terça-feira, 23 de julho de 2019

Crítica: Tony (2019)

"Nunca quis ser imortal na música porque eu acho que ninguém fica na História"
Tony Carreira


*7/10*

Tony Carreira é um dos maiores (senão o maior) sucessos da música ligeira portuguesa. Salas de espectáculo cheias, autocarros de fãs que o seguem para todo o lado, e eis que surgem as acusações de plágio e o último concerto na Altice Arena, no final de 2018, que marca os 30 anos de carreira do cantor, mas igualmente uma pausa no mundo da música. Em Tony, o documentarista Jorge Pelicano explora estes dois lados da vida do cantor romântico, com testemunhos do próprio, de fãs, músicos e familiares.

Após  30  anos  de  canções,  Tony  Carreira  anuncia  uma  pausa  com que ninguém contava.  Os  fãs recusam-se a acreditar. Ao longo da digressão de 2018 até ao derradeiro concerto na Altice Arena, Tony defronta-se com o peso da sua decisão. Mas o que  leva,  na  verdade,  o  artista  português  a  tomar  a decisão de se afastar?

Ainda há poucos meses esteve em cartaz Até Que o Porno Nos Separe e já somos presentados com a estreia do mais recente e comercial filme de Jorge Pelicano. Tony revela-se um retrato íntimo e próximo do cantor, ao estilo do que o realizador nos tem habituado nos seus trabalhos anteriores. E, apesar da popularidade do protagonista, que torna também Tony num filme muito mais popular do que qualquer um dos precedentes, este é, efectivamente, um documentário equilibrado, e que exigiu muito trabalho de arquivo, com imagens inéditas, e a empatia da equipa, que acompanhou o cantor durante um ano. Portugal, França e Israel são os três países por onde a câmara de Pelicano acompanha os passos do cantor.


Entramos na intimidade de Tony Carreira, nos estúdios, nos bastidores exigentes, onde, de repente, tudo se torna inesperado. A ansiedade, antes de subir ao palco, os imprevistos, o stress e a correria por detrás do espectáculo. Tudo isto, lado a lado com as histórias dos fãs que encontram em Tony o medicamento que cura todos os males e desilusões (e o cinema de Pelicano no seu esplendor ao filmar uma plateia em lágrimas ou um autocarro cheio de gente que canta sem parar e faz quilómetros para estar com o seu ídolo e amigo). Mas o realizador não descura os momentos menos bons da carreira do cantor, das polémicas às desilusões, passando, claro, pelas acusações de plágio e a complicada relação com os media.

As origens humildes de Tony Carreira (nasceu em Armadouro, Pampilhosa da Serra) são-nos narradas por ele e pelos músicos com quem começou a tocar em França - o grupo de baile Irmãos 5 -, onde a vida de emigrante também não era fácil. Tony conta-nos o surgimento e ascensão de um caso pouco comum no panorama musical português. Porque, queiramos ou não admitir, é impossível encontrar comparação com o sucesso de Tony em Portugal. E enquanto recordamos o caminho percorrido até 2018, Jorge Pelicano consegue chegar ao âmago do cantor e filma a angústia que se parece ter apoderado dele no último ano e a mágoa que o leva à pausa sem prazo definido.


Dos primeiros bailes em França, passando depois pelo Olympia, em Paris, e a Altice Arena, em Lisboa, são mais de 30 anos contados em duas horas de filme. O documentário Tony está muito além de um elogio a um dos maiores sucessos nacionais. É, acima de tudo, um retrato sincero filmado por um documentarista com provas dadas.

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