encarar a vida.

A Essência do Amor centra-se na relação entre Neil e Marina, uma mulher europeia que viajou para os Estados Unidos para estar com ele. Contudo, o reencontro com Jane, que conhece desde jovem, faz reacender uma velha chama. A par destes três protagonistas, e relacionado com eles surge o Padre local, que coloca uma série de questões a Deus.


Não tão brilhante como o seu antecessor, A Essência do Amor não deixa contudo de cativar atenções, seja pelo estilo, sempre profundo, do realizador que nos consegue fazer arrepiar. Mais uma vez, Malick joga com os nossos sentidos e com as nossas emoções – seja através da grandiosidade das imagens que nos oferece, seja pela realidade das relações humanas que filma. Nesta longa-metragem, sente-se que o rumo não está totalmente definido – muito possivelmente será essa a vontade do realizador -, no entanto, um série de más opções – a montagem muito contribui para tal – deixarão o espectador sem norte a partir da metade da película.

Ao mesmo tempo, as personagens constroem, ou pelo menos ajudam a construir, a narrativa. Neil parece-nos, desde o primeiro momento, incapaz de amar, distante e de poucas palavras ou gestos de carinho. Por outro lado, ambas as mulheres protagonistas – Marina e Jane – apesar das claras diferenças e experiências que as distinguem, são apaixonadas e entregam-se por inteiro à pessoa amada. A fé entra em jogo com o surgimento do Padre Quintana, que atravessa uma crise e se questiona a si mesmo, pedindo a Deus provas da sua verdadeira existência e bondade. A Quintana ligam-se todas as outras personagens – Marina (presença assídua na Igreja) e Jane, muito religiosas e crentes -, ao contrário de Neil que aparenta não ter fé.

2 comentários:

António V. Dias disse...

Adorei "A Árvore da Vida" mas achei este o filme de Malick aquele que mais copiava o anterior.
O que em "A Árvore da Vida" estava em equilíbrio, em "A Essância do Amor" está exagerado: as frases soltas, os grandes planos e o passar a mensagem pelas imagens. Mesmo a banda sonora é muito mais fraca.
Mais vale a Malick voltar aos periodos de interregno entre filmes
Salva-se a força das imagens (fantásticas).

Inês Moreira Santos disse...

Percebo o que quer dizer. Por um lado, falta-lhe a grandiosidade de A Árvore da Vida, mas por outro lado, há algo de intrínseco que torna quase impossível não gostar do filme.

Cumprimentos cinéfilos e obrigada pelo comentário.