sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Crítica: mãe! / mother! (2017)

"I wanna make a Paradise." 
Mother

*4/10*

Darren Aronofsky atingiu o limite do pretensiosismo. mãe! é o novo projecto do realizador que parece trazer um certo terror psicológico, ao estilo de Cisne Negro, de regresso à sua obra, mas aparências iludem. O realizador apresenta um filme circular para o qual parece ter apenas uma interpretação: a sua, não permitindo à plateia fazer outras leituras.

Embalado por Noé - ou não -, Aronofsky mostra-se um pouco obcecado pela Bíblia nas suas intenções com este mãe! e apresenta ao público uma espécie de filme de terror que se vai desfazendo em cinzas. O lugar da mulher - que ainda por cima dá título ao filme - é relegado para um plano pouco simpático.

mãe! conta a história de um casal (Jennifer Lawrence e Javier Bardem) cuja relação é colocada à prova quando a visita de hóspedes estranhos vem afectar a sua convivência tranquila.


Depois do mais comercial Noé, mãe! é acima de tudo, um filme de autor. Estão lá muitas marcas do cinema de Aronofsky, que, contudo, parece ter perdido a inspiração que pôs em prática até Cisne Negro. Neste filme, a câmara continua a seguir as personagens de costas, os distúrbios psicológicos continuam a tomar conta delas, mas pouco mais se extrai. Ou melhor, os acontecimentos são tantos e em tal enxurrada que se torna difícil acompanhar. Muitas ideias, muita informação, muitas interpretações, momentos macabros, um autêntico caos e, no final, pouco mais fica do que o choque pela perda de tempo e um ligeiro tédio.

Do escritor com um bloqueio criativo, à mulher devota que tudo faz para agradar ao marido, passando pela enorme casa isolada que, de repente, recebe a visita de estranhos, ou mesmo a questão da maternidade, tudo são ideias interessantes - mas já muito exploradas no cinema - lançadas pelo realizador. A referência mais clara é a Roman Polanski e ao seu A Semente do Diabo (Rosemary's Baby), por exemplo. Mas nem perto nem longe dessa obra mãe! consegue chegar.


Javier Bardem está à vontade na pele do protagonista masculino com quem é difícil simpatizar. Jennifer Lawrence é digna de pena por lhe terem dado uma personagem que, para lá da coragem em explorar a casa e seus mistérios, não tem muito mais que se lhe diga, para além de agradar ao marido, chorar e gritar. A relação que parece criar com a casa que está a recuperar é um ponto de partida interessante, mas depressa perde o encanto. A actriz tem uma interpretação fraca, mas a personagem é a principal culpada por isso.

Darren Aronofsky acha-se dono da razão, por ser o autor de mãe!, mas nenhum realizador deve tomar o espectador por parvo e impingir-lhe a sua leitura da obra - como tem feito ao explicar quem é quem e o que isto ou aquilo significa. Não vão na sua conversa, porque aqui há muito para interpretar, apesar de pouco para retirar. O filme é dele, mas as leituras são nossas, é essa a magia do cinema. Este será, certamente, um filme para amar ou odiar.

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