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quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Crítica: BlacKkKlansman: O Infiltrado (2018)

"All power to all people."
Kwame Ture


*8/10*

BlacKkKlansman é um entusiasmante relato de uma história real, quase inacreditável - e por isso mesmo tão genial. Spike Lee usa uma estética muito própria com uma acção ritmada e viciante.

A longa-metragem passa-se nos anos 70 mas é especialmente actual ao tocar as tensões raciais, políticas e sociais nos Estados Unidos, que também se têm reacendido desde o início da administração Trump.

Ron Stallworth (John David Washington), o primeiro detective afro-americano do Departamento da Polícia de Colorado Springs, contacta o Ku Klux Klan por telefone, fazendo-se passar por um racista extremista, e consegue infiltrar-se numa das maiores e mais sórdidas organizações racistas dos EUA. O colega de Ron, Flip Zimmerman (Adam Driver) faz-se passar por ele nos encontros cara-a-cara com os membros do grupo, recolhendo informações para um plano mortal.


A partilha de identidade entre o polícia negro e o polícia branco desencadeia os momentos mais bem concretizados do filme, com Adam Driver a destacar-se no papel do judeu, que pouco se importa com as suas raízes, até se confrontar com o ódio desmedido. Há uma tomada de consciência que Driver sabe incorporar com realismo. Ao seu lado, John David Washington sai-se bem num papel, acima de tudo, divertido, e apresenta um homem que desafiou preconceitos e se assumiu tão ou mais capaz que os outros. O respeito conquista-se e Ron Stallworth mostra isso mesmo.

O menos positivo em BlacKkKlansman é talvez o facto dos "maus da fita" serem apresentados como muito pouco inteligentes. Certo é que tal muito contribui para os momentos de humor do filme, mas é pouco credível que quase todos os membros do KKK sejam tão idiotas, construídos como uns bonecos cheios de clichés. A sua ideologia é uma aberração, mas eles não têm de ser obrigatoriamente burros.


Spike Lee regressa à película, utilizando 16 mm e 35 mm, fazendo ressurgir mais ainda a época dos acontecimentos no grande ecrã, entre manifestações, tensões raciais e a arriscada investigação policial.

BlacKkKlansman é entretenimento do bom e ainda dá uma lição de História e de valores a todos. Bem feito Spike Lee.

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