Mostrar mensagens com a etiqueta Festival de Animação de Lisboa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Festival de Animação de Lisboa. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 10 de março de 2014

MONSTRA 2014: Programa e Novidades


A MONSTRA - Festival de Animação de Lisboa começa já dia 13 e prolonga-se até 23 de Março. O festival que celebra o cinema de animação tem este ano a Hungria como país homenageado e recebe uma das mais aguardadas antestreias nacionais do género: As Asas do Vento (The Wind Rises), de Hayao Miyazaki, filme nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

A animação húngara “é considerada uma das cinematografias mais inspiradas e menos alinhadas com ambos os blocos mundiais, tanto temática como esteticamente”, refere o director artístico do festival, Fernando Galrito. A homenagem da MONSTRA será composta por retrospectivas dos grandes mestres do cinema de animação húngaro - Ferenk Cakó, Marcell Jankovics ou Áron Gauder, por exemplo - e pela projecção de filmes históricos e obras das grandes escolas húngaras de animação. Para além dos filmes, haverá ainda exposições e a presença de vários convidados.

A sessão oficial de abertura da MONSTRA acontece a 14 de Março e apresentará, a propósito das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, e dos 40 anos do cubo de Rubik (matemático húngaro), um filme inédito sobre estas revoluções, que reúne artistas de várias áreas.


Para além da tão esperada antestreia do mais recente filme de Hayao Miyazaki, o festival oferece-nos muita diversidade de filmes distribuídos por várias secções: Históricos, Best of Escolas Europeias, Best of World, TerrorANIM (destaque para A Loja dos Suicídios, de Patrice Leconte), DokANIM e as várias Competições de Curtíssimas, Estudantes, Curtas e Longas.

Dentro dos Históricos, a MONSTRA traz este ano Animal Farm, baseado na famosa obra de George Orwell, que celebra 60 anos, A Pantera Cor-de-Rosa, que completa 50 anos, e a primeira curta-metragem animada da dupla Wallace & GromitGrand Day Out, a comemorar 25 anos, e que conta com a presença dos actores principais.

A MONSTRA continua este ano a apostar na formação de novos públicos com masterclasses e workshops. Os estúdios Aardman (Reino Unido) marcarão presença, com uma masterclass que contará com as célebres personagens Wallace & Gromit. O realizador canadiano Norman McLaren é homenageado, 100 anos após o seu nascimento, num workshop sobre a animação de pintura sobre a película. A estas juntam-se outras formações em pintura sobre o vidro, animação em areia, animação digital, etc.

No que respeita à Competição - que antes alternava anualmente entre competição de curtas e de longas -, pela primeira vez nesta edição o programa terá duas secções competitivas com o patrocínio da RTP. Como é hábito, mantém-se a Competição de Estudantes, Curtíssimas e a Competição Portuguesa, com o Prémio SPA | Vasco Granja. Nesta edição, a MONSTRA recebeu mais de 1400 filmes, oriundos de 69 países de todos os continentes.

O Cinema para além dos Ecrãs é novidade no festival. Trata-se de um encontro que visa reflectir sobre a relação entre o cinema de animação e as outras artes. O evento irá abordar as novas utilizações do cinema de animação e vai reunir especialistas de várias áreas - jogos, mapping, drones, generatividade, dança e performance e realidade aumentada.

Para os mais novos, a Monstrinha está de regresso. Este ano o festival associou-se a vários agrupamentos escolares da cidade de Lisboa e do sul do Tejo, chegando a cerca de 15 000 crianças. Ao mesmo tempo, as sessões para pais e filhos decorrerão nos dois fim-de-semana do festival no Cinema São Jorge e Cinema City Alvalade.

Paralelamente, desde 13 de Fevereiro que o Museu da Marioneta de Lisboa acolhe a Exposição Poseso,  uma viagem ao mundo onírico e surrealista de SAM, multipremiado realizador valenciano, que apresenta pela primeira vez ao mundo originais da sua longa metragem com o mesmo nome e ainda em fase de pós-produção.

O Festival de Animação de Lisboa vai decorrer no Cinema São Jorge, Cinema City Alvalade, BES Arte & Finança, Museu da Marioneta e nos Fóruns FNAC. Para saber mais sobre a MONSTRA é só consultar o site do festival, aqui.

sexta-feira, 22 de março de 2013

MONSTRA'13: Os Vencedores

A MONSTRA'13 já terminou há quase uma semana e eu ainda não tinha dito oportunidade de publicar por aqui os vencedores. Mais vale tarde do que nunca: aqui ficam eles.

O grande vencedor da noite foi Crulic, O Caminho Para o Além, da realizadora romena Anca Damian, que conquistou o Grande Prémio da Monstra 2013. Já na competição nacional o júri elegeu Kali, o Pequeno Vampiro, de Regina Pessoa, como Melhor Curta Portuguesa.

Já o público teve preferências diferentes e premiou a curta-metragem M, de Joana Bartolomeu, na Competição Portuguesa, e a longa-metragem espanhola O Apóstolo, de Fernando Cortizo, que arrecadou também o prémio para Melhor Banda Sonora.


Segue a lista completa de vencedores:

Prémio de Apoio à Produção
Os Prisioneiros de Margarida Madeira

COMPETIÇÃO CURTÍSSIMAS
Menções Honrosas
Bonnie de Masanori Okamoto, Japão
Eros de Vaiana Gauthier, França
Radio Cartaz (Radio Afiche) de Sam3, Espanha

Melhor Curtíssima Portuguesa
Corpo Body Corps Körper Corpus de Vanessa Namora Caeiro, Portugal

Melhor Curtíssima Internacional
Preso no Tempo (Trapped in Time) de Naghmeh Farzaneh, Irão

COMPETIÇÃO ESTUDANTES - JÚRI JUNIOR 
Menções Honrosas
À Francesa (Á La Française) de M. Boyer, J. Hazebroucq, H. Ren Hsu, E. Leleu, W. Lorton, França
Sopa de Tartaruga (Turtle Soup) de J. Von Rotz, A. Wolken, Suiça

Melhor Curta de Estudantes Portuguesa
Rabiscos (Sketches) de Bruno Gonçalves, Portugal

Melhor Curta de Estudantes Internacional
Oh Sheep! de Gottfried Mentor, Alemanha

COMPETIÇÃO ESTUDANTES - JÚRI SÉNIOR
Menções Honrosas
Dependência (Dependence) de Panna Horváth Molnár, Hungria

Prémio do Público
Oh Sheep! de Gottfried Mentor, Alemanha

Melhor Curta de Estudantes Portuguesa - Prémio Fnac
O Castigo (The Punishment) de Nelson Fernandes, Espanha/Portugal

Melhor Curta de Estudantes Internacional
Oh Sheep! de Gottfried Mentor, Alemanha

COMPETIÇÃO INTERNACIONAL
Menções Honrosas
Monte das Papoilas (From Up On Poppy Hill) de Goro Miyazaki, Japão

Prémio do Público
O Apóstolo (The Apostle) de Fernando Cortizo, Espanha

Melhor Filme para Infância e Juventude

Melhor Banda Sonora
O Apóstolo (The Apostle) de Fernando Cortizo, Espanha

Prémio Especial do Júri
Aprovado Para Adopção (Approved For Adoption) de Laurent Boileau, Jung, França/ Vários 

Grande Prémio MONSTRA 2013 | Carl Zeiss Vision
Crulic, O Caminho Para o Além (Crulic, The Path To Beyond) de Anca Damian, Roménia

COMPETIÇÃO SPAUTORES | VASCO GRANJA
Prémio do Público
M de Joana Bartolomeu

Melhor Curta Portuguesa
Kali, O Pequeno Vampiro de Regina Pessoa


A 12ª edição do Festival MONSTRA aconteceu entre os dias 7 e 17 de Março, no Cinema São Jorge e no Cinema City Alvalade. A cobertura do Hoje Vi(vi) um Filme pode ser encontrada aqui.

segunda-feira, 18 de março de 2013

MONSTRA'13: Grave of the Fireflies

"Why must fireflies die so young?"
Setsuko
*8/10*

No rescaldo da MONSTRA ainda há que escrever. Outro filme de 1988, a completar um quarto de século este ano, é Grave of the Fireflies (O Túmulo dos Pirilampos), que teve direito a duas sessões especiais no Festival de Animação de Lisboa.

A longa-metragem de Isao Takahata é um clássico de anime e baseia-se em acontecimentos reais, no meio da fantasia que lhe está adjacente. A temática é forte: tudo acontece nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial. Seita, de 14 anos, e a sua irmã Setsuko, de 4, ficam órfãos após a sua mãe ser morta durante um ataque aéreo das forças americanas em Kobe, no Japão. Após desentendimentos com a tia que os acolhe temporariamente, os irmãos mudam-se para um armazém abandonado. Sem mantimentos ou parentes que os ajudem, ambos lutam contra as dificuldades que se juntam às que também o seu país vive.

No início do filme já sabemos como tudo termina, apenas desconhecemos o que acontece até lá e é isso que  Grave of the Fireflies nos vai narrar. Uma história emocional, que tem lugar em plena Guerra, e que não se coíbe de mostrar imagens chocantes - bombardeamentos, casas a arder, mortes -, ainda que seja em animação. A temática é triste, mas é mesmo essa aura infeliz que conduz o espectador a estabelecer uma ligação com Seita e Setsuko, os protagonistas. 

Vive-se a sua dor no grande ecrã em momentos extremamente profundos, uns bem mais naturais do que outros. Perto do fim temos, aliás, essa questão está bem patente, com uma recordação "forçada", seguida do momento mais comovente de todo este Grave of the Fireflies.

Para além da Guerra e das suas tenebrosas consequências, o rasto de morte e destruição que deixou, neste caso concreto, no Japão, a longa-metragem de Isao Takahata faz-nos reflectir sobre a legitimidade para causar tal situação, mais ainda quando o ataque foi feito a civis. A par das questões políticas, o realizador torna central a relação entre os dois irmãos, com Seita a tudo fazer pelo bem-estar da irmã, e a pequena Setsuko a mostrar-se uma guerreira, transformando-se aos 4 anos na "mulher da casa".


Ao mesmo tempo, os Pirilampos, que dão título ao filme, têm um papel, ainda que subtil, muito importante e quase premonitório em Grave of the Fireflies. Quando eles estão no ecrã, proporcionam-nos das mais belas cenas da longa-metragem. De destacar tecnicamente é a variação de cores consoante dois momentos do filme: cores quentes no inicio e fim, que contrastam com cores mais naturais, por vezes pálidas, em todo o resto da película.

Grave of the Fireflies é um marco no cinema de animação e obrigatório para os fãs do género. Os mais sensíveis devem preparar-se para momentos de emoções fortes e sentimentos à flor da pele. Com uma construção muito competente, a longa-metragem japonesa ganha ainda mais pontos pela reflexão que nos propõe e pela crueza com que conta a história.

MONSTRA'13: Quem Tramou Roger Rabbit?

*7/10*

A completar 25 anos em 2013, o clássico Quem Tramou Roger Rabbit? (Who Framed Roger Rabbit), de Robert Zemeckis, teve direito a duas sessões na MONSTRA, o Festival de Animação de Lisboa que terminou este Domingo.

Um marco no cinema, misturando animação e imagem real do início ao fim, onde os personagens animados interagem naturalmente com os humanos e os seus mundos se cruzam, Quem Tramou Roger Rabbit? é um filme obrigatório.

Tudo acontece em 1947, em Hollywood. Eddie Valiant - interpretado por Bob Hoskins - é um detective azarado, contratado para reunir provas de que Marvin Acme, o magnata da fábrica de brinquedos e dono de Toontown (Cidade dos Desenhos), anda envolvido com a sensual Jessica Rabbit, casada com Roger Rabbit, a estrela dos desenhos animados. Todavia, quando Acme é assassinado, todas as suspeitas recaem em Roger e o juiz Doom (Christopher Lloyd), sedento de poder, põe em marcha uma missão para fazer o coelho pagar por esse crime. Roger Rabbit pede então ajuda ao detective Valiant para conseguir provar a sua inocência e encontrar o verdadeiro culpado do crime, mas tudo se complica.

Quem Tramou Roger Rabbit? transborda diversão, crime, sensualidade - com a inesquecível Jessica Rabbit -, e nostalgia, reunindo uma série de personagens animadas que nos têm dito muito ao longo dos anos. A ideia de juntar, com a maior naturalidade possível, humanos e desenhos animados no mesmo mundo, a conviver entre si, é também de realçar.

Ideia essa que é acompanhada por uma técnica incrível que conjuga os dois universos - imagem real e animação - de forma perfeita no mesmo espaço. Fotografia, planos e movimentos de câmara, montagem, tudo é concretizado de forma fabulosa.


Com um protagonista que nos fará rir às gargalhadas, Quem Tramou Roger Rabbit? talvez diga mais aos adultos que às crianças, mas é, indiscutivelmente, um filme para todos. Merece ser visto e revisto, e não só quando completa um quarto de século.

domingo, 17 de março de 2013

MONSTRA'13: A Letter to Momo

*7.5/10*

Do Japão directamente para a Competição Internacional da MONSTRA, A Letter to Momo (Uma Carta para Momo) traz consigo magia e fantasia, e todo o estilo anime a que a animação japonesa nos tem habituado. A longa-metragem de  Hiroyuki Okiura - realizador com um vasto leque de colaborações em diversos departamentos em filmes como Akira ou Ghost in the Shell - tem já arrecadado prémios, como o Grande Prémio para Melhor Longa-metragem no Festival Internacional de Cinema Infantil de Nova Iorque e o prémio para Melhor Longa-metragem de Animação no Asia Pacific Screen Award 2012.

Espiritualidade, sentimentos profundos, emoções fortes: A Letter to Momo está recheado de todos eles. Momo tem 11 anos e cresceu em Tóquio, mas após a morte do pai vai viver com a mãe para uma antiga casa da família numa ilha remota. Não faltam por lá construções de madeira, santuários sagrados, campos de cultivo, mas nenhum centro comercial, como a jovem tanto gostaria. Para além de não estar satisfeita com a nova morada, Momo está também perturbada com uma carta inacabada que o seu pai lhe deixou. Certo dia, enquanto explora o novo sótão, Momo depara-se com um livro especial, e desde aí, coisas estranhas começam a acontecer.

O argumento desperta, desde logo, interesse, liderado por uma protagonista cheia de personalidade e coragem. Como é hábito na animação japonesa, não há medo de falar sobre a morte, ela é encarada naturalmente, como deve ser, e está bem no centro de todos os acontecimentos de A Letter to Momo

Por um lado, vamos acompanhando a difícil adaptação de Momo ao novo ambiente, a sua relação com os novos amigos, as discussões com a mãe; por outro, assistimos à evolução dos sentimentos gerados pela morte do seu pai e pela carta que ele lhe deixou. E neste segundo ponto entra a fantasia que soa quase naturalmente nesta longa-metragem, com os surpreendentes seres que vigiam Momo e a sua mãe, e que tanto contribuem para a mudança de atitude da protagonista, na compreensão de si mesma e daquilo que a rodeia.


A par de toda a sentimentalidade aqui presente, não faltarão gargalhadas proporcionadas por todas as personagens e que envolvem mais ainda a plateia. A Letter to Momo peca apenas por uma certa monotonia que se faz sentir para lá da metade do filme, que ganharia sendo mais curto (tem 120 minutos de duração).

Hiroyuki Okiura ofereceu-nos um filme para ser sentido e pelo qual nos devemos deixar levar. Uma história de amizade e de um amor que supera a própria morte.

sábado, 16 de março de 2013

MONSTRA'13: Lotte and the Moonstone Secret

*4/10*

No penúltimo dia de festival, a MONSTRA recebeu na Competição Internacional um filme da Estónia. Lotte and the Moonstone Secret (Lotte, o Segredo da Pedra Lunar) repete no Cinema City Alvalade, este Domingo, às 15h30.

Realizada por Janno Pödma e Heiki Ernits, a longa-metragem de animação apresenta-se com ideias originais mas com uma concretização medíocre, de onde pouco se retém. Ideia e animação parecem ter sido criadas a pensar num público muito jovem, mas dificilmente é estabelecida a conexão desejada com essa faixa etária, bem como com as restantes.

Certa noite, dois estranhos rastejam em Gadgetville, em busca do dono de um sapato perdido, qual Cinderela de leste. Quando a pequena cadela Lotte surpreende os estranhos que tentam roubar uma pedra muito especial ao seu tio Klaus e estes fogem, ele conta-lhe tudo sobre o momento em que encontrou aquela e outras duas pedras. Muitos ambicionam as três pedras - Lotte e o seu tio partem para reunir as que faltam, os dois estranhos seguem-nos na esperança de as conseguir tirar, e junta-se-lhes o gato Paul, que por motivos amorosos também as quer. Este é o ponto de partida  para uma série de aventuras que envolvem a perseguição de três pedras por diversas personagens, todas com as suas singularidades.

A originalidade de Lotte and the Moonstone Secret atinge um patamar tão surreal que o faz perder tudo o que poderia ganhar com as suas caricatas personagens. A mensagem a reter será a da amizade e, mais importante que isso, a de que se acreditarmos verdadeiramente em algo, tudo é possível. Contudo, apesar dos interessantes momentos proporcionados por esta máxima, o filme perde-se em divagações, estranheza e pesadelos que, certamente, não agradarão aos mais novos. Os momentos mais divertidos são-nos proporcionados pelo apaixonado gato Paul.

A animação é simples, mas mistura diversos tipos, o que é de destacar. As personagens têm em si, para lá do animal que representam, características da fisionomia humana - como a barba - que lhes dão um aspecto grosseiro, tornando mais difícil a empatia com as mesmas.


Lotte and the Moonstone Secret poderá ser uma boa experiência para quem gosta de arriscar e experimentar a novidade, mas está muito longe da qualidade de grande parte dos filmes em competição.

MONSTRA'13: Le Tableau

*8.5/10*

Ao nono dia do Festival de Animação de Lisboa - MONSTRA, os filmes continuam em força. Da Competição Internacional, ficámos hoje a conhecer a longa-metragem Le Tableau, uma fabulosa surpresa. O filme repete este Sábado, às 17h30, no Cinema City Alvalade.

Jean-François Laguionie é um veterano no cinema de animação francês e, desta vez, traz-nos Le Tableau (O Quadro), que junta a animação às cores e à pintura, bem como a uma série de reflexões que nos são discretamente propostas. 

Um pintor deixa um quadro inacabado mas a sua criação ganha vida própria. Um castelo, jardins e uma floresta ameaçadora são o lar de três categorias diferentes de figuras: os todos-pintados, os inacabados e os esboços. Os primeiros julgam-se superiores, e expulsam todos os outros do castelo, fazendo dos esboços seus escravos. Mas no meio desta hierarquia, Ramo, um jovem todo-pintado namora uma inacabada e defende a abolição das diferenças. Por outro lado, a inacabada Lola quer encontrar o pintor para que o quadro seja terminado e haja harmonia entre todos. Ramo e Lola parte então, juntamente com o esboço Plume, em busca do seu criador. Nesta perigosa e surpreendente jornada, as perguntas vão se multiplicando, assim como as aventuras. 

O argumento é original e inesperado: os quadros ganham vida, e as diferenças sociais estão em jogo. Ao mesmo tempo, reflectimos sobre o que motiva um pintor a abandonar a sua obra e quais as motivações para pintar um quadro. Através das descobertas dos protagonistas, temos acesso a uma série de interessantes detalhes que nos permitem ir mais além. Ao mesmo tempo, é inesperada a passagem de quadro para quadro que vai tendo lugar e todas as aventuras que se sucedem.

A construção é brilhante, e faz de Le Tableau um filme profundo, forte e singular. A violência que a hierarquia estabelecida pelos todos-pintados exerce consegue ser incómoda, mas a coragem e persistência de Lola deixa a plateia encantada, até à última cena.


A animação é simples e aproxima-se muito à pintura, como seria necessário. A cor abunda e poderemos até desfrutar de momentos onde animação e imagem real se unem, numa junção encantadora.

Le Tableau será, certamente, um dos favoritos à vitória do prémio da Competição Internacional, por toda a originalidade e mensagens que transmite. Um filme que dirá muito tanto aos mais pequenos como aos adultos, numa mistura de temáticas fortes e doces.

sexta-feira, 15 de março de 2013

MONSTRA'13: Kirikou, les Hommes et les Femmes

*6/10*

Mais um dia de MONSTRA e mais um filme da Competição Internacional: Kirikou, les Hommes et les Femmes (Kirikou, os Homens e as Mulheres) animou a tarde de Quinta-feira na sala Manoel de Oliveira, no Cinema São Jorge. Repete no próximo Sábado, no Cinema City Alvalade.

Realizado por Michel Ocelot, Kirikou, les Hommes et les Femmes é já o terceiro filme sobre o pequeno Kirikou e a sua aldeia. Tudo nos é apresentado pelo velho avô que nos acolhe na sua caverna para contar algumas das suas histórias. São contos sobre a infância de Kirikou e sobre como ele ajudou os homens e mulheres da sua e de outras aldeias. Foi ele que ajudou, com a sua coragem e inteligência, Strong Woman, cujo tecto da casa havia sido destruído pela bruxa Karaba e encontrou o ancião da aldeia quando este estava perdido. Mas também uma flauta, uma contadora de histórias e um "monstro azul" que todos desconhecem marcaram a infância de Kirikou.

Dividida em cinco narrativas, a longa-metragem francesa de animação assume um estilo de divisão por episódios ao mudar, constantemente, de história para história, o que não a favorece enquanto produto cinematográfico, aproximando-o mais ao género televisivo. Sente-se uma quebra na acção, e o estilo não consegue cativar a plateia como seria de esperar.

Por outro lado, a animação é interessante e divertida, e argumentativamente há valores bem vincados a serem transmitidos a um público mais jovem. No meio de momentos de muita fantasia - as mascotes da bruxa são  talvez o seu expoente máximo - e de personagens curiosas, Kirikou, les Hommes et les Femmes consegue proporcionar algumas gargalhadas e simpatia.


O realizador Michel Ocelot tem também o seu primeiro filme de Kirikou no programa desta edição do Festival de Animação de Lisboa. Trata-se de Kirikou et la Sourciere, que data de 1998, e será exibido no próximo Domingo à tarde no Cinema São Jorge.

quarta-feira, 13 de março de 2013

MONSTRA 2013: A Cat in Paris

*7/10*

A Cat in Paris (Um Gato em Paris ou Une Vie de Chat, no original) teve exibição na passada Segunda-feira na MONSTRA e repete novamente esta tarde no Cinema São Jorge, às 18h30. É mais um filme que integra a Competição Internacional do Festival de Animação de Lisboa e conta com uma vantagem: foi um dos nomeados ao Oscar de Melhor Filme de Animação em 2012.

Jean-Loup Felicioli e Alain Gagnol trouxeram um filme de animação onde o protagonista é um simpático felino que leva uma vida dupla. A Cat in Paris conta a história de Dino, um gato que de dia, vive com Zoé, filha única de Jeanne, uma comissária de polícia. À noite, salta pelos telhados de Paris na companhia de Nico, um ladrão muito hábil. Jeanne tem duas missões: encontrar o responsável por diversos roubos de jóias e vigiar uma estátua gigante que é desejada por Victor Costa, o mais famoso dos ladrões da cidade. A pequena Zoé irá ajudar a resolver a situação.

Dino é o elo de ligação entre acontecimentos e personagens e A Cat in Paris vem mostrar como, muitas vezes, as aparências iludem e ninguém é tão bom ou tão mau como pode parecer.

Com uma banda sonora muito interessante de Serge Besset, o filme traz um argumento muito bem construído e uma animação simples mas encantadora, que mostra uma Paris à noite - onde não falta, claro, a Torre Eiffel -, com personagens muito bem pensadas e cheias de personalidade. A longa-metragem de animação francesa é mais um bom exemplo de cinema para todas as idades.


A MONSTRA continua a animar Lisboa até Domingo, e o Hoje Vi(vi) um Filme anda por lá.

terça-feira, 12 de março de 2013

MONSTRA 2013: Selkirk, el verdadero Robinson Crusoe

*6.5/10*

A MONSTRA começou na passada Quinta-feira e entre muitos destaques - Akira, no Sábado, fez as delícias de muitos, e repete na próxima Sexta-feira - as homenagens à animação brasileira e espanhola têm-se feito sentir. Esta Segunda-feira, ao quinto dia de festival, deu-se início à exibição das longas-metragens da Competição Internacional com Selkirk, el verdadero Robinson Crusoe (Selkirk, o verdadeiro Robinson Crusoe), uma produção do Uruguai, Argentina e Chine.

Realizado por Walter Tournier, a longa-metragem de animação conta a história de Selkirk, um corsário rebelde e egoísta, que embarca como mestre de vela no Esperanza, uma galé inglesa que navega aos mares do Sul em busca de tesouros. No meio de uma série de contrariedades, para as quais muito contribui o capitão Bullock, Selkirk vê-se isolado numa ilha deserta, com um grande desejo de vingança, e onde terá de aprender a sobreviver sozinho.

Fugindo às tradicionais histórias de piratas, e baseando-se no clássico livro de Daniel Defoe Robinson CrusoeSelkirk, el verdadero Robinson Crusoe é uma interessante e, acima de tudo, divertida forma de começar a Competição Internacional da MONSTRA. A narrativa revela-se pouco cativante, até entrar realmente em jogo a sobrevivência do protagonista e, aí sim, a nossa atenção fica presa ao ecrã e a esta nova versão do naufrago numa ilha deserta. É ali que Selkirk se depara com uma necessária alteração de comportamento, com o desejo de vingança inicial a transformar-se, à medida que também vai construindo uma nova forma de ver o mundo.

O tom divertido em que todo o filme se desenrola é um ponto a favor, que se encaixa bem na animação em stop motion - recorre, em certos momentos ao digital - é curiosa, e funciona de forma encantadora no que toca aos animais - patos, cabras, gatos ou o irresistível papagaio Lordi, por exemplo - que nos proporcionam várias gargalhadas.


Vale a pena continuar a acompanhar a Competição Internacional, bem como as restantes secções desta edição da MONSTRA - Festival de Animação de Lisboa. Aqui está o programa.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A MONSTRA regressa a Lisboa a 7 de Março

É já de 7 a 17 de Março que tem lugar a 12ª edição da MONSTRA - Festival de Cinema de Animação de Lisboa. Brasil e Espanha são os países homenageados nesta que será a maior edição de sempre do festival.


Dentro da retrospectiva do Brasil, que começa dia 7, serão exibidos mais de 100 filmes deste país e homenageado o realizador Chico Liberato, que apresentará em Lisboa toda a sua obra, desde Boi Aruá, de 1983, à mais recente longa-metragem Ritos de Passagem, uma estreia europeia. A partir do dia 11 de Março, a MONSTRA debruça-se sobre o cinema de animação espanhol, com programas do País Basco, Comunidade Autónoma de Madrid, Galiza, Valência, Catalunha e uma homenagem ao realizador espanhol Segundo de Chomón, contemporâneo de George Méliès.

From up on Poppy Hill, de Gorõ Miyazaky (filho de Hayao Miyazaki), Letter to Momo ou Grave of Fireflies, de Isao Takahata, terão estreia absoluta em Portugal, e integram a secção da MONSTRA dedicada ao Japão, que inclui ainda uma retrospectiva do realizador Mirai Misué que marcará presença para apresentar os seus filmes e dar uma masterclass

Como em anos anterior, a Monstrinha – secção dedicada aos mais novos – volta ter grande destaque no programa, com sessões durante a semana em várias escolas da cidade Lisboa e, com filmes ao fim-de-semana para pais e filhos, entre os quais se destacam O Grilo Feliz e os Insectos Gigantes e Os Brichos, duas longas-metragens brasileiras.

Destaque ainda para a exibição de dois dos maiores filmes de animação da história do cinema que, em 2013, celebram 25 anos: Quem Tramou Roger Rabbit, realizado por Robert Zemeckis, e Akira, de Katsuhiro Otomo.

Novidade nesta 12ª edição do festival, é a criação do Prémio Produção, que irá galardoar o melhor projecto de filme português. Este ano a competição é dedicada às longas-metragens, havendo também as habituais secções de competição de estudantes, curtíssimas e, pelo segundo ano consecutivo, a competição Portuguesa, com o Prémio SPA | Vasco Granja.

Ainda no âmbito da MONSTRA, será amanhã, dia 1 de Março, às 18h00, inaugurada uma exposição intitulada Marionetas no Cinema de Animação. Uma Receita Tradicional na capela do Museu da Marioneta. De entrada gratuita, a exposição pode ser visitada até dia 28 de Abril. Já na Fundação Calouste Gulbenkian a programação do festival debruça-se este ano sobre o tema Animação e Artes Plásticas.

Este ano a MONSTRA tem dez dias e vai exibir mais de 250 sessões e de 500 obras de cinema de animação feito um pouco por todo o mundo. O festival divide-se entre o Cinema São Jorge, Cinema City Alvalade, Fnac, Fundação Calouste Gulbenkian, Museu da Marioneta, entre outros. Os bilhetes custam 4€ (3.5€ com desconto) e nas sessões Pais e Filhos as crianças não pagam.

O programa completo da MONSTRA - Festival de Cinema de Animação de Lisboa pode ser consultado AQUI.

terça-feira, 27 de março de 2012

MONSTRA em Português

O Festival de Animação de Lisboa - MONSTRA acabou Domingo e, apesar de já ter escrito sobre ele no Espalha-Factos, não queria deixar de fazer uma análise mais pormenorizada às curtas portuguesas em competição pelo Prémio SPA | Vasco Granja.

Os Milionários, de Mário Gajo de Carvalho
Já tinha tido a oportunidade de ver esta curta no IndieLisboa 2011, e gostei mais dela nesta segunda visualização. O ambiente mais "negro" de Os Milionários (e que explica a sua presença na competição portuguesa do MOTELx 2011) fez deste um dos filmes portugueses que mais se destacou, para mim, no MONSTRA. A música perturbadora que acompanha toda a curta encaixa na perfeição no meio desta história cíclica, com um argumento que nos deixará presos aos ecrã durante os seus mais de 14 minutos de duração. Tudo gira em volta de uma mala de dinheiro e da ganância daqueles cinco personagens que, ao longo de Os Milionários, vão sendo os seus donos.
8/10

Noall & Curios in Torchdog, de Rik Goddard
Para um público mais novo, Noall & Curios in Torchdog apresenta-se como uma divertida proposta. Cheia de cor e com dois simpáticos protagonistas, e tendo por base a frase de Einstein "A imaginação é mais importante do que o conhecimento", esta curta-metragem gira em torno de uma lanterna (ou será que é um cão?), que é entendida de forma diferente para Noall e para Curios.
6.5/10

Bruxas, de Francisco Lança
Bruxas foi, a meu ver, uma das desilusões desta competição. Uma história de aventuras claramente dirigida aos mais novos, mas com uma narrativa um tanto complexa, não pela dificuldade de "apanhar" a mensagem, mas pela quantidade de acontecimentos que têm lugar. Outro ponto negativo é a narração que é feita ao longo de toda a curta, por vezes desnecessária e que tira muita dinâmica ao filme. Bruxas conta a história de um rapaz que, sedento de aventuras, embarca às escondidas numa caravela.
5/10

Ginjas episódio 14, de Zepe, Humberto Santana
Da série infantil Ginjas, foi-nos apresentado o divertido episódio 14, onde as atenções se focam numa máquina fotográfica e na dificuldade que o seu protagonista tem para conseguir tirar uma fotografia.
6.5/10

My Music, de Tiago Albuquerque, João Braz
Lisboa, mais exactamente o Terreiro do Paço, surge-nos logo nas primeiras imagens de My Music, onde o protagonista se vê com muita dificuldade em encontrar um local silencioso onde possa ouvir a sua música, numa cidade bela mas barulhenta. A imaginação não falta nesta curta-metragem, que parece ter muito para dar inicialmente, mas que se perde no seu decorrer.
7/10

O Sapateiro, de David Doutel, Vasco Sá
O vencedor do Prémio SPA | Vasco Granja foi o mais que merecido O Sapateiro. Com uma animação muito interessante, e sempre em tons de castanho, é-nos mostrado um importante dia na vida de um sapateiro. Com uma profissão em vias de extinção, o protagonista poucos clientes tem, e vive numa visível tristeza. Até que, ao tropeçar em memórias do passado, parece descobrir um novo rumo para a sua vida. Nos momentos em que recupera os momentos passados, a imagem, sempre em tons escuros, aclara, sendo como um sinónimo de felicidade. Um filme emotivo, onde o passado, o presente e o futuro de um homem se misturam.
9/10

Quem é este Chapéu?, de Joana Toste
A partir de um chapéu perdido, Quem é este Chapéu? pretende desconstruir as várias "pessoas" escondidas por detrás de quem o encontra, as diferentes "caras" que assumimos consoante a situação em que estamos. Uma história curiosa, para todas as idades.
7/10

Mulher Sombra, de Joana Imaginário
A original Mulher Sombra conta-nos a história de uma mulher a quem o vento lançou um feitiço. Esta curta-metragem junta animação e imagem real, à qual a primeira se sobrepõe.
7/10

O Dilúvio, de André Ruivo
Com uma animação muito simples, O Dilúvio traz igualmente um argumento simples e pouco entusiasmante.
5/10

A Independência de Espírito, de Marta Monteiro
Uma boa surpresa foi o vencedor do prémio do público, A Independência de Espírito. A história de uma mulher que, farta dos seus amigos que apenas lhe telefonam com conversas fúteis, dá por si, certo dia, a falar com as suas plantas. E é através da sua vizinha do lado, que fala com tachos, que vai perceber a razão para esta atitude, quase involuntária.
8/10

Sem Querer?, de João Fazenda
Mais um dos meus favoritos da competição, em Sem Querer? tudo começa a partir de um postal. Há recordações que são reavivadas através dele, que representa um quadro que marcou várias fases da vida da protagonista desta curta-metragem. Desde que o postal chega, ela passa a ir todos os dias ao museu, contemplar a pintura, até ao dia em que algo acontece. Cor e imaginação é o que não falta a esta curta-metragem portuguesa.
8.5/10