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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Crítica: A Infância de Um Líder / The Childhood of a Leader (2015)

"I don't believe in praying anymore!"
Prescott

*7.5/10*

Estreante na realização, Brady Corbet recuou ao pós-primeira guerra e construiu um universo gelado de sentimentos, no meio das negociações do Tratado de Versalhes. Uma criança é o centro das atenções - das nossas, não tanto das dos pais -, e a sua educação é o que mais está em jogo.

A Infância de Um Líder baseia-se no conto homónimo de 1939, de Jean-Paul Sartre. Trata subtilmente a ascensão do fascismo no século XX, ao relatar a história de um rapaz americano a viver em França, em 1919. O pai trabalha para o governo dos EUA na criação do Tratado de Versalhes. O que o rapaz observa ajuda a moldar as suas crenças enquanto testemunhamos o nascimento de um terrível ego.


Ele observa, descobre, explora. É atrevido, quer expressar-se, mas é reprimido pela sociedade que o rodeia. Pouco desejado pela mãe e incompreendido pelo pai, é a ama quem lhe dá o carinho maternal de que tanto precisa e é ela quem ele admira e respeita. O pequeno vive envolto por segredos e mentiras, num país que não é o seu e a revolta acontece.

Subimos escadas, seguindo as personagens, quase sempre olhando para cima, para o futuro de liderança que o título nos anuncia. É para o alto que o olhar da câmara aponta, qual horóscopo.

Mesmo que o argumento não seja o ponto mais forte de A Infância de Um Líder, a sua aura pesada e obscura fazem valer a pena a visualização. Os tons escuros e frios distribuem melancolia e reflectem ainda a sombra da primeira guerra. A arrepiante banda sonora condiz com as cores e emoções que ali se vivem. O jovem protagonista desperta a curiosidade da plateia com um comportamento fora do comum, mudanças de humor e uma expressão carregada e intransigente.


O fascismo paira como um fantasma em redor da personalidade desta personagem que poucas emoções expressa. A interpretação do jovem estreante Tom Sweet é aterradora e é nele que se centram os elementos de terror psicológico desta longa-metragem. De destacar ainda são as interpretações sóbrias de Liam CunninghamBérénice Bejo Robert Pattinson.

Brady Corbet estreou-se com um filme sóbrio onde é o ambiente o grande responsável pelas sensações causadas no espectador. A Infância de Um Líder poderia ser a génese da investida das ditaduras europeias do século XX.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

LEFFEST'13: Crítica: O Passado/ Le Passé (2013)

*6/10*


Depois de Uma Separação, Asghar Farhadi regressa com O Passado (Le Passé) onde a temática parece, aparentemente, ser semelhante à do trabalho anterior. Contudo, há diferenças evidentes que deixam a mais recente longa-metragem do realizador muitos pontos atrás do filme de 2011.

O Passado foi o escolhido pelo Irão para lutar pelo Oscar para Melhor Filme Estrangeiro na cerimónia do próximo ano. O filme começa por seguir Ahmad que após quatro anos de separação chega a Paris a partir de Teerão, a pedido de Marie, a sua esposa francesa, para se divorciarem legalmente. Durante a sua breve estadia, Ahmad descobre a relação conflituosa que Maria tem com a filha mais velha, Lucie. Enquanto Ahmad se esforça para tentar melhorar esse relacionamento, irá descobrir segredos bem guardados do passado de cada uma das personagens.

É verdade que o passado determina o presente, e é também verdade que é irrecuperável. Esta longa-metragem pretende reflectir sobre a culpa que esse passado deixa em cada um de nós, o que não foi feito, o que foi deixado por fazer e o que não devia ter sido feito. Não sendo original, a temática é interessante e poderia ser o ponto de partida para uma forte reflexão e para estabelecer proximidade com o espectador.

Todavia, a concretização não se revelou a melhor. Asghar Farhadi não tomou as melhores opções e O Passado divaga e estende-se sem aprofundar nada nem nenhuma personagem. O foco muda de Ahmad para Maria, de Maria para Lucie, de Lucie para Samir, e por aí fora, culminando num final emocional, que não suporta o resto do filme - o tom muda drasticamente e não é na última cena que se consegue aproximar personagens e plateia.

Certo é que neste filme ninguém é inocente e todos vivem com culpas e arrependimentos. É isso que os une para além d' O Passado que têm em comum. Contudo, nem mesmo o que os liga chega para justificar atitudes que ficam em aberto, a pedir uma conclusão clara. Por exemplo, temos verdadeiramente pena de Ahmad perder o protagonismo inicial e ir desaparecendo gradualmente da acção - ele que é, provavelmente, um dos pontos mais positivos de O Passado.


O elenco faz, em geral, um trabalho competente, com destaque para Ali Mosaffa como Ahmad, com uma interpretação contida mas que nos deixa curiosos para conhecer mais e melhor esta personagem e as suas angústias. Bérénice Bejo venceu em Cannes o Prémio de Melhor Actriz, e mostra aqui o seu lado mais dramático e desesperado, com algumas cenas fortes, apesar de se fazer esperar mais de uma interpretação premiada. Por seu lado, Pauline Burlet (que já interpretou Edith Piaf em criança no filme La vie en rose) revelou-se uma surpresa e uma jovem actriz muito prometedora na pele da rebelde Lucie. Para além da energia que transmite e da entrega ao papel, Burlet tem, curiosamente, notórias semelhanças físicas com Bejo Marion Cotillard. De realçar, é ainda o elenco infantil - Elyes Aguis e Jeanne Jestin - com especial destaque para o jovem Aguis na pele de Fouad que merecia maior relevância na acção.

Falta união e foco ao mais recente trabalho de Asghar Farhadi. A temática forte, aliada aos planos sempre intimistas do cineasta, mereciam uma concretização muito superior. Assim, O Passado dificilmente volta a ser lembrado.

O filme foi exibido no passado dia 10 de Novembro no Lisbon & Estoril Film Festival e repete esta Terça-feira, dia 12, pelas 22h00, no Centro de Congressos do Estoril.

domingo, 26 de maio de 2013

Cannes 2013: Os Vencedores

O 66º Festival de Cannes chegou ao fim, e ficámos há pouco a conhecer os grandes vencedores desta edição. O Júri, presidido pelo realizador Steven Spielberg, atribuiu a Palma de OuroLa Vie d'Adèle, de Abdellatif Kechiche. O filme debruça-se sobre o amor entre duas mulheres - interpretadas por Adèele Exarchopulos e Léa Seydoux.


Bérénice Bejo (Le Passé) e Bruce Dern (Nebraska) arrecadaram os prémios de interpretação e, por sua vez, Amat Escalante foi premiado pelo seu trabalho como realizador de Heli.

Aqui fica a lista completa dos principais vencedores desta 66ª edição do Festival de Cannes:

PALMA DE OURO
La Vie d'Adèle, de Abdellatif Kechiche

GRANDE PRÉMIO
Inside Llewyn Davis, de Ethan Coen e Joel Coen

PRÉMIO DE INTERPRETAÇÃO FEMININA
Bérénice Bejo (Le Passé)

PRÉMIO DE INTERPRETAÇÃO MASCULINA
Bruce Dern (Nebraska)

PRÉMIO DE REALIZAÇÃO
Amat Escalante (Heli)

PRÉMIO DO JÚRI
Tal Pai, Tal Filho, de Hirokazu Kore-eda

PRÉMIO DE ARGUMENTO
Jia Zhang-ke (A Touch of Sin)

PALMA DE OURO PARA MELHOR CURTA-METRAGEM
Safe, de Moon Byoung-Gon