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domingo, 12 de maio de 2019

IndieLisboa'19: Divino Amor (2019)

*5.5/10*


É com os néons do filme anterior (Boi Néon) que começa Divino Amor, o novo trabalho de Gabriel Mascaro, que fez parte da secção Herói Independente do IndieLisboa'19. No entanto, está muitos pontos abaixo do seu antecessor, num registo diferente.

A crítica política e religiosa é mais que evidente, no meio desta distopia brasileira que o realizador criou. Se, actualmente, apesar das ligações à religião que associamos ao Governo de Bolsonaro (não esquecer o lema "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos"), o Brasil é um Estado laico, a visão pessimista retratada em Divino Amor é que num futuro próximo, 2027, o país seria um Estado Religioso.

Apresentam-nos Joana (Dira Paes), uma mulher profundamente religiosa, que usa a sua posição num notário para tentar prevenir o divórcio de casais. Ansiando por um sinal divino como reconhecimento dos seus esforços, vê-se confrontada com uma crise que a colocará mais perto de Deus.


Divino Amor arranca muito bem, num mergulho no mar da ficção científica. A estranheza que se sente com o que vemos e ouvimos a narração contar aguça a curiosidade. Mas, a certo momento, perde o fôlego, com a crítica inicial, tão poderosa, a anular-se e começar a perder o sentido. Algumas das contradições que surgem são totalmente certeiras na crítica acesa que o filme faz, contudo, outras opções mostram o contrário daquilo que o humor mordaz de Gabriel Mascaro vem a defender.

Joana é só mais uma das pessoas daquela espécie de seita que se reúne para um culto ao amor e ao deus que eles defendem. A realidade deste Brasil distópico não é explorada para além do circulo de Joana e esse é um dos grandes desencantamentos do filme.

Visualmente, há planos marcantes, e a direcção de fotografia tem bons momentos, com as cores neón e o fumo a sobressaírem. A direcção artística também é de destacar, onde existe um drive in especialmente bem concretizado - um dos melhores momentos de humor do filme de Mascaro. A banda sonora que nos acompanha desde os créditos iniciais é viciante e outro dos pontos mais fortes de Divino Amor.


Gabriel Mascaro está cheio de ideias a borbulhar, mas precisa voltar a pô-las em ordem. O sentimento foi de desencanto, não tanto com o triste mundo que criou, mas com o resultado de Divino Amor.

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