"As long as you can still grab a breath, you fight. You breathe... keep breathing."
Hugh Glass
*8/10*
Alejandro González Iñárritu abandona as fantasiosas asas de
Birdman e atira-se de cabeça num projecto grandioso.
The Revenant - O Renascido foi duro de filmar e é duro de assistir, mas assim dá gosto ir ao cinema.
Leonardo DiCaprio já não tem nada a provar, mas aqui, quase sem abrir a boca, tem provavelmente um dos desempenhos mais estrondosos do ano.
Inspirado em factos verídicos, a longa-metragem segue uma expedição pelo desconhecido território americano, no século XIX, até que Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) é atacado por um urso e deixado como morto pelos seus companheiros. Na luta pela sobrevivência, Glass resiste a um sofrimento inimaginável, bem como à traição de John Fitzgerald (Tom Hardy), um dos seus companheiros de expedição. Guiado pela sede de vingança e o amor da sua família, Glass terá de enfrentar um Inverno rigoroso numa busca incessante pela sobrevivência e redenção.
Duro, sujo, violento,
The Revenant - O Renascido percorre uma narrativa simples com um protagonista ferido movido pela vingança. O caminho é longo, árduo e perigoso e a longa-metragem perde o fôlego a dado momento, entre tanta neve numa jornada que parece não ter fim. Contudo,
Glass não está sozinho: tem a dupla
Iñárritu/
DiCaprio a acompanhá-lo e não o deixa perder-se. E nós, sem darmos conta, queremos acompanhar o protagonista até ao fim.
The Revenant coloca-nos no terreno, neste jogo de interesses onde
Glass é abandonado à sua sorte, ou à sua morte. Americanos, índios e franceses, ninguém é inocente. No meio da guerra, a câmara de
Iñárritu deixa-nos perdidos, desnorteados como cada personagem, à mercê de animais ferozes, de temperaturas geladas, de inimigos que espreitam atrás de cada árvore.
Os planos-sequência (de que o realizador tanto gosta) abundam - especialmente na primeira metade do filme - e são os responsáveis pelo envolvimento da plateia nos cenários gélidos e sangrentos. As sensações são intensificadas pela câmara irrequieta e tão próxima dos actores que sente o seu bafo ou fica salpicada com o seu sangue. Ao mesmo tempo, a direcção de fotografia é soberba, com
Emmanuel Lubezki ao comando, ele que tão bem sabe trabalhar com a luz, potenciando as cores e a iluminação como poucos. A banda sonora funde-se de tal modo com a acção que parece fazer parte dela, intensifica o ambiente tenso e aterrador e, no conjunto, consegue fazer-nos sentir o odor a sangue e a morte, o cheiro da terra molhada, das árvores e do fogo.
E se o virtuosismo técnico por vezes se sobrepõe - a um ponto tão estranho que nos faz sentir quase esta quarta dimensão -, também é ele que, mais perto do fim, nos faz ansiar pelo desfecho, que procuramos, atentos e com verdadeiro interesse, desde o início.
Iñárritu marca de tal forma o seu estilo que chega a ser frenético e o seu ritmo acaba por extenuar a plateia.
Leonardo DiCaprio tem um desempenho assombroso, de uma exigência física imensa. Sem falas durante grande parte do filme, o actor sabe servir-se do corpo e das expressões faciais para dizer muito mais do que as palavras o permitiriam.
Tom Hardy, por sua vez, consegue encarnar na perfeição o homem ausente de sentimentos, com uma maldade imensa a pairar sobre si, sem arrependimentos. Mais um grande desempenho de um actor que ainda continua a ser subvalorizado.
The Revenant - O Renascido é uma experiência inebriante e cruel para o espectador. Um filme pesado, onde o instinto de sobrevivência é alimentado pelo desejo de vingança, numa jornada violenta e visceral. Desta vez,
Iñárritu exibe-se mas com brilhantismo e proporciona aos actores um desafio como poucos.