quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Crítica: Elementos Secretos / Hidden Figures (2016)

"Every time we get a chance to get ahead they move the finish line. Every time."
Mary Jackson
*7/10*


Elementos Secretos realça bem a segregação racial (e mesmo de género) que se vivia ainda nos anos 60, tratando um tema sensível com humor,  com os diálogos a assumirem um papel fulcral. Ao mesmo tempo, o filme de Theodore Melfi homenageia três importantes nomes femininos da História da NASA.

Seguimos o trabalho de Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monae) – três afro-americanas que trabalham na NASA e são os cérebros por trás de uma das maiores operações da história: o lançamento do astronauta John Glenn para a órbita, feito que restaurou a confiança dos norte-americanos e agitou a Corrida Espacial.


Preconceitos de sexo ou raça são deitados por terra com o bom argumento de Elementos Secretos. Uma adaptação competente que, apesar de insistir em alguns clichés e acentuar, mais ainda, atitudes discriminatórias, mostra-se de grande importância para demarcar a igualdade e a luta destas mulheres pelos seus direitos. Há que lembrar estas três grandes primeiras mulheres a destacarem-se na NASA pela sua competência e inteligência, não importa a cor da pele.

Ao mesmo tempo que é um filme para os norte-americanos, Elementos Secretos sabe como ser igualmente um filme para o mundo. Ao relatar com detalhe e sem exaustão os pormenores do lado americano na corrida ao espaço, há uma contextualização histórica tão completa como interessante, onde se recorre a imagens de arquivo da época, seja dos astronautas ou mesmo do presidente John F. Kennedy.


Theodore Melfi oferece-nos um filme muito ritmado, com a banda sonora a acentuar o ritmo da montagem. Ao mesmo tempo, Elementos Secretos ganha mais vida com excelente trabalho da direcção artística, numa bela representação dos anos 60 nos EUA, e guarda-roupa.

Dos batons garridos aos vestidos coloridos, estas mulheres dão cor, conhecimento e animação à NASA "so white". E que personalidade conferem as três actrizes às suas personagens. Taraji P. HensonOctavia Spencer e Janelle Monáe são estrondosas e encantadoras como Katherine G. Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, respectivamente.

As três dão brilho, vivacidade e perspicácia à longa-metragem e é impossível dizer qual delas está melhor. Taraji é a protagonista que sabe impor a sua presença e conhecimento numa sala onde os homens brancos querem deter o poder. Bonita e inteligente, apesar de inicialmente receosa em se fazer ouvir, depressa toma consciência que a vida de muitos depende de si. Octavia Spencer é a matemática mais comedida, que menos ondas quer levantar. Contudo, a revolta que sente por fazer o trabalho de supervisora mas não ganhar como tal fá-la querer mudar e ultrapassar os seus receios. Janelle Monáe é a mais jovem mas também mais emancipada das três. Sem papas na língua, ela luta por todos os meios que lhe são possíveis para se tornar engenheira, enfrentando família e sociedade. As três mulheres arriscam e lutam pela igualdade de direitos, contagiando-nos com a sua alegria e garra.


Actualmente, num momento sociopolítico tão instável e incerto para o ocidente, Elementos Secretos é uma excelente forma de relembrar que a História foi feita por todos.

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