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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Crítica: 12 Anos Escravo / 12 Years a Slave (2013)

"I don't want to survive. I want to live."
Solomon Northup

*8/10*

Steve McQueen magoa-nos como mais nenhum realizador consegue a cada filme que realiza. Depois de Fome e Vergonha, 12 Anos Escravo não foge à regra e continua a exercer uma forte pressão psicológica (e física) sobre personagens e audiência. McQueen chicoteia quem quer que esteja dentro ou fora do ecrã, a dor é permanente na sua filmografia e sempre abordada da forma mais crua e realista.

Com um tom muito mais comercial e uma produção muito superior a qualquer dos seus antecessores, 12 Anos Escravo conserva, no entanto, as fortes marcas de autor de McQueen, a começar pela temática forte, abordada sem pudor, aos planos longos e reflexivos.

Na pré-Guerra Civil dos Estados Unidos, Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre de Nova Iorque, é raptado e vendido como escravo. Enfrentando a crueldade, mas também momentos de inesperada bondade, Solomon luta não só para se manter vivo, mas para preservar a sua dignidade.


12 Anos Escravo é baseado numa história verídica, mais propriamente no livro escrito pelo verdadeiro Solomon Northup e este factor pode fazê-lo destacar-se de outros filmes do género. Apesar dos inevitáveis clichés, 12 Anos Escravo é cruel e, mais do que apelar ao sentimentalismo, prefere mostrar os factos objectivamente, sem juízos de valor, esses são deixados para a plateia.

As interpretações são outro ponto forte do filme de McQueen, que conta no elenco com inúmeros nomes de destaque. São, todavia, os actores secundários que nos oferecem os desempenhos mais aterradores: Michael Fassbender e Lupita Nyong'o. A dupla proporciona-nos momentos fortes e difíceis de digerir: ele na pele do desequilibrado dono de escravos Edwin Epps, ela ao encarnar a escrava Patsey, que sofre o dobro dos restantes escravos, por ser a preferida e alvo de um amor muito peculiar da parte de Epps e de uma inveja desmedida da parte da sua esposa. Já Chiwetel Ejiofor, o protagonista, tem uma prestação à altura da personagem, sofrida e corajosa, mas esperava-se um maior fôlego e entrega.


Tecnicamente, a fotografia, de Sean Bobbitt, joga bem com luz e sombra e potencia ainda mais as belas paisagens, McQueen mostra-se fiel a si mesmo na realização sem medo de filmar a dor e crueldade, e convidando à reflexão. A montagem alterna entre o passado de Solomon e o seu presente enquanto escravo. A ideia é interessante, mas torna-se, a certo ponto, cansativa, entre tantos recuos e avanços. Já a banda sonora de Hans Zimmer funciona bem no todo, mas não traz grande novidade ao trabalho do compositor.

12 Anos Escravo não supera Vergonha, mas é forte e sem moralismos. Certo é que McQueen bate-nos e nós gostamos, e queremos sempre mais filmes assim.

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