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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Crítica: O Caso de Richard Jewell / Richard Jewell (2019)

"I'm sorry the world has gone insane."
Watson Bryant


*8/10*

Aos 89 anos, Clint Eastwood parece rejuvenescer enquanto realizador. Se em Correio de Droga o tínhamos visto renascer, deixando parcialmente de lado o seu patriotismo exacerbado (de Sniper Americano, por exemplo), a crítica ao Governo, forças de segurança e imprensa norte-americanos está ao rubro em O Caso de Richard Jewell. E este alerta não se cinge aos órgãos de poder, mas a toda uma sociedade que vive do imediato - se era assim em 1996, imaginemos nos dias que correm, com fake news à mistura...

Baseado em acontecimentos reais, O Caso de Richard Jewell conta a história do segurança que localizou a bomba no atentado de 1996 no Centennial Olympic Park, durante os Jogos Olímpicos de Atlanta. De herói, Richard Jewell (Paul Walter Hauser) torna-se, em  poucos  dias,  o  suspeito  número  um  do  FBI. Difamado  pela  imprensa  e pelo  público,  a  sua  vida  transforma-se  rapidamente  num pesadelo. Quando contrata o advogado Watson Bryant (Sam Rockwell), Jewell expressa convictamente a sua inocência. Contudo, Bryant vê-se em desvantagem para limpar e proteger o nome do seu cliente, enquanto tenta combater as autoridades e a imprensa.


Clint Eastwood constrói a acção com ritmo e entusiasmo, potenciados por um grande trabalho do director de fotografia Yves Bélanger - planos sequência, contra-picados, etc., numa diversidade de experiências visuais para a plateia.

O argumento de Billy Ray tem por base o artigo publicado na Vanity Fair, em 1997, American Nightmare: The Ballad of Richard Jewell, de Marie Brenner. Para além de contar a história da acusação injusta ao segurança, o filme faz-nos observar como, tantos anos depois, tudo continua na mesma. É fácil acusar sem julgamento - e sem provas, até. Foi assim com Richard Jewell, é assim com tantos casos, um pouco por todo o mundo. Se quem devia investigar ou defender os inocentes só se preocupa com a audiência ou com a rapidez em encontrar um culpado, em quem se pode confiar? Eis que Eastwood não poupa ninguém: Governos, polícias, jornalistas - e não nos fará pensar em nós mesmos?


Richard Jewell encaixava no perfil do criminoso que os investigadores queriam encontrar. Mas encaixava igualmente no perfil da vítima perfeita para humilhações e bullying. Um homem ingénuo, com peso a mais, solitário e com uma obsessiva vontade de agradar. Paul Walter Hauser tem um desempenho fabuloso na pele do protagonista. Para além das parecenças físicas, o sofrimento e a contenção que espelha revelam um grande actor. Ao seu lado, a "mãe" Kathy Bates, sempre talentosa, que em poucos minutos consegue comover e convencer qualquer um. Sam Rockwell tem uma prestação tão inusitada como aguerrida, na pele do advogado com o caso de uma vida nas mãos.

Polémicas à parte (a principal relacionada com a jornalista interpretada por Olivia Wilde), O Caso de Richard Jewell é um retrato relativamente fiel de um caso que envergonhou os Estados Unidos da América. E é Clint Eastwood a provar que a idade é só um número.

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