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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

LEFFEST'13: O que ver?

O Lisbon & Estoril Film Festival está  mesmo a chegar e a oferta cinematográfica (e não só) é muita e variada. Entre 8 e 18 de Novembro, o festival promete animar Lisboa e Estoril, trazendo até nós grandes títulos e e figuras ilustres das artes.

O Hoje Vi(vi) um Filme dá-te 10 sugestões que não deves perder no LEFFEST'13.

A Vida de Adèle: Capítulos 1 e 2, de Abdellatif Kechiche
Adèle é uma adolescente de 15 anos, cuja vida muda quando conhece Emma, uma jovem de cabelo azul que a apresenta ao desejo e à vontade de se afirmar como mulher adulta. Diante do olhar dos outros, Adèle cresce, procura-se, perde-se, encontra-se. A Vida de Adèle: Capítulos 1 e 2 venceu a Palma de Ouro no último Festival de Cannes e o realizador Abdellatif Kechiche marcará presença no Lisbon & Estoril Film Festival.

O Grande Mestre, de Wong Kar-Wai
O realizador Wong Kar-Wai é um dos homenageados desta edição do LEFFEST, e, ao mesmo tempo, o seu mais recente filme, O Grande Mestre, é apresentado em antestreia nacional no festival. No mundo das artes marciais existem muitos Mestres, mas o título de Grande Mestre pertence apenas a uma lenda. O professor de Bruce Lee, de nome Ip Man, era um homem  de acção que sabia que o último homem a ficar de pé seria o escolhido. Ele acreditava ser esse homem até conhecer uma verdadeira rival, um génio das artes marciais vindo da Manchúria chamada Gong Er que era considerada uma lenda e uma linda mulher.

The Immigrant, de James Gray
James Gray estará presente no LEFFEST'13 onde é homenageado e apresenta o seu mais recente filme, The Immigrant, protagonizado por Jeremy Renner, Joaquin Phoenix e Marion Cotillard. Duas irmãs, Ewa Magda, deixam a Polónia rumo a Nova Iorque. Quando chegam a Ellis Island, Magda é internada de quarentena por sofrer de tuberculose. Sozinha e desamparada, Ewa conhece Bruno, um proxeneta sem escrúpulos e, para salvar a irmã, acaba por se prostituir. A chegada de Orlando, um ilusionista primo de Bruno, traz esperança e confiança a Ewa, contudo, o ciúme de Bruno é imprevisível.

Jimmy P., de Arnaud Desplechin
Arnaud Desplechin é mais uma presença confirmada no Lisbon & Estoril Film Festival e traz consigo Jimmy PApós a Segunda Guerra Mundial, Jimmy P., um índio Blackfoot que lutou em França, é admitido no hospital militar de Topeka, uma instituição especializada em doenças mentais. Na ausência de causas fisiológicas, é-lhe diagnosticada esquizofrenia. É durante o tratamento que Jimmy conhece Georges Devereux, o antropólogo e psicanalista francês, especializado em culturas nativas americanas.

Vénus de Vison, de Roman Polanski
O novo trabalho de Polanski é Vénus de Vison, mais uma antestreia nacional no LEFFEST'13. Sozinho num teatro parisiense após um dia de audições a actrizes para a peça que está prestes a encenar, Thomas (Mathieu Amalric) lamenta ao telefone o fraco desempenho das candidatas. Ninguém tem a dimensão necessária para assumir o papel principal, e quando se prepara para sair, surge Vanda (Emmanuelle Seigner), um verdadeiro turbilhão de energia, tão desenfreada como atrevida. Vanda incorpora tudo o que Thomas odeia. Ela é vulgar, insensata, e fará de tudo para conseguir o papel.

Inside Llewyn Davis, de Joel Coen, Ethan Coen
Em Cannes venceu o Grande Prémio, e agora o mais recente trabalho dos irmãos Coen chega ao LEFFEST. Inside Llewyn Davis mostra uma semana na vida de um jovem cantor no mundo musical de Greenwich Village, em 1961. Quando um Inverno severo atinge Nova Iorque, Llewyn Davis, com a sua guitarra na mão, luta para ganhar a vida como músico e enfrenta obstáculos aparentemente intransponíveis, começando com aqueles que ele mesmo cria. Ele sobrevive graças ao apoio dado por amigos ou estranhos, aceitando qualquer pequeno trabalho.

Only Lovers Left Alive de Jim Jarmusch
Com nomes como Tom Hiddleston, Tilda Swinton, Mia Wasikowska ou John Hurt no elenco, Only Lovers Left Alive não poderia deixar de constar nesta lista de sugestões. Nas cidades românticas e desoladas de Detroit e Tânger, Adam (Tom Hiddleston), um músico profundamente deprimido, encontra Eve (Tilda Swinton), a sua amante, uma mulher robusta e enigmática. Esta história de amor dura há séculos, mas este idílio libertino é interrompido pela chegada da pequena irmã de Eve, extravagante e incontrolável. Estas duas pessoas à margem, sábias mas frágeis, poderão continuar a sobreviver no mundo moderno que está em colapso ao seu redor?

O Passado de Asghar Farhadi
Depois do sucesso de Uma Separação, Asghar Farhadi regressa com O Passado, com uma temática semelhante à do trabalho anterior. Depois de quatro anos de separação, Ahmad chega a Paris a partir de Teerão, a pedido de Marie, a sua esposa francesa, para realizar as formalidades do seu divórcio. Durante a sua breve estadia, Ahmad percebe a relação conflituosa que Maria tem com a filha, Lucia. Os esforços que Ahmad faz para tentar melhorar esse relacionamento irão desvendar um passado secreto. Bérénice Bejo, a protagonista, venceu em Cannes o Prémio para Melhor Actriz pela sua interpretação neste filme.

Faust - Eine deutsche Volkssage de F.W. Murnau
Dentro da secção Cinema & Literatura, Faust - Eine deutsche Volkssage é um clássico imperdível, que pode ser visto ou revisto no LEFFEST. Atormentador da humanidade com a guerra, a peste, ou a fome, Mephisto acredita que a terra lhe pertence. O Arcanjo Gabriel evoca o nome de Fausto, um velho erudito, cuja vida toda é prova de que a Terra não é completamente sujeita ao mal.

Tabu de Miguel Gomes
Na secção 15 Anos, 15 Filmes - Mostra de Cinema Iberoamericano do LEFFEST'13, encontramos o português Tabu, de Miguel Gomes. Aqui está mais uma excelente oportunidade para ver ou rever um filme que pede para ser visto no ecrã de cinema. Pilar vive os seus primeiros anos de reforma a tentar endireitar o mundo e a lidar com as culpas dos outros. Ela inquieta-se, sobretudo, com a solidão da sua vizinha Aurora, uma octogenária temperamental e excêntrica, que foge para o casino se tiver dinheiro, fala da filha que pouco se importa com ela, ressaca antidepressivos e desconfia que Santa, a sua  empregada cabo-verdiana, dirige contra ela práticas de voodoo. É a partir de um misterioso pedido de Aurora, que Pilar e Santa se unem para o tentar cumprir. Quer encontrar-se com um homem, Gianluca Ventura, que até então ninguém sabia que existia. Ventura tem um pacto secreto com Aurora e uma história por contar. Uma história passada há cinquenta anos, pouco antes do início da Guerra Colonial portuguesa.

Para além destes títulos, há muito mais para ver no LEFFEST e outras actividades, como espectáculos, exposições, encontros e leituras. Para mais informações e programa completo é só seguir este link.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Prémios Sophia 2013: Vencedores

Foi no passado Domingo, dia 6 de Outubro, que o Teatro Nacional de São Carlos abriu portas para receber a 1ª gala de entrega de prémios da Academia Portuguesa de Cinema. Florbela e Tabu foram os grandes vencedores da noite. O primeiro conquistou seis estatuetas (Melhor Actriz Principal e Secundária, Melhor Realizador, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Guarda-Roupa), e o segundo venceu o grande prémio da noite para Melhor Filme, bem como Melhor Montagem.

A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu ainda o trabalho do director de fotografia Acácio de Almeida, do distribuidor José Manuel Castello Lopes e da actriz Laura Soveral com Prémios Carreira. Já o Prémio Sophia de Mérito e Excelência foi atribuído a Manoel de Oliveira.

A cerimónia contou com a apresentação de José Pedro Vasconcelos e será transmitida em diferido pela RTP em data a anunciar.
Aqui fica a lista completa de vencedores nas 21 categorias:

Melhor Filme
Tabu

Melhor Actor Principal
Carlos Santos, Operação Outono

Melhor Actriz Principal
Dalila Carmo, Florbela

Melhor Actor Secundário
Albano Jerónimo, As Linhas de Wellington

Melhor Actriz Secundária
Anabela Teixeira, Florbela

Melhor Argumento Original
Carlos Saboga, As Linhas de Wellington

Melhor Argumento Adaptado
Bruno de Almeida, Frederico Delgado Rosa e John Frey, Operação Outono

Melhor Realizador
Vicente Alves do Ó, Florbela

Melhor Fotografia
Luís Branquinho, Florbela

Melhor Direcção Artística
Isabel Branco, As Linhas de Wellington

Melhor Som
Jaime Barros, Tiago Matos e Elsa Ferreira, Florbela

Melhor Guarda- Roupa
Sílvia Grabowski, Florbela

Melhor Caracterização
Íris Peleira, As Linhas de Wellington

Melhor Montagem
Telmo Churro e Miguel Gomes, Tabu

Melhor Música
The Legendary Tigerman e Rita Redshoes, A Estrada de Palha

Melhor Filme Documentário em formato de longa-metragem
É na Terra não é na Lua, Gonçalo Tocha

Melhor Curta-Metragem de Ficção
Cerro Negro, João Salaviza

Melhor Curta-Metragem de Animação
Kali, o pequeno vampiro, Regina Pessoa

Melhor Curta-Metragem em Formato de Documentário
Raúl Brandão Era Um Grande Escritor, João Canijo

domingo, 19 de maio de 2013

Globos de Ouro SIC 2013: Cinema

Foram há poucos minutos anunciados os vencedores dos Globos de Ouro Sic, nas categorias de Cinema: Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Actriz.

Tabu, Nuno Lopes e Dalila Carmo conquistaram os galardões nas suas categorias.

Aqui fica a lista completa de nomeados:

Melhor Filme
Tabu
Florbela
Linhas de Wellington
O Gebo e a Sombra


Melhor Actor
Nuno Lopes (Linhas de Wellington)
Carlos Santos (Operação Outono)
Carloto Cotta (Tabu)
Rui Morrison (Em Câmara Lenta)


Melhor Actriz
Dalila Carmo (Florbela)
Ana Moreira (Tabu)
Laura Soveral (Tabu)
Rita Durão (A Vingança de Uma Mulher)

domingo, 30 de dezembro de 2012

Os Melhores do Ano: Top 10 #2012

Em 2012, o ano em que os melhores filmes estreados datam, na sua grande maioria, de 2011, homenagens ao cinema parecem não ter faltado nas salas portuguesas, umas mais puras e bem intencionadas que outras. Não tendo sido um ano de grande cinema, o que nos chegou com um ou mais anos de atraso foi o suficiente para reunir pelo menos dez títulos que detêm mérito suficiente para serem classificados como os melhores do ano.

Apresento-vos, de seguida, o meu top 10 de 2012.

10. Millennium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres (The Girl with the Dragon Tattoo), de David Fincher, 2011
Millenium 1: Os Homens que Odeiam as Mulheres foi, no seu conjunto, uma óptima surpresa. Apesar de não fugir tanto assim ao original sueco, todos os aspectos técnicos estão perto da perfeição e a identidade de Fincher está bastante marcada. O mistério e o suspense perduram do início ao fim e é impossível odiar a mulher do filme: Lisbeth Salander (e Rooney Mara) irá apaixonar.



9. Era uma vez na Anatólia (Bir zamanlar Anadolu'da), de Nuri Bilge Ceylan, 2011
A Natureza e as tormentas de cada um andam de mãos dadas com a própria morte nos 150 minutos de um filme profundo e visualmente fantástico. Era Uma Vez na Anatólia chega-nos da Turquia e percorre os medos dos seus personagens, conseguindo igualmente fazer vir ao de cima os do próprio espectador. Da noite, por entre os campos desertos da Anatólia em busca de um corpo, ao dia, numa vila cheia de dificuldades, Era Uma Vez na Anatólia, com título de conto de fadas, com quem apenas partilha os cenários meio bucólicos, meio fantásticos, faz-nos reflectir, ao mesmo tempo que nos fascina, por entre paisagens nocturnas onde somos convidados a mergulhar.



8. Tabu, de Miguel Gomes, 2012
Histórias de quem pensa mais em si do que nos outros e de amores e desamores, entre Moçambique e Portugal. O argumento, relativamente simples, alia-se de tal forma a aspectos mais técnicos que lhe conferem uma complexidade e beleza a que já não se está habituado no cinema. Rodado em 35 mm e a preto e branco, Tabu tem ainda a singularidade das cenas de Moçambique, presentes na sua segunda parte, terem sido filmadas em 16 mm, deixando-nos ver melhor o grão da película. A nostalgia de um amor proibido paira em Tabu, que prima pela beleza visual e originalidade que traz ao cinema. Recupera métodos que parecem estar a ser esquecidos e mostra como, nos dias de hoje, filmes assim também funcionam e muito bem.



7. Amor (Amour), de Michael Haneke, 2012
Tocante, perturbador, mas repleto de Amor, é assim a mais recente longa-metragem de Michael Haneke, que lhe valeu mais uma Palma de Ouro em Cannes. Aqui a máxima do “até que a morte vos separe” é cumprida, e já o sabemos desde os primeiros minutos. Compreendemos, desde logo, que Amor não é para ser visto de ânimo leve e irá mexer com o que há de mais intrínseco em cada um de nós. Amor é um retrato de uma vida a dois, de um amor capaz de salvar, que nos põe cara a cara com a dura realidade que fazemos por esquecer.



6. Sr. Ninguém (Mr. Nobody), de Jaco Van Dormael, 2009
Nos últimos anos, poucos são os filmes com um imaginário tão forte e, ao mesmo tempo, que tocam tão fundo. Sr. Ninguém é, para já, um exemplo de originalidade e, ao mesmo tempo, de coerência no meio de muitos paradoxos. Aqui, o tempo não é constante e a realidade também não. Está-se perante várias dimensões, histórias paralelas e não sabemos qual delas é real. Sonho, ilusão, alucinação, delírio, imaginação... tudo se mistura também na nossa cabeça, tal como na de Nemo Nobody. Até ao fim, faz-nos reflectir, e deixar-nos-á com muitas questões: Afinal, o que é real, o que faz parte do imaginário? Sr. Ninguém tem o poder de alimentar a nossa mente, pela profundidade argumentativa, beleza visual e pela união perfeita de ambas.




5. A Invenção de Hugo (Hugo), de Martin Scorsese, 2011
A paixão de Scorsese pelo Cinema foi mais forte e o realizador fugiu ao seu género habitual para nos trazer, desta vez, um filme fascinante, que irá certamente apaixonar os verdadeiros fãs de cinema e encantar todos os outros. A Invenção de Hugo é a verdadeira homenagem à história da Sétima Arte, feita por quem também faz parte dela. A preservação da herança cinematográfica está em cima da mesa em A Invenção de Hugo e, mais do que um alerta para todos nós, o filme quer fazer-nos lembrar e viajar (de comboio, porque não?) até aos primórdios da Sétima Arte. Com Hugo, vamos sonhar.



4. Attenberg, de Athina Rachel Tsangari, 2010
Apesar da estranheza que possa provocar nas mentes menos preparadas para Attenberg, a longa-metragem grega, realizada sem pudor por Athina Rachel Tsangari, tem em si uma enorme profundidade e mexe, inevitavelmente, com as emoções da plateia. Tão hilariante como triste e melancólico, Attenberg não deixa ninguém indiferente, e detém uma singular sensibilidade provocatória. Um ensaio sobre a descoberta e sobre experiências que marcam e com as quais é difícil lidar, a vários níveis, com uma protagonista  muito especial que conquista o espectador com a sua inocência e excentricidade.



3. Procurem Abrigo (Take Shelter), de Jeff Nichols, 2011
O medo comanda Procurem Abrigo, e não é apenas o medo do Apocalipse que está em jogo, é o medo de si mesmo e do que o rodeia. As questões ficam em cima da mesa ao longo do filme: doença mental ou realidade? alucinações ou premonições? É impossível sentirmo-nos seguros ao acompanhar o dia-a-dia de Curtis, brilhantemente interpretado por Michael Shannon. Jeff Nichols faz-nos sentir o mesmo que o protagonista, coloca-nos nos seus sonhos, nas suas alucinações, ficaremos tão obcecados como ele. O medo do fim ou o medo de nós mesmos, Procurem Abrigo é um filme para fazer pensar, muito para lá da sala de cinema.



2. Vergonha (Shame), de Steve McQueen, 2011
Sem medo nem pudor, Steve McQueen quis dar-nos a conhecer a Vergonha de um viciado em sexo. Um filme sufocante e incómodo, que está muito longe do erotismo que se poderia prever. Fassbender é também o responsável pela excelente concretização de Vergonha, encarnando de corpo e alma o perturbado Brandon, que trava uma luta contra si mesmo. Não havendo nada que nos possa fazer simpatizar com o protagonista, o certo é que a sua angústia, sofrimento e obsessão pelo prazer,  acabam por   deixar o espectador consternado e verdadeiramente envolvido.



1. Temos de Falar sobre Kevin (We Need to Talk About Kevin), de Lynne Ramsay, 2011
Temos de Falar sobre Kevin é, antes de mais, aterrador. "Alguém pode ser responsável pela maldade do outro?" é uma das muitas questões que irão perdurar depois de assistir a este filme. Inquietante, perturbador, cheio de emoções fortes e com as quais é difícil lidar. Temos de Falar sobre Kevin é de uma grandeza extraordinária, quer pelas sensações e sentimentos que faz despertar, quer pela forma como toda a história de Eva e Kevin é apresentada. Com uma extraordinária interpretação de Tilda Swinton, a longa-metragem de Lynne Ramsay é uma obra-prima que todos deveriam ver.


(As menções honrosas do 11º ao 16º lugares podem ser encontradas aqui.)

sábado, 21 de abril de 2012

Crítica: Tabu (2012)

"Sou uma tola, porque a vida das pessoas não é como nos sonhos"
Aurora

Histórias de quem pensa mais em si do que nos outros e de amores e desamores, entre Moçambique e Portugal. Tabu traz tudo isto a preto e branco, filmado em 35 mm e no formato 1:1.37 (ecrã quadrado), é um filme que deve ser visto no cinema. Miguel Gomes quis assim voltar a surpreender tudo e todos depois de Aquele Querido Mês de Agosto, e Tabu já arrecadou o Prémio Alfred Bauer, para a inovação, e o Prémio Especial da Crítica, no último Festival de Berlim, e mais dois no Festival Internacional de Cinema de Las Palmas, o Prémio Lady Harimaguada de Prata e o Prémio do Público.

As histórias de Pilar, Santa, Aurora e Gianluca Ventura tudo contado de forma singular. Pilar vive os seus primeiros anos de reforma a tentar endireitar o mundo e a lidar com as culpas dos outros. Os seus dias dividem-se entre vigílias pela paz e grupos católicos de intervenção social, mas inquieta-se, sobretudo, com a solidão da sua vizinha Aurora, uma octogenária temperamental e excêntrica, que foge para o casino se tiver dinheiro, fala da filha que pouco se importa com ela, ressaca antidepressivos e desconfia que Santa, a sua  empregada cabo-verdiana, dirige contra ela práticas de voodoo. De Santa pouco se sabe, é de poucas palavras, executa ordens e acha que cada um deve meter-se na sua própria vida. É a partir de um misterioso pedido de Aurora, que as outras duas se unem para o tentar cumprir. Quer encontrar-se com um homem, Gianluca Ventura, que até então ninguém sabia que existia. Pilar e Santa descobrem o seu paradeiro, mas informam-nas de que já não está bom da cabeça. Ventura tem um pacto secreto com Aurora e uma história por contar. Uma história passada há cinquenta anos, pouco antes do início da Guerra Colonial portuguesa.


A história de Tabu divide-se em duas partes. A primeira, Paraíso Perdido, passa-se em Lisboa e dá-nos a conhecer a altruísta Pilar, Santa e uma Aurora idosa. O quotidiano das três é-nos apresentado e é aqui que começamos a estabelecer empatia com as personagens, sem nada saber ainda do seu passado. Esse é-nos contado na segunda parte - Paraíso -,onde ficamos a conhecer a juventude de Aurora e de Gianluca e todos os segredos tão bem guardados na parte inicial de Tabu.

As personagens possuem características muito próprias que as tornam únicas no seu universo. Pilar, para além de todos os gestos altruístas que ocupam os seus dias, parece trazer para o filme uma paixão pelo cinema, que frequenta com regularidade. Muito religiosa, preocupa-se com todos, descurando-se a si mesma. Aurora, em idosa, apresenta-se debilitada, com alguns rasgos de excentricidade, por vezes pouco lúcida, mas, apesar de tudo, mantendo uma personalidade forte que já vem da sua juventude, aventureira e corajosa. Gianluca, um playboy enquanto jovem, é, em idoso, o narrador nostálgico de toda a segunda parte de Tabu. E para personagens tão boas, actores à altura. Teresa Madruga entrega-se a Pilar, uma das personagens com quem mais iremos simpatizar e que é fundamental para conhecer toda a história. Aurora em idosa é interpretada pela veterana Laura Soveral, que lhe confere algo de especial e mágico. 50 anos antes, Ana Moreira dá-lhe toda a jovialidade e firmeza características, uma mulher decidida e sem medo de nada. Gianluca Ventura tem também dois interpretes de peso: em idoso Henrique Espírito Santo é quem lhe veste a pele, em jovem é Carlotto Cota quem encarna o aventureiro.


Os diálogos são muito bons, com frases marcantes para a história, e uma narração que diz tudo o que queremos saber, a seu tempo. O argumento, relativamente simples, alia-se de tal forma a aspectos mais técnicos que lhe conferem uma complexidade e beleza a que já não se está habituado no cinema. Para além de ser rodado em 35 mm e a preto e branco, as cenas de Moçambique, presentes em Paraíso, foram filmadas em 16 mm, e deixam-nos ver melhor o grão da película. Mais ainda, nessa segunda parte nunca ouvimos as vozes dos actores jovens, podemos escutar todos os outros sons, como se estivéssemos lá, os pássaros, a água, alguém bater à porta, mas as personagens surgem-nos mudas, sendo a única voz presente a do narrador, Ventura, que nos conta tudo o que aconteceu na sua juventude. Miguel Gomes fez um trabalho de realização excelente, aliado a uma fotografia fantástica e banda sonora que se encaixa da melhor forma em todo o ambiente.

A nostalgia de um amor proibido paira em Tabu, que prima pela beleza visual e originalidade que traz ao cinema. Recupera métodos que parecem estar a ser esquecidos e mostra como, nos dias de hoje, filmes assim também funcionam e muito bem.
*8.5*

terça-feira, 17 de abril de 2012

2012 e o Cinema Português

Desde o inicio do ano, já estrearam nos cinemas dez produções nacionais: Paixão, O Que Há de Novo No Amor?, Em Câmara Lenta, O Dia Mais Feliz da Tua Vida, Florbela, Swans, É Na Terra Não É Na Lua, A Vingança de Uma Mulher, Tabu e Linha Vermelha. Esta Quinta-feira é a vez de Assim Assim, e nas próximas semanas chegam mais: A Teia de Gelo, Rafa e O Cônsul de Bordéus.

Destes vi muito menos do que desejaria, mas as críticas dizem que há cada vez mais qualidade no nosso cinema, claro, com algumas excepções. Dois dos já estreados já havia visto no IndieLisboa 2011: O Que Há de Novo no Amor?, já fora das salas e cuja minha crítica "Nada de Novo no Amor" está no Espalha-Factos, e Swans, que se revelou, a meu ver, um filme vazio de respostas ou explicações para comportamentos e acontecimentos por vezes mórbidos e de muito mau gosto.

Hoje remediei parte da minha falha e assisti a mais duas produções nacionais: Tabu e A Teia de Gelo (visto em visionamento de imprensa, estreia nos cinemas a 3 de Maio). Brevemente publicarei por aqui críticas a ambos. Aqui ficam os trailers e a recomendação para assistirem a Tabu, antes que saia das salas, um pouco por todo o país.

Tabu
Realizado por Miguel Gomes e com um elenco de renome, Tabu traz-nos algo de diferente e de muito bom ao cinema português. As histórias de Pilar, Santa, Aurora Gianluca Ventura, altruísmo, amores e desamores, tudo contado de forma singular.

A Teia de Gelo
Nicolau Breyner volta à realização com A Teia de Gelo, um filme que terá duas versões, uma em português, outra em inglês. Reúne um elenco de caras bem conhecidas do cinema e da televisão e promete trazer muito suspense ao cinema português. Com um argumento não muito forte mas com alguns bons momentos, e dotado de grande qualidade técnica, este filme, que vai de São Tomé e Príncipe à Serra da Estrela, poderá ser uma boa opção para ver no próximo mês de Maio.

domingo, 8 de abril de 2012

Sugestão da Semana #6

Dos filmes estreados na passada Quinta-feira, recomendo o filme português:

TABU

Ficha Técnica:
Título Original: Tabu
Realizador: Miguel Gomes
Argumento: Miguel Gomes e Mariana Ricardo
Elenco: Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta, Isabel Cardoso, Ivo Müller, Manuel Mesquita
Género: Drama
Classificação: M/12
Duração: 118 minutos