quarta-feira, 1 de maio de 2019

Crítica: Até Que o Porno nos Separe / Until Porn Do Us Part (2018)

"Aceitei-te como eras. Agora aceitar a tua profissão, isso nunca!"
Eulália


*8/10*

Jorge Pelicano filma, com uma proximidade incomum, temáticas delicadas, e Até Que o Porno nos Separe sobe a parada. A família e o preconceito são o foco do documentário que é, sobretudo, Amor.

Eulália, uma mãe de 65 anos, católica e conservadora, descobriu através da Internet que o seu filho, emigrante na Alemanha, tornou-se no primeiro actor porno gay português premiado internacionalmente: Fostter Riviera. Com computador e Facebook como únicas formas de comunicação com o filho, Eulália começa uma longa jornada emocional de tentativa de aproximação ao filho, que a levará a interpretar de forma diferente as suas expectativas como mãe e os valores com que foi criada.


A luta interna de Eulália reflecte um sofrimento terrível, entre  o desgosto e conflito que sente, com as suas crenças e preconceitos a chocar de frente com o estilo de vida do seu mais-que-tudo, e, mais ainda, ao lidar com o afastamento e rejeição em que o filho a coloca. Sydney, por seu lado, também sofre em silêncio, com uma necessidade de solidão que contrasta com a vida que publica nas redes sociais - mais um interessante paradoxo dos dias de hoje, em que todos parecem ter duas vidas, real e virtual.

A obsessão da mãe - um amor sem limites que a faz chorar - leva-a contudo a uma superação inacreditável que testemunhamos ao longo de Até Que o Porno nos Separe. Mãe e filho aprendem mutuamente a compreenderem-se e a aceitarem-se, tornando-se complemento um do outro.


Com uma pequena equipa, Jorge Pelicano acompanha os dias agitados e as noites perdidas em frente ao computador de Eulália, e os dias de Sydney, entre filmagens, entrevista de emprego e pensamentos. A história é-nos assim contada, ao acompanhar os dois, em Portugal e na Alemanha, nas redes sociais de Sydney e através das mensagens trocadas entre mãe e filho, desde 2013.

O realizador trata a pornografia no cinema pelo lado da família dos actores e actrizes. Perto do final do filme, há uma conversa entre Sydney e uma actriz porno que diz muito sobre esta ligação de sangue e amor.

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