segunda-feira, 9 de abril de 2018

Crítica: Aniquilação / Annihilation (2018)

"It's not destroying... It's making something new."

*8.5/10*

Infelizmente, Aniquilação não chega até nós numa tela de cinema, mas apenas no pequeno ecrã, graças à Netflix. As críticas negativas vão desta feita todas para a Paramount, a responsável pela exclusão da longa-metragem das salas de cinema do mundo. Perde-se a hipótese de ver este surpreendente filme de ficção científica num ecrã à sua medida. 

Ainda assim, há que agradecer - e muito - a Alex Garland pela adaptação cinematográfica do romance de Jeff VanderMeer. Depois de Ex-Machina, as expectativas só podiam ser elevadas - e o realizador não desapontou. Garland continua a saber fundir inteligência e adrenalina como ninguém, enquanto homenageia autores de outros tempos, onde Stanley Kubrick é um dos mais evidentes, com o seu 2001: Odisseia no Espaço.


Quando o marido regressa após muitos meses desaparecido durante uma missão secreta, a bióloga Lena embarca numa expedição a uma misteriosa região isolada pelo Governo dos EUA, conhecida como The Shimmer (o Brilho).

Depois de tantos falharem, são cinco mulheres que partem para descobrir o que realmente se passa naquela zona iluminada e onde nada funciona como no "mundo real". Lena, VentressAnya ThorensenCass Sheppard e Josie Radek são as aventureiras sem nada a perder que querem chegar ao farol e desvendar o mistério que a floresta esconde.


O desconhecido paira como um fantasma sobre a acção e personagens, todas elas com algum potencial de background - nenhuma é feliz. Desde o início que nos espicaçam a curiosidade, ao apresentar uma mulher, supostamente viúva, que vê o seu marido regressar muito diferente de quando partiu. Depois é só deixar-nos levar e ficar tão confusos e com a genética alterada (salvo seja) como as personagens.

Assistimos à Natureza em mutação, e poucas coisas poderão ser mais assustadoras que isto. As cientistas aventuram-se nas profundezas do Brilho e a banda sonora acompanha a estranheza do ambiente. Música e efeitos visuais deixam-nos atordoados, confusos e assustados, tal como às cinco protagonistas. Surgem novas sensações, experiências e medos. O Brilho faz igualmente vir ao de cima o pior de cada um, em desespero de causa. E a autodestruição, de que Ventress fala a certo momento, parece começar assim que as cinco mulheres passam a fronteira.


Com um elenco fortemente feminino, Oscar Isaac é o homem entre as mulheres, com um papel importante mas pouco exigente, e facilmente é ofuscado pelas cinco exploradoras interpretadas por Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Gina Rodriguez, Tessa Thompson e Tuva Novotny. Portman e Leigh são intensas e duras, convictas e sem receios de seguir em frente. Seguem-nas de perto as interpretações de Rodriguez e Thompson, menos exigentes mas não menos entusiasmantes. As cinco actrizes resultam num grupo forte e heterogéneo. 

Aniquilação leva-nos a mergulhar entre alucinações, pesadelos, mutações, ecos e as misteriosas tatuagens, seres em mutação, na descoberta de uma dimensão que não parece ser a que conhecemos. O objectivo é só um, chegar ao farol - o foco do Brilho - e voltar para contar a história. Nesta jornada vamos também perceber que a diferença entre destruição e criação não é assim tão grande.


Alex Garland promete marcar a ficção científica contemporânea a sabemos que será pela positiva.  Dois filmes enquanto realizador, duas apostas ganhas. Esperemos que fique para a História e que continue com a mesma inspiração, coragem e persistência que hoje tem.

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