sexta-feira, 3 de maio de 2024
quinta-feira, 2 de maio de 2024
Crítica: Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo / Nu astepta prea mult de la sfârsitul lumii / Do Not Expect Too Much from the End of the World (2023)
*9/10*
Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo marca o regresso do mordaz e incisivo realizador romeno Radu Jude. Os problemas socio-económicos da Roménia são o centro da narrativa que, inevitavelmente, são igualmente identificáveis em tantos outros países.
"Uma assistente de produção, sobrecarregada e mal paga, tem que conduzir pela cidade de Bucareste para filmar castings para um vídeo de segurança no local de trabalho, encomendado por uma empresa multinacional. Quando um dos entrevistados faz uma declaração que desencadeia um escândalo, ela é forçada a reinventar toda a história."
Sempre pertinente e actual, Radu Jude nunca descura o seu estilo provocador e atento, com a ironia a dar voz às desigualdades e injustiças. Desta vez, Angela Raducani (numa fabulosa interpretação de Ilinca Manolache) é a guia desta aventura pelas ruas de Bucareste, percorrendo muitos quilómetros, com poucas horas de sono, muito café e música. De casa em casa, a assistente de produção conhece e regista o testemunho de vários trabalhadores vítimas da insegurança laboral.
Durante as horas vagas que não tem, Angela Raducani diverte-se - e tenta rentabilizar - nas suas redes sociais, criando uma personagem machista e ordinária, Bobita Ewing, que faz sucesso e lhe vale muitas visualizações e likes. Estas breves "pausas" da protagonista proporcionam os momentos mais caricatos e inesperados da longa-metragem, arrancando "risos culposos" à plateia - que no final do filme estará fã de Bobita.
E em todo este percurso, desde o casting, às reuniões com a empresa multinacional, até ao dia das filmagens (que culmina num delicioso tragicómico plano sequência), impera o cinismo das relações laborais e a necessidade que faz com que vítimas aceitem promover a segurança da sua empresa (que para eles não existiu) a troco de dinheiro, dando-se praticamente como culpados do mal que lhes aconteceu.
Com sequências a preto e branco, filmadas em película de 16mm, e a cores (curiosamente, durante a maior parte do filme, a cores estão apenas os excertos de Angela merge mai departe, e as stories de Bobita Ewing), o filme de Radu Jude distingue-se ainda pela montagem assertiva e essencial para a unidade fílmica.
O atrevimento de Radu Jude tem-no consolidado como um dos grandes realizadores da actualidade. Não Esperes Demasiado do Fim do Mundo é mais uma prova do génio do cineasta, um estrondo de sarcasmo que explora as fraquezas da realidade através da ficção.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
Estreias da Semana #612
terça-feira, 30 de abril de 2024
IndieLisboa 2024: Competição Internacional, Silvestre, Retrospectivas e Director's Cut
O IndieLisboa 2024 revelou a programação da secções Competição Internacional, Silvestre, Retrospectivas e Director's Cut. O festival lisboeta acontece de 23 de Maio a 2 de Junho, na Culturgest, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal, Cinema Fernando Lopes, Cinema São Jorge e Piscina Municipal da Penha de França.
Competição Internacional e Silvestre
A Competição Internacional do IndieLisboa 2024 conta com 12 longas e 34 curtas-metragens. Nas longas, destaque para El Auge Del Humano 3, de Eduardo Williams, que "usa um dispositivo original e intrusivo - a câmara de 360 graus - para explorar as inquietações de um grupo d e pessoas"; Rising up at Night, de Nelson Makengo, "visita Kinshasa, numa altura em que a República Democrática do Congo está envolta em turbulência", sendo que "o foco do filme é a construção de uma central elétrica, ao mesmo tempo que a cidade está com dificuldades de acesso a electricidade"; The Feeling That the Time for Doing Something Has Passed, de Joanna Arnow, onde a realizadora também "protagoniza, escreve, edita o filme"; Malqueridas, de Tana Gilbert, "debruça-se sobre uma comunidade chilena que vive uma existência invisível aos olhos da sociedade: a de mulheres na prisão"; Dormir de Olhos Abertos, de Nele Wohlatz, "é uma delicada e cómica série de enganos passada no Recife, Brasil, em que personagens — Kai e o seu coração partido, Fu Ang e as suas ambições para além da loja de chapéus de chuva, e Xiao Xin na sua torre de luxo a viver temporariamente enquanto emigrante — se vão encontrando e desencontrando não-linearmente, como se fosse uma colectânea de postais fragmentados"; e The Missing, animação de Carl Joseph Papa, aborda "o trauma, físico e emocional, e reconciliação".
Nas curtas-metragens, destaque para o filme de animação 27, de Flóra Anna Buda, vencedor da Palma de Ouro de Cannes em 2023, e "que aborda a repressão familiar como força castradora, até que um acidente de bicicleta vem alterar essa percepção"; Un movimiento extraño, de Francisco Lezama, que conquistou o Urso de Ouro para Melhor Curta-Metragem, "acompanha uma jovem argentina que trabalha como guarda num museu em Buenos Aires"; Les yeux verts, de Sacha Teboul, com Denis Lavant e Claire Denis, acompanha "um homem que perdeu a mulher e tem apenas as memórias e algumas cassetes de vídeo que o ajudam a lembrar-se de todos os detalhes dela". O uso e a relação com a Inteligência Artificial e o mundo digital é temática comum em vários filmes desta edição do festival: Diamond Himalaya, de Mila Olivier, "explora um nicho particular da Internet que gira em torno de itens de luxo, em particular a mala Birkin, da Hermès, um item difícil de adquirir pelo seu preço exorbitante"; Christmas, Every Day, de Faye Tsakas, apresenta "duas gémeas, ainda muito crianças", que "já possuem uma pegada super popular nas redes sociais, onde as suas experiências com maquilhagem e roupa são vistas por inúmeras pessoas em todo o mundo"; 512x512, de Arthur Chopin, tem como foco "as imagens geradas por IA"; e The Oasis I Deserve, de Inès Sieulle, "aborda o uso integrado de Inteligência Artificial em jogos e filmes, e incorpora imagens assim geradas, mas também conversas com um chatbot que nos revela todas as tendências e preconceitos do ser humano".
A selecção Silvestre apresenta oito longas e 14 curtas-metragens. Destaque para Between the Temples, de Nathan Silver, que "explora a crise existencial de Ben, um cantor numa sinagoga que está a perder a voz"; e A Traveler’s Needs, de Hong Sang-soo, protagonizado por Isabelle Huppert que interpreta uma "mulher francesa na Coreia do Sul, cujos comportamentos não são compreendidos por quem a rodeia".
La Chimera, de Alice Rohrwacher |
Nesta secção encontram-se também Mambar Pierrette, de Rosine Mbakam, que "acompanha uma costureira dos Camarões, mãe de três filhos, com um marido que não ajuda nas despesas, uma máquina que tem de reparar e clientes que regateiam o preço das indumentárias que cria"; Cidade; Campo, de Juliana Rojas, que "lida com a estranheza e inquietação das migrações, neste caso do campo para a cidade e vice-versa, e com todas as vicissitudes que as mudanças acarretam"; e ainda La Chimera, de Alice Rohrwacher, onde "Arthur, um jovem arqueólogo inglês, acaba envolvido com uma rede internacional de artefactos roubados".
Festa de Antecipação do IndieJúnior
A Festa de Antecipação do IndieJúnior acontece na tarde de 5 de Maio, dia da Mãe, "na Musa de Marvila, com uma sessão de curtas-metragens da última edição do festival, para maiores de 3 anos, que inclui o grande vencedor do Prémio do Público – A Poça da Maré. Há jogos, banhos de sol ao som de um dj-set, num terraço com escorregas e esplanada, para deleite de crianças e acompanhantes".
Retrospectivas + Director's Cut
No ano em que se comemoram os 50 anos sobre a Revolução dos Cravos, o IndieLisboa apresenta duas retrospectivas: a obra de Kamal Aljafari, realizador e artista visual palestiniano; e uma homenagem às Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do Movimento das Forças Armadas (MFA), com "a exibição de alguns dos filmes que foram mostrados nessas campanhas, de autores como Cinda Firestone e o Grupo SLON de Chris Marker, contextualizadas com as reportagens da RTP feitas à época, que mostram um país efervescente".
Os Homens Que Eu Tive, de Tereza Trautman |
Já secção Director’s Cut explora reflexões sobre cinema, filmes recuperados e recontextualizados, num diálogo entre passado e presente. Realizado por Tereza Trautman, em 1973, quando tinha 22 anos, em plena ditadura militar brasileira, Os Homens Que Eu Tive "questiona os padrões culturais rígidos da época, e o que era ou não permitido a uma mulher. O filme, recuperado pela Cinemateca Brasileira, é um soft-core feminista corajoso, visto à época como uma ameaça moral aos valores da família patriarcal burguesa". Já R21 aka Restoring Solidarity, de Mohanad Yaqubi, "recupera, a partir de um conjunto de 21 bobines de 16mm de um colectivo de cineastas militantes, o movimento japonês de solidariedade com a Palestina e a causa da autodeterminação. A recuperação destes trabalhos resultou num filme de intervenção que questiona a universalidade de determinadas lutas políticas. Várias das bobines recuperadas e aqui apresentadas foram polemicamente censuradas na Documenta 15".
Nas curtas, destaque vai para a colecção de quatro curtas de Chantal Akerman, parte do seu exame de admissão ao Institut Supérieur des Arts. O Primeiro Olhar de Chantal Akerman mostra "a vida na cidade de Bruxelas e em Knokke, na costa belga, e incluem a irmã e a mãe da realizadora, que será uma figura recorrente da sua futura obra".
Mais informação sobre o IndieLisboa e os filmes já anunciados em https://indielisboa.com/.
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Crítica: Primeira Obra (2023)
domingo, 28 de abril de 2024
Sugestão da Semana #611
sábado, 27 de abril de 2024
Festa do Cinema Italiano 2024: Vencedores
Disco Boy, de Giacomo Abbruzzese, conquistou o Prémio de Melhor Filme na 17.ª Festa do Cinema Italiano. Os vencedores foram anunciados no dia 21 de Abril, no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Disco Boy, de Giacomo Abbruzzese |
O júri do festival, composto por Francesco Giai Via, João Pedro Rodrigues e Olga Roriz, atribuiu o Prémio de Melhor Filme a Disco Boy, por ser "um filme que imprime uma visão pessoal forte dos conflitos mundiais, sustentado por um trabalho inventivo que envolve todos os aspectos da criação cinematográfica". O júri atribuir ainda uma Menção Honrosa ao filme Felicità, de Micaela Ramazzotti.
O Prémio do Público foi para Ainda Temos o Amanhã, de Paola Cortellesi, filme de abertura da Festa e com estreia comercial marcada para dia 9 de Maio.
Ao longo dos dias da Festa, marcaram presença em Lisboa o actor Riccardo Scamarcio; as actrizes Jasmine Trinca e Benedetta Porcaroli; a realizadora Emma Dante; o escritor Sandro Veronesi; a escritora e jornalista Elena Stancanelli; e os produtores Giuseppe Pedersoli e Alan Friedman.
Ainda esteve presente o músico Massimo Zamboni, o duo Colapesce Dimartino, acompanhados pelo realizador Zavvo Nicolosi, os DJs Napoli Segreta e Andrea Fabrizii da histórica editora CAM Sugar, e o humorista Sandro Cappai.
A programação da 17.ª Festa do Cinema Italiano continua em mais cidades portuguesas, entre elas: Abrantes, Almada, Aveiro, Beja, Cascais, Coimbra, Évora, Figueira da Foz, Funchal, Lagos, Leiria, Loulé, Oeiras, Porto, Sardoal, Setúbal e Vila Velha de Ródão.
Mais informações sobre a Festa do Cinema Italiano em https://festadocinemaitaliano.com/.
PREMIADOS FESTA DO CINEMA ITALIANO 2024
Prémio do Júri para Melhor Filme
Disco Boy, de Giacomo Abbruzzese
Prémio do Público para Melhor Filme
Ainda Temos o Amanhã, de Paola Cortellesi
Menção Honrosa do Júri
Felicità, de Micaela Ramazzotti
Moinho Cine Fest 2024: Vencedores
ISTINA (Truth), de Tamara Denić, foi o grande vencedor da 6.ª edição do Moinho Cine Fest. O festival aconteceu nos dias 5, 6, 13 e 20 de Abril em Custóias, Leça do Balio e Guifões, Matosinhos.
O filme da realizadora sérvio-alemã Tamara Denić conquistou os prémios de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Curta-metragem.
ISTINA(Truth), de Tamara Denić |
ISTINA (Truth) "foi produzido no âmbito de projecto final de mestrado na Hamburg Media School com o apoio da Friedrich Naumann Foundation for Freedom e inspirou-se na liberdade de imprensa e na liberdade de expressão, que estão sob enorme pressão nos Balcãs". Nika Rozman é a protagonista da curta-metragem, que conta a história de Jelena, uma fotojornalista sérvia ameaçada por grupos de extrema-direita em Belgrado, que foge para a Alemanha com a filha. Mas, na Alemanha, também é vítima de violência contra jornalistas.
O júri da 6.ª edição do Moinho Cine Fest, foi constituído por António Costa Valente, Mário Branquinho e Tiago Afonso, que também distinguiu outros filmes. Aplauso, de Guilherme Daniel, venceu na categoria de Melhor Filme Português; Gosto de te ver a dormir, de Hugo Pinto, conquistou o título de Melhor Filme Mobile; Díluvio, de Eduardo Cruz, foi a Melhor Média-metragem; Tanganhom, de Vitor Covelo, foi a Melhor Micro-metragem; To Be, de Pascal Jousse, conquistou o prémio para Melhor Nano-metragem; Two One Two, de Shira Avni, venceu Melhor Animação; A life at See, de Elisa Mand e Bente Rohde, foi o Melhor Documentário; Dva, de Alexandra Karelina, conquistou o prémio de Melhor Filme Experimental; e Middle Eastern Stories: Father, de Reza Daghagh, venceu na categoria de Melhor Ficção. Foram ainda atribuídas Menções Honrosas para Amoreiras, de Pedro Augusto Almeida, I was born in 1988, de Yasaman Baghban, e Motus, de Nelson Fernandes.
Toda a informação sobre o Moinho Cine Fest em https://moinhocinefest.com/.
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