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sábado, 5 de novembro de 2016

LEFFEST'16: Essential Killing – Matar para Viver (2010)

*6.5/10*

Do conceituado realizador polaco Jerzy Skolimowski (The Departure, 1967; The Shout, 1978; Moonlighting, 1982; The Light Ship, 1985), este filme é um thriller perturbador, onde a luta pela sobrevivência se sobrepõe a qualquer outro valor e onde os instintos mais primitivos vêm ao de cima (como o próprio título indica). Apesar da temática da guerra estar inevitavelmente presente, bem como as questões políticas a si associadas, estas não são, de todo, a alma do filme.

A fotografia e os cenários deslumbrantes, a que se junta a realização de Skolimowski e a incrível interpretação de Vincent Gallo, fazem esquecer por momentos o argumento pouco forte, que deixa a desejar.

Essential Killing – Matar para Viver pretende mostrar Mohammed (Vincent Gallo) que, após matar três soldados americanos no Afeganistão, é capturado pelo exército americano e transferido para uma base militar na Europa. Contudo, a carrinha onde é transportado despista-se e Mohammed consegue fugir, refugiando-se numa floresta gelada, onde terá de lutar pela sobrevivência, tentando escapar do exército que o continua a querer capturar, ao mesmo tempo que tem de enfrentar outros perigos.


O argumento de Skolimowski e de Ewa Piaskowska, apesar de interessante, não se revela suficiente. Há muito pouca história e não se cria uma ligação ao protagonista que, a meu ver, seria necessária. Assiste-se a toda a luta de Mohammed pela sobrevivência, perante situações arrepiantes que, de uma forma ou de outra, irão mexer com as emoções de quem assiste, todavia, não se conhece a história do protagonista.

O seu passado é apresentado de forma muito ténue, através de flashbacks, recordando a mulher e o filho. Nada mais se sabe sobre o seu passado, se cometeu algum outro crime, não se percebe porque é que as tropas americanas o querem capturar vivo, que segredos ele saberá… Tudo isto são questões que se vão colocando e que nunca serão respondidas. Mais ainda, Essential Killing não dá quaisquer dados objectivos quanto ao espaço, apesar de ser intencional por parte do realizador, facto é que também não ajuda à compreensão do filme.


Quanto às questões políticas que, como referi, não são o que interessa “reter” aqui, elas estão presentes e não se lhes consegue ficar indiferente. A forma como os homens capturados são tratados (e torturados) dá que pensar e não deixa de levantar polémica.

Filmado em Israel, Polónia e Noruega, a longa-metragem apresenta cenários incríveis, tanto no que respeita às paisagens geladas europeias, como aos tons quentes do médio oriente. Aliada a isso, a direcção de fotografia, a cargo de Adam Sikora, está brilhante. A realização de Jerzy Skolimowski utiliza frequentemente a handcamera e proporciona uma experiência diferente ao público que, por vezes, está a “ver” o mesmo que o protagonista e, em outras, o segue. Vive-se o filme tão intensamente, ao ponto de se tornar “sufocante”, no melhor sentido possível.

A interpretação de Vincent Gallo é fabulosa, apesar de não lhe ouvirmos sequer uma fala. É surpreendente como o actor, apesar de não falar, consegue transmitir tudo o que é preciso. E, afinal, um homem à margem da sociedade, para quem tudo vale para sobreviver, precisaria dizer o que mais que as imagens já por si não dissessem? Trata-se de um desempenho forte, selvagem e perturbador.


Apesar de Essential Killing – Matar para Viver não ser brilhante, sendo o argumento o grande responsável pela desilusão que o filme pode provocar, há um conjunto de pontos fortes, principalmente em termos visuais, que valem a pena ser apreciados. Não é, claramente, um filme para todos, mas o choque que algumas cenas provocam apenas demonstra como o Homem pode tornar-se animalesco quando a sobrevivência está em jogo.

Texto originalmente publicado em https://espalhafactos.com/2011/06/23/missao-sobreviver/ a 23 de Julho de 2011, por ocasião da estreia comercial do filme. Recupero-o agora dada a sua exibição no LEFFEST'16, na Retrospectiva de Jerzy Skolimowski.

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