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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Entrevista: Ana Moreira, protagonista de Sombra: «Compreendi imediatamente que iria ser um grande desafio»

Sombra continua nos cinemas e, depois do realizador Bruno Gascon, foi a protagonista, a actriz Ana Moreira, que respondeu a algumas perguntas do Hoje Vi(vi) um Filme sobre o desafio de interpretar Isabel e dar voz a tantas mães que continuam a procurar os filhos desaparecidos.

Como surgiu a oportunidade de protagonizar Sombra? Como encaraste o desafio?

Ana Moreira: O convite partiu directamente do realizador Bruno Gascon e da produtora Joana Domingues, onde num primeiro encontro ambos me apresentaram o projecto e a possibilidade de fazer a personagem principal. Compreendi imediatamente que iria ser um grande desafio a nível de trabalho, que era um projecto que o realizador e a produtora estavam muito motivados em concretizar e que reuniam todas as condições para o fazer. Foi uma grande viagem que resultou muito bem.

Como te preparaste para um papel tão exigente emocionalmente?

Ana Moreira: A preparação teve várias fases, desde os encontros iniciais com o realizador onde discutimos e partilhamos ideias sobre o projecto, sobre a história do filme e sobre a minha personagem, desde a leitura do argumento e ensaios com todo o elenco, às provas de figurinos que foram muito importantes para a construção da personagem, aos testes de maquilhagem e sobretudo de caracterização que marca a passagem do tempo no filme, que faz um arco de cerca de 15 anos. Mas um dos aspectos mais importantes para mim, foi a oportunidade de falar com algumas mães de crianças desaparecidas e ficar a conhecer de uma forma mais íntima e profunda as suas histórias. 

Em Sombra, a tua personagem dá voz a tantas mães que nunca encontraram os filhos. Inspiraste-te em alguma destas mulheres em especial, sendo que a mãe de Rui Pedro, Filomena, será sempre a mais mediática?

Ana Moreira: Tanto eu como o Bruno construímos esta personagem com alguma liberdade, pois, apesar de o filme ser baseado em factos verídicos, não deixa de se tratar de uma obra de ficção. No entanto, existe uma clara influência das histórias reais destas mulheres que se reflete tanto no filme como na minha personagem, a Isabel. Nesse sentido a Filomena Teixeira é talvez a inspiração maior do filme e para mim foi muito importante e especial conhecê-la e voltar a ouvir a sua história de uma forma mais pormenorizada para a preparação de personagem.

Como olharia a Ana Moreira de Os Mutantes, a Andreia, a adolescente perdida na vida, sem pais que se preocupassem, para a Ana Moreira de Sombra, Isabel, uma mãe a quem o filho foi roubado? São duas personagens marcantes na tua carreira, e em épocas distintas da tua vida, ambas extremamente exigentes... O que diriam uma à outra?

Ana Moreira: Creio que são ambos filmes que tocam em temas sociais pertinentes. Os Mutantes fala de um conjunto de crianças adolescentes sem lugar,  abandonadas por uma sociedade que não as quer ver,  entregues a instituições que não funcionam bem e o Sombra fala da luta de uma mãe em busca de um filho desaparecido que enfrenta todo um sistema judicial que na altura também falhou. Dessa forma, ambos os filmes falam da negligência e da falta de apoio por parte do Estado e da sociedade às crianças e mães deste país. Nesse sentido, o  cinema pode também ter a função de nos dar a conhecer realidades que embora  não façam parte da vida quotidiana do espectador, são importantes e merecem um lugar de visibilidade, debate e reflexão.

O que esperas da receptividade do público português ao filme?

Ana Moreira: A receptividade tem sido muito positiva, este é um filme que reúne todos os ingredientes para ser bem recebido tanto pelo público como pela crítica especializada.

Que projectos se seguem?

Ana Moreira: Neste momento encontro-me em ensaios para o novo espetáculo do coletivo Silly Season, uma peça com o título Hotel Royal. Vamos estrear no final do mês de Novembro no Teatro Baltazar Dias, no Funchal, e logo em Dezembro vamos estar em Lisboa na Escola de Mulheres, na Estefânia, para depois seguirmos com mais datas noutros teatros pelo país fora. 

domingo, 17 de outubro de 2021

Sugestão da Semana #477

Das estreias da passada Quinta-feira, a Sugestão da Semana destaca o filme português Sombra, realizado por Bruno Gascon e protagonizado por Ana Moreira. O filme, que aborda a temática do desaparecimento de crianças e se baseia no Caso Rui Pedro, tem crítica no Hoje Vi(vi) um Filme.



Ficha Técnica:
Título Original: Sombra
Realizador: Bruno Gascon
Elenco: Ana Moreira, Miguel Borges, Vítor Norte, Tomás Alves, Ana Cristina Oliveira, Sara Sampaio, Joana Ribeiro, Oksana Tkach, Ana Bustorff, Sara Norte
Género: Drama
Classificação: M/14
Duração: 115 minutos

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Crítica: Sombra (2021)

"Eu só sei esperar por ele."

Isabel

*6.5/10*

Bruno Gascon não receia temas delicados e o realismo social continua a marcar a sua filmografia. Depois do tráfico humano, em Carga (2018), agora o foco está nas crianças desaparecidas e suas famílias, a quem Sombra, a segunda longa-metragem do realizador, presta homenagem.

"Em 1998, Isabel tinha a família perfeita até que um dia chega a casa e descobre que o seu filho de 11 anos desapareceu. A partir desse momento tudo muda. Apesar da cobertura mediática do caso e da existência de um suspeito a justiça falha constantemente e Isabel percebe que somente ela poderá manter viva a busca por Pedro. Passam-se quinze anos e apesar de todos os obstáculos que encontra Isabel vai continuar a fazer de tudo para reencontrar o filho que todos querem que esqueça, mas que ela acredita que ainda está vivo."

O desaparecimento de crianças, a dor das famílias, a incompetência das autoridades e o mediatismo temporário dos casos, tudo se transforma num pesadelo interminável que Sombra retrata bem. Apesar de um início morno, a longa-metragem ganha intensidade e tensão, em especial, quando surgem novos dados e um novo inspector à frente da investigação. O Caso Rui Pedro foi uma das grandes referências de Bruno Gascon para este filme.

O filme divide-se por anos, com a montagem a destacar a passagem do tempo, o quanto o caso se arrasta com poucos ou nenhuns desenvolvimentos, e o definhar de uma família, totalmente destroçada. Pelo meio, há interlúdios onde ouvimos, em voz off, a protagonista Isabel, a falar sobre o que sente e o quanto lhe dói a ausência do filho, como se mergulhasse num abismo sem fim, e que são um ponto menos positivo do filme, cortando o ritmo da acção. Tudo o que nos é dito nós vemos e captamos na interpretação sentida e emotiva de Ana Moreira, em cada plano, em cada cena.

E a actriz é sublime na pele de Isabel. A fragilidade que aparenta esconde a força de nunca desistir, a resiliência, mesmo que a dor a tente derrubar (e a vença, momentaneamente), várias vezes, ao longo dos anos. Em Sombra, os expressivos olhos da actriz são verdadeiro espelho do que vai na alma e coração da personagem. No elenco, destaque ainda para Miguel Borges, o pai, num conflito constante entre seguir em frente ou continuar a alimentar a esperança de encontrar o filho; e Ana Cristina Oliveira, mais uma vez num papel secundário - mas chave para esta história -, que desempenha com a garra e talento que a tem caracterizado.

Ainda de destaque é o trabalho da direcção de fotografia que realça as sombras do título, criando um ambiente escuro e frio, adensando a tristeza que assombra a vivência desta família. E entre os tons sombrios que percorrem o filme, há uma cor viva que sobressai como luz no guarda roupa de Isabel (e também na cor do lettering do título): o amarelo, que Ana Moreira enverga em quase todas as cenas (seja num vestido, blusa ou mala de viagem), e parece sugerir a réstia de expectativa no reencontro com a alegria de viver perdida - e com o filho.

Sombra é uma homenagem aos que ficaram e continuam a lutar e aos que desapareceram para que nunca caiam no esquecimento.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Revelado Primeiro Teaser do filme Sombra

O primeiro teaser do filme Sombra, de Bruno Gascon, foi revelado. A longa-metragem é protagonizada por Ana Moreira e presta homenagem às mães de crianças desaparecidas.


Baseada em factos reais, Sombra é a segunda longa-metragem de Bruno Gascon, realizador de Carga (sobre tráfico humano). O filme gira em torno da dúvida permanente que assola os pais de crianças desaparecidas. Para escrever o guião, o realizador conversou com mães que atravessam esta situação, como Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro, o menino de 11 anos que desapareceu em 1998.

Sombra chega aos cinemas no dia 22 de Outubro e, no elenco, conta com nomes Ana Moreira, Miguel Borges, Vítor Norte, Tomás Alves, Joana Ribeiro, Sara Sampaio, Ana Cristina Oliveira, Lúcia Moniz, Raimundo Cosme, Oksana Tkach, Ana Bustorff, Miguel Monteiro, Sara Norte, João Cabral, Kim Grygierzec, entre outros.

Sinopse

Em 1998, Isabel tinha a família perfeita até que um dia chega a casa e descobre que o seu filho de 11 anos desapareceu. A partir desse momento tudo muda. Apesar da cobertura mediática do caso e da existência de um suspeito a justiça falha constantemente e Isabel percebe que somente ela poderá manter viva a busca por Pedro. Passam-se quinze anos e apesar de todos os obstáculos que encontra Isabel vai continuar a fazer de tudo para reencontrar o filho que todos querem que esqueça, mas que ela acredita que ainda está vivo. Uma mãe sabe.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Os Mutantes, Teresa Villaverde (1998)

*9/10*

Perdidos no mundo e na vida, Os Mutantes que Teresa Villaverde trouxe ao cinema português em 1998 comportou consigo um rasgo de desafio. A proximidade das personagens – que só podem contar connosco, o seu espectador atento e de confiança -, originada pela câmara da realizadora, obriga-nos a olhá-las nos olhos, sentir a sua dor e desespero. Pelo menos aqui não podemos evitar ver estes miúdos de rua “invisíveis”, incompreendidos. Não há julgamentos, nada de juízos de valor. É o realismo duro e cru(el), poucas vezes visto, até então, no cinema português.


Seguimos três protagonistas, Andreia (Ana Moreira), Pedro (Alexandre Pinto) e Ricardo (Nelson Varela), adolescentes que preferem a rua à clausura e às regras das instituições. Sem família, sem casa, sem um porto seguro. Abandonados à sua sorte (e azar), estes jovens tornam-se adultos cedo demais, ainda com o desconhecimento dos riscos que correm, tal como a criança que ainda são. O perigo espreita e estas almas selvagens apenas querem ser livres e aventuram-se, experimentam, e nós gostamos de acompanhá-los. Não há finais felizes, nem salvadores, nem plot twists, tudo é como tem de ser e, se por momentos esquecermos o lado ficcional, Os Mutantes podia ser um documentário (como inicialmente foi pensado pela realizadora que visitou muitas instituições de reinserção social).

Na sua primeira longa-metragem, a promissora Ana Moreira é Andreia e oferece-nos uma interpretação cheia de entrega e mágoa, num sofrimento interior carregado de inocência. Ao seu lado, Alexandre Pinto dá tudo de si na pele do jovem Pedro. Aqui, a maioria dos actores frequentavam realmente instituições semelhantes às que o filme mostra. As crianças e jovens marcam as obras de Villaverde e nesta longa-metragem eles são o motor da narrativa. São eles que nos transmitem a estranha (e quase contraditória) sensação de liberdade que nos contagia e inebria, até ao final.

Os Mutantes passou pela secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, em 1998, e é um marco que importa não esquecer no Cinema Português. A aura que paira sobre o filme é triste, desconfortável, mas envolve-nos, como poucos, e transmite os sentimentos mais fortes e contraditórios, faz-nos pensar. Teresa Villaverde foi uma revelação, com a audácia que o público ansiava, na denúncia de uma crua realidade. Os Mutantes ajudou a construir a História de sucesso do nosso cinema: não há muitas palavras que o definam, mas fica a certeza que todos deviam vê-lo e reflectir sobre ele.

*Texto originalmente publicado na rubrica Hollywood, tens cá disto? do Espalha-Factos. Lê o artigo completo aqui.*

sábado, 21 de abril de 2012

Crítica: Tabu (2012)

"Sou uma tola, porque a vida das pessoas não é como nos sonhos"
Aurora

Histórias de quem pensa mais em si do que nos outros e de amores e desamores, entre Moçambique e Portugal. Tabu traz tudo isto a preto e branco, filmado em 35 mm e no formato 1:1.37 (ecrã quadrado), é um filme que deve ser visto no cinema. Miguel Gomes quis assim voltar a surpreender tudo e todos depois de Aquele Querido Mês de Agosto, e Tabu já arrecadou o Prémio Alfred Bauer, para a inovação, e o Prémio Especial da Crítica, no último Festival de Berlim, e mais dois no Festival Internacional de Cinema de Las Palmas, o Prémio Lady Harimaguada de Prata e o Prémio do Público.

As histórias de Pilar, Santa, Aurora e Gianluca Ventura tudo contado de forma singular. Pilar vive os seus primeiros anos de reforma a tentar endireitar o mundo e a lidar com as culpas dos outros. Os seus dias dividem-se entre vigílias pela paz e grupos católicos de intervenção social, mas inquieta-se, sobretudo, com a solidão da sua vizinha Aurora, uma octogenária temperamental e excêntrica, que foge para o casino se tiver dinheiro, fala da filha que pouco se importa com ela, ressaca antidepressivos e desconfia que Santa, a sua  empregada cabo-verdiana, dirige contra ela práticas de voodoo. De Santa pouco se sabe, é de poucas palavras, executa ordens e acha que cada um deve meter-se na sua própria vida. É a partir de um misterioso pedido de Aurora, que as outras duas se unem para o tentar cumprir. Quer encontrar-se com um homem, Gianluca Ventura, que até então ninguém sabia que existia. Pilar e Santa descobrem o seu paradeiro, mas informam-nas de que já não está bom da cabeça. Ventura tem um pacto secreto com Aurora e uma história por contar. Uma história passada há cinquenta anos, pouco antes do início da Guerra Colonial portuguesa.


A história de Tabu divide-se em duas partes. A primeira, Paraíso Perdido, passa-se em Lisboa e dá-nos a conhecer a altruísta Pilar, Santa e uma Aurora idosa. O quotidiano das três é-nos apresentado e é aqui que começamos a estabelecer empatia com as personagens, sem nada saber ainda do seu passado. Esse é-nos contado na segunda parte - Paraíso -,onde ficamos a conhecer a juventude de Aurora e de Gianluca e todos os segredos tão bem guardados na parte inicial de Tabu.

As personagens possuem características muito próprias que as tornam únicas no seu universo. Pilar, para além de todos os gestos altruístas que ocupam os seus dias, parece trazer para o filme uma paixão pelo cinema, que frequenta com regularidade. Muito religiosa, preocupa-se com todos, descurando-se a si mesma. Aurora, em idosa, apresenta-se debilitada, com alguns rasgos de excentricidade, por vezes pouco lúcida, mas, apesar de tudo, mantendo uma personalidade forte que já vem da sua juventude, aventureira e corajosa. Gianluca, um playboy enquanto jovem, é, em idoso, o narrador nostálgico de toda a segunda parte de Tabu. E para personagens tão boas, actores à altura. Teresa Madruga entrega-se a Pilar, uma das personagens com quem mais iremos simpatizar e que é fundamental para conhecer toda a história. Aurora em idosa é interpretada pela veterana Laura Soveral, que lhe confere algo de especial e mágico. 50 anos antes, Ana Moreira dá-lhe toda a jovialidade e firmeza características, uma mulher decidida e sem medo de nada. Gianluca Ventura tem também dois interpretes de peso: em idoso Henrique Espírito Santo é quem lhe veste a pele, em jovem é Carlotto Cota quem encarna o aventureiro.


Os diálogos são muito bons, com frases marcantes para a história, e uma narração que diz tudo o que queremos saber, a seu tempo. O argumento, relativamente simples, alia-se de tal forma a aspectos mais técnicos que lhe conferem uma complexidade e beleza a que já não se está habituado no cinema. Para além de ser rodado em 35 mm e a preto e branco, as cenas de Moçambique, presentes em Paraíso, foram filmadas em 16 mm, e deixam-nos ver melhor o grão da película. Mais ainda, nessa segunda parte nunca ouvimos as vozes dos actores jovens, podemos escutar todos os outros sons, como se estivéssemos lá, os pássaros, a água, alguém bater à porta, mas as personagens surgem-nos mudas, sendo a única voz presente a do narrador, Ventura, que nos conta tudo o que aconteceu na sua juventude. Miguel Gomes fez um trabalho de realização excelente, aliado a uma fotografia fantástica e banda sonora que se encaixa da melhor forma em todo o ambiente.

A nostalgia de um amor proibido paira em Tabu, que prima pela beleza visual e originalidade que traz ao cinema. Recupera métodos que parecem estar a ser esquecidos e mostra como, nos dias de hoje, filmes assim também funcionam e muito bem.
*8.5*