segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Crítica: 45 Anos / 45 Years (2015)

*8.5/10*

Com uma interpretação fabulosa de Charlotte Rampling, 45 Anos traz-nos a prova de como o amor pode trazer surpresas em todas as idades e como os segredos podem transformar uma relação. O ciúme não é linear e, afinal, há alguma idade limite para poder recomeçar?


Falta apenas uma semana para o 45.º aniversário de casamento de Kate Mercer (Charlotte Rampling) e o planeamento da festa está a correr bem. Contudo, a chegada de uma carta para o seu marido, Geoff (Tom Courtenay), pode mudar tudo. O cadáver do seu primeiro amor foi descoberto, congelado e conservado nos glaciares dos Alpes suíços...

A inesperada notícia condiciona o desenvolvimento de todo o filme, que percorre os dias que faltam até ao Sábado da comemoração. Os dias da semana dividem o filme numa espécie de capítulos que retratam as mudanças bruscas que a relação de Kate e Geoff vai sofrendo, os seus altos e baixos, a sua intimidade, os segredos que ainda escondem, as revelações que condicionam comportamentos e despoletam sentimentos que lhes são estranhos. Foram precisos 45 anos casados para o passado vir atormentar-los.


E é a partir deste argumento que se constrói 45 Anos, que vive dos dois protagonistas, mas igualmente do ambiente em que o realizador Andrew Haigh os insere e na forma como os conduz neste drama. Os personagens estão carregados de realismo. Geoff parece perdido e nostálgico com a chegada da carta impulsionadora do possível desmoronamento do seu casamento. Todavia, as memórias de um amor passado vêm ao de cima e sobrepõem-se até à consciência da degradação da sua relação com a mulher. Geoff parece confuso e distante, agarra-se ao passado no decorrer daquela semana tão importante para o casal. E, no meio do turbilhão de sentimentos, continua a amar a mulher. Tom Courtenay confere-lhe esta fragilidade e melancolia latente, bem como a comoção e o amor despreocupado.

Mas é Charlotte Rampling e a sua Kate que consegue chegar mais perto do público. A sua personalidade calma, tranquila, é perturbada por um estranho ciúme de um passado que não é o seu. Ainda assim, o sentimento de posse inerente ao seu casamento vem ao de cima e todas as recordações do  marido a deixam devastada, magoada, perdida. Sem exteriorizar, sabemos exactamente o que Kate sente. O seu rosto não nos engana entre os sorrisos de ocasião: ela está em grande sofrimento. O amor transforma-se e o dia mais importante daquele ano poderá ficar marcado por sentimentos negativos. A menos que se possa começar de novo.


Os planos fixos ou de movimento muito subtil convidam a entrar nos pensamentos e introspecção dos protagonistas. Os segredos de Geoff, agora revelados, e as transformações em Kate são retratados em cores suaves, a condizer com os cenários e decoração bucólica.

45 Anos explora um outro lado das relações, numa idade que não é tão comum ver explorada no cinema. Felizmente, Andrew Haigh não teve medo da história que tinha em mãos, teve a coragem necessária para a filmar com realismo e com os dois protagonistas certos.

1 comentário:

Ana Cecilia disse...

Gostei desse filme e, mas fiquei triste ao constatar a fragilidade do amor.