segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Crítica: Chama-me Pelo Teu Nome / Call Me By Your Name (2017)

"Call me by your name and I'll call you by mine." 
Oliver

*6.5/10*

Chama-me Pelo Teu Nome é um filme subtil, repleto de sensibilidade. Luca Guadagnino mergulha num romance que marca o final da adolescência e a descoberta da sexualidade. Uma longa-metragem bucólica, cheia de sentimentos e emoções.

É um filme que apela aos sentidos e à liberdade, com um argumento tímido, mas de momentos marcantes. Tudo acontece no Verão de 1983, no norte de Itália. Elio Perlman (Timothée Chalamet), um precoce rapaz italo-americano de 17 anos, passa as férias na casa de família, uma mansão do século XVII, a transcrever e tocar música, a ler e a nadar. Elio tem uma relação próxima com o seu pai (Michael Stuhlbarg), um famoso professor especializado em cultura greco-romana, e a sua mãe Annella (Amira Casar), tradutora. Apesar da sua educação sofisticada e talento natural, Elio continua a ser bastante inocente, principalmente em assuntos do coração. Tudo muda quando chega Oliver (Armie Hammer), um aluno do Mr. Perlman, para passar uma temporada com a família e ajudar o professor nas suas pesquisas.


Ouvimos falar em várias línguas, inglês, francês, italiano, alemão, viajamos à Grécia antiga durante os estudos de Oliver e do pai de Elio, ouvimos tocar piano e guitarra, estamos envoltos em cultura, na casa de uma família moderna em tempos ainda pouco liberais. Dois jovens, com muito mais em comum do que Elio parece sentir ao início, cruzam-se: ambos judeus, cultos, inteligentes e apaixonados.

Há um lirismo romântico a pairar sobre Chama-me Pelo Teu Nome. Tem momentos brilhantes, normalmente potenciados por um longo plano-sequência. Guadagnino filma cenas tão boas como uma conversa entre pai e filho, momentos de partilha e intimidade entre Elio e Oliver (onde não são as palavras que mais falam), a festa em que estão a dançar com amigos e surgem os ciúmes, ou os momentos de introspecção, em casa ou no campo. Por outro lado, há situações delicodoces que resultam em momentos pouco conseguidos, e dão um grande desequilíbrio ao filme. Sejam cenas banais, curtas ou de corte ríspido, que nada acrescentam, clichés românticos ou mesmo ocasionais encontros com amigos.


Visualmente, Luca Guadagnino tira partido de filmar em película, ao aproveitar a luz da melhor forma, e deixando passar para os espectadores os encantos do 35mm. A banda sonora é outro ponto forte, com temas a condizer com a época e outros com o ambiente e emoções das personagens.

Timothée Chalamet retrata a inocência, os medos e a arrogância típicas da adolescência, a par da curiosidade imensa pelo que o rodeia. Como Elio, ele interioriza as dúvidas e a paixão avassaladora que é este primeiro amor. Vive e sofre com a mesma ânsia e deixa-nos arrebatados com uma interpretação tão adulta. Michael Stuhlbarg faz de seu pai, um homem tolerante, muito à frente no seu tempo, com imensa consciência do que o rodeia. O actor tem um papel pequeno mas enche o ecrã quando surge. Por fim, destaque para Armie Hammer, o sensual e independente aluno de Mr. Perlman, Oliver. Ele é um homem bonito e interessante, trabalhador e misterioso, desperta a curiosidade de todos que com ele se cruzam. Curiosamente, nas reuniões com Perlman, Oliver muito se assemelha às estátuas gregas que estão a analisar e que parecem desafiá-los "a desejá-las".


Entre esta e outras simbologias (os pêssegos!), Luca Guadagnino constrói uma bela história de amor que só peca por não se centrar mais nos protagonistas e no ambiente que os rodeia.

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