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sábado, 29 de setembro de 2018

Crítica: Mandy (2018)

"That was my favorite shirt!"
Red Miller
*4/10*

Assim não. Mandy é estética pura e dura, é beleza de cor e luz, onde se cria uma dimensão paralela de êxtase ou pura vingança. Mas a estética não deve servir apenas para criar um ambiente de putrefacção que descamba - cedo de mais - para a comédia negra sem propósito. A vingança fica pelo caminho e entra-se numa estranha paródia da qual dificilmente conseguiremos desfrutar, a menos que as personagens partilhem connosco as suas drogas experimentais.

Em 1983, algures numa região isolada das Shadow Mountains, na Califórnia, o lenhador Red Miller  (Nicolas Cage) vive apaixonado pela encantadora Mandy Bloom (Andrea Riseborough). Mas a vida pacata que construiu para si mesmo desmorona-se súbita e tragicamente quando um grupo de fanáticos religiosos invade o seu paraíso. A existência de Red resume-se agora a um único pensamento: vingança.


Mandy é psicadélico, com um excepcional trabalho de fotografia, com cores neon e vibrantes, e sombras que denunciam tanto o terror como a paródia. A banda sonora de Jóhann Jóhannsson é aterradora e atordoante, combinando com o visual do filme de Panos Cosmatos.

A vingança, que comanda a narrativa - pouco consistente -, parece dotar o malfadado protagonista de super-poderes. E eis o super-herói coberto de sangue, que desfila pela floresta em busca das suas presas. Entretanto, vamos encontrando algumas referências a outros filmes de terror um pouco por toda a parte. O próprio visual de início dos anos 80 está bem construído e faz-nos esquecer, por vezes, que Mandy é um filme de 2018.

Sem qualquer dúvida que Nicolas Cage é o melhor de Mandy. Cage being Cage, e está tudo dito. O actor é multifacetado e assume qualquer papel com a mesma seriedade e respeito.


Apesar da eficiência estética, a violência sem propósito, a única intenção de espalhar gore e sangue por todo o ecrã, com a desculpa do humor negro como que para justificar aquilo que por vezes roça o ridículo (vamos lá medir a masculinidade dos personagens através de uma luta de motosserras, que tal?), Mandy não consegue sair do medíocre. Uma pena, num filme à primeira vista tão prometedor.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Crítica: A Teoria de Tudo / The Theory of Everything (2014)

"I have a slight problem with the celestial dictatorship premise."
Stephen Hawking

*7/10*

"Conto de fadas" é uma boa expressão para caracterizar A Teoria de Tudo que, apesar do seu tom positivo e romântico, não deixa de se revelar melhor do que o esperado, assentando especialmente nas surpreendentes interpretações do seu elenco. Tudo é muito cor-de-rosa, construído para ser bonito ou para emocionar, mas, no fim de contas, A Teoria de Tudo acaba por ser um interessante e intimo retrato de um casamento que durou o tempo que tinha de durar.

A Teoria de Tudo debruça-se sobre a relação entre o famoso físico Stephen Hawking e a sua mulher Jane, desde o tempo da Universidade, quando o diagnosticaram com esclerose lateral amiotrófica.

Anthony McCarten adaptou o livro de Jane Hawking, e falha ligeiramente por não se dedicar um pouco mais a Stephen e às suas descobertas, mas sim, quase exclusivamente, ao seu casamento. O tom é demasiado romântico, construído para apelar às lágrimas da plateia, mas com uma aura positiva que torna tudo menos emocionante do que se tivesse um pouco mais da crueza da realidade. No centro de A Teoria de Tudo está, exactamente, um casamento e a forma como o casal lidou com o desenvolvimento da doença de Stephen. O Tempo tem aqui também uma importância simbólica curiosa, menos pelas teorias do físico que apenas conhecemos brevemente, mas pela forma como os dois anos de esperança de vida que lhe deram se traduziram em muitos mais e em muitos feitos, pessoais e profissionais.


No final, conhecemos melhor a mulher do que o homem - talvez porque tudo tenha sido inspirado nas suas memórias -, e, se a realidade for tão semelhante à ficção, aqui temos uma grande mulher. Tão grande como ela é a interpretação de Felicity Jones, que se entrega de alma e coração à personagem, que parece ter estudado bem, numa especial atenção a gestos e palavras. O esforço dá frutos e, como JaneFelicity sofre e sacrifica-se como poucas.

Ao seu lado está Eddie Redmayne como Stephen, numa interpretação extremamente física, que exigiu do actor um treino esforçado. Perdeu peso, alterou a postura, e o resultado é surpreendente, mesmo nas parecenças com o original. Apesar de muito competente, talvez Redmayne tenha colocado o desempenho físico ligeiramente à frente do psicológico e seria interessante ter sentido um pouco mais de entrega nesse aspecto.


Tecnicamente, tudo parece estar desenhado de acordo com a história, com James Marsh a fazer um trabalho competente mas muito muito "encantado" - o encanto vai passando com o deteriorar do estado de saúde de Stephen - na realização, e com a banda sonora, de Jóhann Jóhannsson a destacar-se como o ponto mais forte.

A Teoria de Tudo é, fundamentalmente, um filme de grandes interpretações, onde viajamos no tempo e acompanhamos a intimidade de um casal e a sua luta para lidar com a doença, que chegou cedo demais.