terça-feira, 8 de abril de 2014

Já Vi(vi) este Filme, por Luís Mendonça

Já Vi(vi) este Filme
por Luís Mendonça do CINEdrio e À Pala de Walsh

Não irei falar de uma projecção íntima sobre a tela, mas de uma sensação estranha de plágio retrovertido que tive com a descoberta de The Addiction de Abel Ferrara. Estava em plena adolescência quando tive o choque de ver, de seguida, filmes como 'R Xmas, King of New York, The Funeral e The Addiction. Na época, encontrar estes três últimos títulos não era tarefa fácil, para quem - como eu então - não estava familiarizado com as compras online. Depois de ver 'R Xmas no cinema, e de ler a fabulosa crítica 5 estrelas de Mário Jorge Torres no Público, quis afundar-me mais no universo pestilento deste cineasta do Bronx. Estávamos em 2001 e as cassetes começavam a sair de circulação, mas o mercado DVD em Portugal estava ainda a meio gás, a reeditar sobretudo filmes "da praxe". 

Face a isso, decidi dar uso a um bom contacto que tinha no videoclube do meu bairro e, através de umas pesquisas, consegui arranjar cópias VHS meio gastas de filmes do Ferrara, que eu comprei com o mesmo entusiasmo de quem adquire um diamante. Entre esses Ferraras, que citei atrás, estava The Addiction. O choque que este filme me provocou foi duplo: sensação de me sentir ultrapassado pela sua densidade filosófica e, ao mesmo tempo, à superfície, impressão de que Ferrara fez uma viagem no futuro para me roubar uma ideia que eu, com os meus 14 anos, andava a magicar com o intuito firme de um dia a pôr em filme. Vampiros e toxicodependência, sangue e seringas. A minha história andava à volta dos temas deste filme e, de modo irracional, quase que me senti roubado, ou retro-roubado…, por Ferrara. Ainda hoje não me pacifiquei completamente com o filme. Já Ferrara é um dos meus heróis. 


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Obrigada pela tua participação, Luís!