*7/10*
Em A Savana e a Montanha, o realizador Paulo Carneiro alia-se à população da aldeia de Covas do Barroso para dar voz cinematográfica a uma luta contra o Poder. Eis um filme de resistência numa época em que estes escasseiam, traduzido numa espécie de docuficção em jeito de "western musical".
"A comunidade de Covas do Barroso, no norte de Portugal, descobre que a empresa britânica Savannah Resources planeia construir a maior mina de lítio a céu aberto da Europa a poucos metros das suas casas. Diante dessa ameaça iminente, o Povo decide organizar-se para expulsar a empresa das suas terras."
Paulo Carneiro traz para o Cinema a realidade de uma pequena localidade em Trás-Os-Montes, dando visibilidade a uma luta quase silenciada pelos media e pelos Governos. A Savana e a Montanha é uma nova forma de cinema de intervenção. Junta uma equipa composta por profissionais e amadores para voltar a por na ordem do dia a indignação e luta de uma comunidade. É o povo - e o cinema - contra os governantes e as grandes empresas, para salvar a sua aldeia e o ambiente.
O realizador converte esta luta num western onde a música não falta (Carlos Libo trata das canções de intervenção), hiperbolizando o conflito real num enredo cinematográfico que não deixa para trás o lado reivindicativo.
Os habitantes de Covas do Barroso são os heróis, os indígenas que defendem as suas terras, numa batalha contra um perigoso e poderoso inimigo invisível, pelo menos fisicamente, na longa-metragem. As notícias na televisão, máquinas no terreno e as conversas entre personagens levam a compreender quem é o vilão: o cowboy da Savannah Resources e seus aliados.
Ao filmar em película de 16mm, Paulo Carneiro torna as imagens tão mais cinematográficas quanto realistas, tirando partido da beleza da paisagem, mas igualmente, do lado lúdico e ficcional do filme.
A mágoa da população, cuja luta ainda está longe de alcançar o resultado desejado, transforma-se em alento e alegria por ter Paulo Carneiro (já seu conhecido devido ao filme Bostofrio, où le ciel rejoint la terre, filmado numa aldeia vizinha) a trabalhar esta batalha com criatividade e algum humor.
A Savana e a Montanha é um filme de união, mas igualmente de confronto com a realidade. Um grito de revolta de um povo, que já não tem medo.
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