sábado, 22 de fevereiro de 2020

Crítica: The Cave (2019)

"As a doctor, I've witnesses so many tragedies, so much suffering. So many lies. It made us search for a way to survive."
Amani Ballour


*8/10*

No meio da guerra na Síria estão muitos rostos que vivem para salvar os seus semelhantes e ajudar quem mais precisa. Representam o lado que apenas quer a Paz. O lado da revolta, atacado por todas as frentes. Produzido pela National Geographic, The Cave esteve nomeado para o Oscar de Melhor Documentário.

Filmado entre 2016 e 2018, num cenário de bombardeamentos e ataques constantes, durante a guerra civil na Síria, The Cave retrata o dia-a-dia de uma equipa médica liderada pela Dra. Amani Ballour, que faz de tudo para salvar milhares de vidas debaixo da cidade, num hospital subterrâneo.

Medo e sustos são constantes e, por muitos meses que passem, o som das bombas continua a atormentar quem ali trabalha, mesmo que já faça parte da rotina. Feras Fayyad filma a verdadeira vocação e dedicação. Médicos e enfermeiros que não arredam pé daquele hospital debaixo de fogo, eles resistem e nunca se darão por vencidos.


A câmara percorre o cenário de destruição que rodeia o hospital, acompanha a médica em visitas a crianças doentes a casas de famílias numerosas, mas sem condições, e foge em passo de corrida para o interior do hospital quando os aviões se aproximam e o bombardeamento começa. The Cave está longe de ser um filme fácil, mas revela-se necessário. É preciso denunciar e resistir.

Entre o quotidiano do hospital, os piores dias mostram-nos uma realidade aterradora e difícil de confrontar. Crianças, mulheres e homens civis choram, bem como o pessoal médico. Vêem-se casos violentos, mortes prematuras. A morte é mesmo uma constante, mas as vidas que se salvam valem muito mais. São sinónimo de vitória. E, no meio de tanta dor, há também momentos de alegria.

Os recursos são muito limitados, a anestesia é a música que o Dr. Salim Namour põe a tocar no telemóvel enquanto opera, para tranquilizar os seus pacientes. Falta comida, por vezes a luz, e falta também pararem de bombardear o hospital.


The Cave mostra também o papel da mulher naquela sociedade ainda tão sexista e machista. Amani defende a sua visão. Para ela, todas as mulheres deveriam poder trabalhar, pois são úteis e poderiam ajudar muita gente - mais ainda em tempos de guerra. Amani celebra o seu 30.º aniversário naquele hospital e, mesmo perante a preocupação dos pais, sabe que o seu dever é estar onde está. O perigo que corre não a faz recuar. Fraqueja apenas aos ver a dor e desolação dos que a rodeiam e que não pode remediar.

Feras Fayyad trouxe-nos um filme pesado, forte, que retrata com crueza a desolação, mas com muita ternura a entrega e o amor incondicional dos profissionais à sua causa.

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