quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Crítica: Até à Morte / Never Grow Old (2019)

*6/10*


Até à Morte, de Ivan Kavanagh, é um western duro, onde religião exacerbada e violência comandam as hostes. Emile Hirsch John Cusack interpretam as personagens principais: Patrick Tate e Dutch Albert.

Na pequena cidade de Garlow, nos Estados Unidos da América, em 1849, são as tradições religiosas e o reverendo que ditam as leis, e quem não concordar é praticamente excluído da sociedade. Todavia, com a chegada de Dutch Albert (John Cusack) e o seu gang, o poder passa da Igreja para as mãos de um grupo que mata quem ouse enfrentá-lo. Patrick Tate (Emile Hirsch), carpinteiro e coveiro da cidade, deve agora escolher entre receber dinheiro sujo para enterrar as vítimas dos homicidas ou fazer algo em relação às ameaças que ele e a sua família enfrentam.

É num cenário decadente, triste e sem vida, onde a lama e as cores escuras e frias abundam, que Até à Morte se desenrola. As características de western estão lá, não falta sequer um saloon, e a violência surge em crescendo. O trabalho da direcção de fotografia, com muitas sequências nocturnas, contribui em muito para adensar o ambiente de desolação e abandono a que aquela cidade está votada.


Contudo, o desejo de mudança paira, desde o início, sobre a família de Tate, que ambiciona uma vida melhor na Califórnia. Ele que veio da Irlanda (um entre os tantos imigrantes que formaram e continuam a formar a população dos EUA), adaptou-se à comunidade onde vive para ser melhor aceite, mas quer prosperar noutro lugar. A chegada de Dutch Albert e dos seus homens vem adiar os planos da jovem família, e traz à cidade o medo, transformando-a numa terra sem lei e com sucessivas mortes.

Apesar da construção da escalada de desalento e violência àquela cidade - numa América ainda muito jovem e já cheia de conflitos -, Até à Morte torna-se, por vezes, um tanto melodramático e até previsível - há que referir que a cena inicial apresenta-nos um momento decisivo da acção, sendo depois feita uma analepse que nos conta como tudo começou. 


O grande destaque do filme de Ivan Kavanagh vai para a interpretação de John Cusack, na pele de um homem frio e sem emoções, que apenas ambiciona poder. Crítico da religião ali praticada, parece assumir-se ele mesmo como Deus e xerife, já que ninguém parece ter coragem para o travar - e continuar vivo para contar a história.

Até à Morte reaviva o género western, construindo uma aura tensa e incómoda para o espectador, que poderá sempre tirar conclusões olhando para o que se passa nos Estados Unidos na actualidade.

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