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sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Crítica: Ciúme / La jalousie (2013)

*6.5/10*

Ciúme é um belo exercício de estilo, a preto e branco, envolvente mas sem convicção. Sente-se a ternura que Philippe Garrel colocou na sua longa-metragem. Um toque clássico no ambiente, no tom, no visual. Mas falta-lhe, essencialmente, fôlego e rumo.

Louis (Louis Garrel) é um homem de 30 anos que vive com uma mulher, Claudia, num pequeno apartamento arrendado. Ele tem uma filha com outra mulher - uma mulher que ele abandonou. É este o mote que nos leva a entrar nas vidas destas personagens, numa história que nos faz deambular entre traições, flirts, medos, interrogações, obsessão, ciúme, paixão e amor. São relações entre pessoas, numa tentativa mais ou menos realista de retratar a alegria e a tristeza, que peca principalmente pelas personagens pouco cativantes e pelas suas decisões injustificadas. As fraquezas do argumento são visíveis no decorrer dos 77 minutos, com a história deste casal a perder-se em si mesma.


Os protagonistas, Louis Garrel e Anna Mouglalis, oferecem-nos ainda assim boas interpretações, tentando colmatar as falhas dos seus Louis e Claudia, com entrega e intensificando a estranha obsessão que nutrem um pelo outro e os seus medos. Eles contribuem para adensar as diferenças entre o homem e a mulher desta relação, que poderão ser um ponto curioso de descobrir ao longo da longa-metragem, dotando-a de um certo carácter circular.

Ciúme não apaixona, mas embala o espectador no seu ritmo e, no fim, desilude, é certo. No entanto, e apesar dos seus pontos fracos, o filme tem um toque especial que nos liga a si, e nos faz esperar sempre um pouco mais do que nos dá, uma simplicidade e sensibilidade singulares e uma melancolia latente.

São os movimentos de câmara intimistas, e alguns planos especialmente bem conseguidos, que nos aproximam do casal e daqueles que os rodeiam. Colocam-nos naquela casa, no café, no teatro, no jardim... Aproximam-nos das personagens por quem não nutrimos especial empatia mas, não sabemos bem por quê, desejamos seguir de perto. O preto e branco adensa o ambiente triste e nostálgico, aliado ao grão que os mais atentos depressa encontrarão na imagem, lembrando que Ciúme foi filmado em 35 mm. A fotografia, de Willy Kurant, é competente e tira todo o proveito do preto e branco e a banda sonora de Jean-Louis Aubert encaixa na tristeza que paira desde o início.


Ciúme é essencialmente belo, mesmo que nada realmente significativo aconteça no ecrã. Todavia, Philippe Garrel transmite-nos totalmente o seu amor por este trabalho e esse é certamente um elemento que o torna especial.

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