"This is the fuckin' American dream. "Alien
*3.5/10*
"Sexo, drogas e Britney Spears" podia ser o lema de Spring Breakers, um filme que se habilita fortemente a ganhar o título de desilusão do ano. Nem a mais interessante componente técnica desculparia o vazio argumentativo que paira sobre o novo filme de Harmony Korine.
Aquilo que poderia ser uma curiosa sátira social deixa-se contagiar por esse mesmo "sonho americano" que critica, numa cultura pop degradada e ilusória, onde perdura um machismo evidente e exagerado, e em que nada se extrai do conteúdo.
Quatro jovens (as meninas da Disney, Selena Gomez e Vanessa Hudgens, juntamente com Ashley Benson - uma das protagonistas da série Pretty Little Liars - e Rachel Korine) partem para a sua viagem de finalistas, depois de alguns percalços para conseguirem o dinheiro necessário para a fazer. No meio de um ambiente de festa e loucura as quatro vêem a sua vida complicar quando são detidas. Contudo, é quando Alien, um traficante de droga, surge no seu caminho que esta viagem toma um rumo inesperado.
O argumento, demasiado básico, não oferece nada de novo ao cinema como tanto se tinha feito anunciar. Spring Breakers sustenta-se no sexo sem limites, na loucura - quase sempre levada ao extremo dos exageros -, no consumo de álcool e drogas e em rixas entre gangs rivais. A sátira a este "ideal" dos adolescentes americanos cai por terra bem cedo, com o filme a querer agradar a públicos tão diferentes que cai numa repetição de ideias, de frases, de imagens, como se a plateia tivesse dificuldades cognitivas e não compreendesse os acontecimentos à primeira. A desconstrução que é feita é tão má que tudo o que, à partida, poderia dar bons resultados se perde em minutos.
O deslumbramento que as "meninas da Disney" (a partir daqui referir-me-ei assim às quatro protagonistas) demonstram não é aproveitado para mostrar o quão ilusório é esse "sonho americano", preferindo Korine apostar no mais fácil - o deslumbramento, sim, mas de um público que se quer alienado por sexo e machismo, do início ao fim. As mulheres que aqui vemos são pouco inteligentes, sem personalidade, imitações. Toda a nudez do filme é-nos proporcionada por elas: em momento algum vemos um homem mais "exposto", bem pelo contrário, eles subjugam-nas, tal como o realizador que insiste em planos do corpo feminino, sempre explorando a sexualidade - mas repetitiva e exacerbadamente. Nem mesmo com o final do filme, que poderia contrariar essa tendência, tal consegue ser minorado, de tão artificial e improvável que o mesmo é.
Verdade seja dita, tecnicamente, Spring Breakers está repleto de competência. Tem desde logo a seu favor o facto de ser filmado em 35mm, mas nem isso compensa a pobreza - e preguiça - de conteúdo que a longa-metragem demonstra. As cores explodem num universo alucinatório, espelhando a loucura em torno do álcool e das drogas, com uma fotografia genial - sob a direcção de Benoît Debie - e uma banda sonora a condizer - onde surge a princesa da pop Britney Spears (também ela ex-menina da Disney).
Ironicamente, é Britney Spears quem oferece a melhor cena de Spring Breakers - com James Franco ao piano a tocar Everytime para as três jovens que o acompanham. É este um dos poucos grandes momentos onde assistimos ao paradoxo, que poderia ter sido o grande foco deste filme, numa alternância entre esta imagem cómica, de um rapper traficante a cantar pop, e a violência do gang de Alien - repare-se que até do nome deste personagem poderia ter saído uma subtil crítica à alienação da juventude actual.
E nem os actores salvam o filme, com James Franco numa prestação mediana e as quatro jovens protagonistas - Selena Gomez como Faith, Vanessa Hudgens como Candy, Ashley Benson como Brit e Rachel Korine (esposa do realizador) como Cotty - sem merecer grande destaque. Ainda assim, Gomez e Korine são quem parecem sair-se melhor, conferindo alguma intensidade dramática às suas personagens. Total erro de casting foi Vanessa Hudgens que provou ter apenas uma expressão facial.
É impossível perdoar a Harmony Korine por ter desperdiçado uma ideia tão boa num filme tão fraco e vazio, que se traduz numa espécie de Morangos com Açúcar para adultos. E ao fim de contas, Spring Breakers será, provavelmente, um dos mais sobrevalorizados do ano, infelizmente.
Concordo com grande parte da crítica (que felizmente não conta com os spoilers que pediram para revelares). É a prova que estar na capa dos Cahiers du Cinéma não é sinónimo de qualidade.
ResponderEliminarSó discordo quando dizes que "se traduz numa espécie de Morangos com Açúcar para adultos". É que no Morangos com Açúcar, toda aquela banalidade ainda se justifica pelo facto dos argumentistas tentarem chegar a um público específico, aqui parece ser apenas o Harmony Korine a dizer "vejam eu sou rebelde".
Boa crítica.
Muito obrigada, Aníbal. Tens razão. Tanta rebeldia pedia um filme a sério e não um desperdício imperdoável de uma boa ideia.
ResponderEliminarCumprimentos cinéfilos.
Mamas e rabos. Rabos e mamas.
ResponderEliminarDrogas e álcool. Álcool e drogas.
VOLTA Larry Clark
É verdade, Sofia. O que é demais enjoa. E tanto mau gosto injustificado ainda pior.
ResponderEliminarCumprimentos cinéfilos.
concordo inteiramente com a critica, uma ideia boa, por isso fui ver o filme - boa fotografia (dito por uma leiga como eu mas vale o que vale) mas ao fim e ao cabo tão mau, tao vazio, tao repetitivo nas falas e cenas - exactamente como disseste, acham que o publico nao percebe à primeira? - enfim fiquei desapontada
ResponderEliminarJoana, 20 anos
Obrigada pelo comentário, Joana. Tens toda a razão, e a ideia merecia muito mais.
ResponderEliminarCumprimentos cinéfilos.
R: Não tens que agradecer :)
ResponderEliminarE a falta de maturidade de vocês as vezes me choca. Tendo eu meus dezesseis anos e com mais maturidade do que vocês.
ResponderEliminarA ideia era essa, a repetição as imagens, a falta de trabalho e a preguiça com as cenas. Korine nunca quis um filme rico em belezas ele queria mostrar realmente a alienação que esse tal sonho americano leva as pessoas, fazer de tudo por dinheiro, por diversão, por putaria? E quis mostrar que o quanto mais as pessoas aproveitam elas se confundem, a diversão com a felicidade, o sexo, o prazer com o amor.
J. Gomez:
ResponderEliminarNão me parece que haja aqui qualquer relação com maior ou menor maturidade. São opiniões, isso sim, e como tal, todas elas são válidas desde que devidamente justificadas.
Obrigada pelo comentário.
Concordo plenamente mal acabei de ver o filme fiz uma critica em voz alta para mim sozinha de tanta desilusão, porque é quase que frustrante passar uma hora e meia a ver um filme com alguma expectativa e depois se deparar com uma excessiva pobreza do argumento e com um filme estereotipado, dum machismo evidente. Eu sinceramente acho que é um dos piores que já vi nos últimos anos, mal acabei de ver vim ver criticas do filme e só tenho a dizer que estou total de acordo porque o argumentista e o realizador do filme estão a subestimar os espectadores em ''oferecer'' filme deste tipo claramente a estereotipar a adolescência e juventude americana e não só (porque não fizeram o filme só para a América) e acho que nem os ''gangstar's'' mereciam umas representações tão fracas, tão pobres e tão pejorativo, sem falar que a imagem do negro é completamente pejorada e também estereotipada, se calhar a ideia era mesmo enaltecer as meninas da Disney.
ResponderEliminarOlá, Inês! Eu estava procurando críticas sobre o filme "Spring Breakers" e encontrei a sua! E preciso dizer que você não foi muito feliz nela. "Spring Breakers" foi dirigido/criado por Harmony Korine, conhecido por fazer filmes realísticos e polêmicos. Apesar de ter AMADO o filme, preciso adimitir que o filme, sim, peca em alguns sentidos. Mas foi nesse aspecto que eu achei sua crítica muito sem sentido. Primeiramente, o fato de você ter dado 3.5 em 10 já prova que você não captou a mensagem do filme.A mensagem fica bem implícita, mas em hora nenhuma o filme foi fraco e vazio. Korine mostrou bravamente a realidade do novo conceito de liberdade dos jovens de hoje em dia, esse é o meio que eles usam para se sentirem mais vivos, e ele soube passar isso direitinho. Sobre o elenco, eu parei de ler sua crítica quando você diz que ter colocado a Vanessa Hudgens no filme foi um erro de casting. Pelo contrário. Ela foi a atriz que mais se entregou e se destacou, deixando todo mundo de boca aberta. Terçeiramente, você deveria corrigir sua frase: "Sexo, drogas e Britney Spears". Caso você não tenha reparado (o que é bem notável), o que mais tem no filme são as músicas do Skrillex, que na minha opinião, é o tempero do filme. Noto que a única coisa "fraca e vazia" aqui, certamente, é a sua crítica. Tenha uma boa noite! :)
ResponderEliminarLoide Reis, muito obrigada pelo comentário.
ResponderEliminar≈ H2O Meninas Sereias ≈, então parece que leu a crítica até ao fim. São opiniões.
J. Gomez me desculpe mas você conhece o diretor pessoalmente ? Porque esse filme é totalmente imaturo, a filmagem é boa como todas as críticas defendem, porém, a história é fraca demais. E me desculpe as meninas ao fim matando uma gangue ?? Tá fácil manter a paz hein. Muito bom para quem teoricamente não tinha treinamento só características de sociopatas. E me perdoe mas 16 anos ? Acho que muitos daqui tem vivências pessoais mais longas que você.
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