sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Crítica: The Florida Project (2017)

"These are the rooms we're not supposed to go in... But let's go anyways!"
Moonee

*7/10*

A dura realidade que se esconde por detrás das cores vivas e da alegria da Disney é pintada em tons de lilás em The Florida Project, um elogio à infância sem regras e onde a liberdade é a rainha. Sean Baker parece querer deixar a sua marca no cinema como um realizador humanista, ao filmar sem preconceitos.

A ausência de regras faz da infância das crianças deste filme um pouco menos inocente e muito mais vivida, onde a alegria reside nas mais pequenas e simples experiências.


Tudo acontece em Orlando, Florida. Local por onde passam milhões de turistas todos os anos, um reino mágico rodeado de incontáveis parques temáticos, jantares com espectáculos e estâncias de férias. Mas a escassos passos desta área de deslumbramento e felicidade, decorre uma história bem diferente. A história de uma precoce menina de seis anos e do seu grupo de amigos numas férias de Verão cheias de assombro infantil, possibilidades e um sentimento de aventura, enquanto os adultos à sua volta lutam para sobreviver.

The Florida Project é um filme visualmente cativante, que explode num contraste de cores vivas e alegres a lembrar os castelos da vizinha Disney, com a paradoxal realidade decadente e infeliz, onde são as crianças que ainda a iluminam. Há um retrato sócio-económico indissociável desta longa-metragem, que dá a conhecer este outro lado da Disney World, onde a pobreza e o desencanto espreitam.

A fantasia, os sonhos, os riscos que não existem para crianças de seis anos, a vontade de explorar, a ausência de vergonha para pedir uns trocos e dividir um gelado, a linguagem vulgar de adultos que sai como farpas da boca de crianças. São estes os encantos do naturalismo com que Sean Baker filma.

A história que rodeia a família da pequena protagonista é revoltante de tão verosímil, por haver realmente casos como o seu. A mãe irresponsável e vulgar, de vocabulário e modos grosseiros, que ama a filha mas não tem maturidade suficiente para fazer as escolhas certas. The Florida Project peca por essa vulgaridade, mas ganha por tentar contá-la como se fosse um conto de fadas.

Visualmente, The Florida Project é um mar de cores, com tons garridos a contrastar com a narrativa pesada e degradante. A direcção de fotografia faz um bom trabalho e capta planos bastante intensos.

No elenco, destaca-se o nomeado para Melhor Actor Secundário, Willem Dafoe, na pele do apaziguador gerente do motel. Ele é o responsável por manter a ordem e por que tudo funcione e, ao mesmo tempo, é um pai para grande parte dos hóspedes - com os seus próprios dramas a pairar muito superficialmente. Mas o grande desempenho é mesmo o da pequena Brooklynn Prince, com uma energia e à vontade imensos para actriz tão jovem.


The Florida Project é um conto de fadas que pode não ter um final feliz, mas traz ao cinema actual um realismo impressionante pintado a cores vivas e onde a felicidade é proporcionada por uma liberdade sobre a qual raramente reflectimos.

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