quinta-feira, 8 de maio de 2014

IndieLisboa'14: Competição Nacional Curtas-Metragens

Seguimos para a Competição Nacional de Curtas do IndieLisboa'14. Das 17 curtas-metragens em competição, assisti a 11, e aqui fica uma breve análise a cada uma delas.

Coro dos Amantes - 8.5/10

Coro dos Amantes é composto por três “canções” que, a duas vozes, contam o mesmo acontecimento asfixiante sob duas perspectivas diferentes. Tiago Guedes traz-nos uma belíssima curta-metragem dividida em três capítulos - ou canções - que retratam um momento dramático na vida de um casal, onde o amor fica lado a lado com a eminência da morte. O filme, em splitscreen do início ao fim, detém uma sensibilidade ímpar e um texto que não deixa a plateia desviar a atenção do ecrã. Gonçalo Waddington e Isabel Abreu têm prestações desafiantes e muito competentes. Coro dos Amantes foi talvez a melhor surpresa da Competição Nacional de Curtas desta edição.

A Caça Revoluções - 7.5/10

A Caça Revoluções é uma animação experimental que explora a relação entre duas gerações, dois tempos e duas lutas diferentes; é a Revolução de Abril a inspirar as gerações que apenas a conhecem através de relatos dos que a viveram e das fotografias de que nos apropriamos para a tornar nossa. Margarida Rego conta-nos uma bonita história a partir de uma foto e convida-nos a não deixar morrer a revolução, com uma subtil mas eficaz crítica social. 

Coisa de Alguém - 7.5/10

Em gavetas, caixas e estantes, etiquetadas e organizadas num espaço poeirento, guardam-se objectos, uma Coisa de Alguém: o departamento de perdidos e achados da PSP em Lisboa tem uma rotina diária que o filme de Susanne Malorny acompanha, ao mesmo tempo que reflecte sobre as ideias de propriedade, de perda e de encontro. Dos esquecimentos mais comuns - chapéus-de-chuva, carteiras, chaves, telemóveis - aos mais originais - bengalas, guitarras - , a realizadora traz-nos um excelente registo de um local repleto de Coisa[s] de Alguém. Um ambiente nostálgico, entre malas ou brinquedos, acompanhado da expectativa de quem recorre àquela divisão. Seguimos o percurso natural dos achados que continuam perdidos, um ano depois, e que são levados a leilão.

Ennui Ennui - 7/10

Ennui Ennui é um filme em três línguas, que junta uma drone, filha do presidente dos Estados Unidos da América, a troca de noivas tribal e o voluntariado ocidental. Gabriel Abrantes traz-nos uma paródia sobre o conflito militar no Afeganistão, com um rumo muito original. Sarcástico, provocador e extremamente divertido, Ennui Ennui é uma experiência delirante, com um visual cheio de cor.

Le Petit Prince au Pays qui Défile - 7/10

Le petit prince au pays qui défile, de Carina Freire, desenha um retrato íntimo do patinador artístico Stéphane Lambiel, duas vezes campeão do mundo e medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, em Turim. Ao lado da realizadora, o espectador é convidado a conhecer de perto o jovem luso-descendente por detrás da celebridade. A proximidade do documentário faz-nos entrar na intimidade de Lambiel, conhecer o seu ritmo diário, as muitas viagens para espectáculos ou as saudades que tem de um "pastel de nata" ou de uma "bica", em Portugal.

Varadouro - 7/10

No Faial, Açores, Varadouro percorre as piscinas naturais da região num documentário que de um momento para o outro ganha uma dimensão mitológica. Mais do que um bonito retrato turístico, capaz de captar a beleza do local, Paulo Abreu e João da Ponte percorrem a História e os mitos, e trazem-nos um documentário divertido e um eficaz cartão de visita.

As Rosas Brancas - 6.5/10

As Rosas Brancas, de Diogo Costa Amarante, é um conto sobre a memória, o luto e a alteração dos papéis na família. Na sequência da morte da mãe, os irmãos e o pai juntam-se em torno de uma campa na neve e tentam superar o vazio que a mãe deixou. As imagens dizem-nos mais que as palavras, e deixam no ar algumas sugestões que ficam no subtexto. As Rosas Brancas traz também consigo delicadeza, sensibilidade e um bom trabalho de fotografia.

Implausible Things - 6/10

A partir de material em 16mm, Implausible Things constrói sete quadros que, com diferentes propostas, convidam o espectador a abandonar as noções de razão e causalidade. Experimental e desafiador é assim o filme de Rita Macedo, que ganha pontos pela valorização da película.

Square Dance, Los Angeles County, Califórnia, 2013 - 5.5/10

A partir de fotografias tiradas por Russell Lee, ao abrigo de um programa federal de ajuda a agricultores afectados pela Grande Depressão que recolhia retratos de migrantes zonas rurais, Sílvia das Fadas constrói Square Dance, Los Angeles County, California, 2013 que recupera, de acordo com as emoções que as fotografias lhe suscitam, a vida e as relações destas pessoas. Um filme experimental que dança em conjunto com os rostos que vemos nas fotos que desfilam no ecrã. 

As Figuras Gravadas na Faca com a Seiva das Bananeiras - 5/10

As Figuras Gravadas na Faca com a Seiva das Bananeiras (o vencedor da Competição de Curtas-metragens desta 11ª edição do IndieLisboa) recupera a memória colonial em postais trocados, nos anos 60 e 70, entre a Ilha da Madeira e Moçambique. As boas intenções de Joana Pimenta não vão contudo além de um filme que poderia dar-nos mais do que aquilo que apresenta. Falta-lhe contexto e uma narração menos monótona, por exemplo.

Antero - 5/10

Um homem que acabou de sair da prisão onde passou os últimos anos regressa à sua aldeia movido por um desejo de vingança que o ajude a recuperar a sua dignidade. Ele procura Antero, mas as notícias que recebe não são as que esperava. O excelente desempenho de Cláudio da Silva como protagonista não chega para desculpar a inexistente conclusão de Antero. Ico Costa parte de uma interessante premissa que deixa a plateia curiosa, mas no fim, um vazio e a desilusão instala-se. De elogiar ainda assim é o trabalho de realização que nos presenteia com um bom plano sequência logo ao início da curta-metragem.

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