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terça-feira, 13 de abril de 2021

Dia Internacional do Beijo: Os Melhores Beijos de 2020

Num ano tão estranho e com tanto distanciamento, será que há beijos cinematográficos a destacar em 2020? 


No Dia Internacional do Beijo, fizemos a selecção possível de alguns dos mais inesquecíveis beijos do passado ano cinematográfico e que pudemos ver entre Janeiro e Dezembro (nos cinemas portugueses e nas plataformas de streaming). 

Franz (August Diehl) e Fani (Valerie Pachner) em Uma Vida Escondida / A Hidden Life


Laurie (Timothée Chalamet) e Amy March (Florence Pugh) em Mulherzinhas / Little Women


Marianne (Noémie Merlant) e Héloïse (Adèle Haenel) em Retrato de Uma Rapariga em Chamas / Portrait de la jeune fille en feu


Sigrit Ericksdóttir (Rachel McAdams) e Lars Erickssong (Will Ferrell) em Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga / Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga 

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Crítica: 100% Camurça / Le Daim (2019)

*7.5/10*


Quentin Dupieux tem um jeito especial para dar vida a objectos inanimados e transformá-los em protagonistas dos seus filmes. Foi assim em 2010, com Rubber - Pneu, e volta a fazê-lo bem agora com o casaco de 100% Camurça.

Neste caso, a vida é dada ao casaco através do seu dono, George, interpretado por Jean Dujardin, que conduz a história alucinante com o seu carisma e humor, numa espiral de loucura.

O filme apresenta-nos Georges, um recém-divorciado de 44 anos de idade, e o seu casaco, 100% camurça. Eles têm um plano... Mas a sua obsessão poderá tornar-se extrema.

Dupieux abandona um pouco o nonsense que o tem caracterizado e agora aproxima-se mais da realidade - por muito hilariantes que sejam os acontecimentos. Ao mesmo tempo que nos vamos rir das situações, também vamos temer pelo desequilíbrio crescente do protagonista.


A chegada de George àquele local inóspito, onde pouco ou nada acontece até à sua aparição, vem no seguimento de um divórcio, e da compra - por uma soma bastante avultada - de um casaco de camurça em segunda mão. Os dois acontecimentos parecem produzir no protagonista uma crise de identidade ou apenas a vontade de se isolar e mudar de vida. No bar da pequena povoação, conhece Denise, uma aliada que lhe oferece a ajuda financeira de que necessita, mas que se torna igualmente uma parceira de sonhos e obsessões. Já ela vê nele uma alma gémea no que toca à forma de ver a vida e de se empenhar no trabalho. Ele parece ser capaz de a ajudar a concretizar os seus próprios sonhos.

Da ideia de realizar um filme - que lhe surge em conversa com Denise - à vida de criminoso vai um pequeno passo. O elenco alinha no jogo louco de Dupieux, com Dujardin ao comando, seguro e vestido de camurça pura, da cabeça aos pés, em dupla com a tranquila e quase inocente Adèle Haenel.


100 % Camurça é simples e certeiro, sabendo jogar com o ritmo da acção que se constrói num crescendo de tensão, com a loucura a tomar forma, guiada pelo desejo de um mundo, onde só um casaco pode vingar.

quinta-feira, 12 de março de 2020

Crítica: Retrato da Rapariga em Chamas / Portrait de la jeune fille en feu (2019)

"In solitude, I felt the liberty you spoke of. But I also felt your absence."
Héloïse



*8/10*

Retrato da Rapariga em Chamas é um quadro vivo de elogio às mulheres, com as personagens femininas a dominar a tela. Céline Sciamma filma a beleza, emancipação e igualdade.

Em 1770, Marianne (Noémie Merlant) é pintora e tem de pintar o retrato de casamento de Héloïse (Adèle Haenel), uma jovem que acaba de sair do convento. Héloïse resiste ao seu destino de esposa, recusando posar. Marianne tem de a pintar em segredo. Apresentada como dama de companhia, observa-a todos os dias.

A descoberta das primeiras paixões, do sexo, do amor e do corpo, o lugar da mulher na História, as dificuldades e os sacrifícios por que passava, tudo faz parte de Retrato da Rapariga em Chamas. Sciamma é audaciosa e usa a câmara da mesma forma que a pintora usa o pincel - ambas fazem uma bonita obra de arte.


A igualdade de género e de classes é outra temática que se encontra em Retrato da Rapariga em ChamasHéloïseMarianne e a empregada Sophie são amigas, tratam-se de igual para igual, trocando até de lugar na ausência da dona da casa - interpretada pela sempre elegante Valeria Golino. E eis mais uma singularidade do filme de Céline Sciamma: as mulheres dominam - os poucos homens que vemos são meros figurantes.

Cria-se um filme de sentimentos e sensações, visual e intimo, muito mais impactante do que possa parecer à primeira vista. Retrato da Rapariga em Chamas fica connosco, as suas ideias e imagens continuarão a fustigar a mente, em compasso com a banda sonora insistente, desconcertante, que acompanha a visualização.

O tema que as mulheres cantam junto à fogueira no festival a que vão as três jovens, dita-lhes o destino - "non possunt fugere" - e elas realmente não podem escapar ao seu fado enquanto mulheres, mesmo que tenham experimentado a felicidade da liberdade durante alguns dias.


Entre a fantasmagoria e o desejo, a câmara de Sciamma deambula pelas divisões daquela casa solitária e pelos vastos campos, compondo os mais bonitos quadros ou os mais ardentes sonhos. A perfeição que Marianne quer alcançar no retrato que pinta é a mesma que a realizadora procura colocar em casa cena, em cada plano. 

Nas interpretações, Adèle Haenel sobressai como Héloïse, entre o ar inocente e angelical e o  coração magoado e enraivecido com o destino que a espera. O desejo de liberdade e a vontade de compreender o mundo que a rodeia dão-lhe brilho. Ao seu lado, Noémie Merlant mostra-se confiante, na pele de Marianne, uma mulher independente e madura, que vive do seu trabalho, numa época em que o casamento parecia imprescindível para alcançar um futuro. A sua química com Haenel é um dos pontos fortes da longa-metragem. Merece destaque ainda a muito jovem Luàna Bajrami, a empregada da casa Sophie, confidente e companheira das outras duas, que passa por uma violenta provação.


Retrato da Rapariga em Chamas é feminino e feminista, clama igualdade e liberdade. É mais uma obra que mostra que nunca se deve parar de lutar pelos direitos das mulheres.

terça-feira, 29 de abril de 2014

IndieLisboa'14: Suzanne (2013)

*5.5/10*

Filme de Abertura da Quinzena dos Realizadores de Cannes em 2013 e nomeado para cinco Césares, Suzanne prometia mais do que tinha para oferecer. No IndieLisboa'14, a segunda longa-metragem de Katell Quillévéré integra a secção Cinema Emergente e debruça-se sobre a história de Suzanne que nos é contada ao longo de 25 anos. Vamos conhecê-la desde a infância ao lado da irmã e do pai, passando por uma adolescência rebelde. 

As escolhas de Suzanne (Sara Forestier) comprometem fortemente a sua vida, arrastando a sua família para mudanças profundas. As elipses da história mostram-nos isso mesmo e como, apesar de tudo, o pai e a irmã estão sempre lá - mais ou menos próximos - na esperança da redenção da protagonista.

Aqui temos um drama familiar que começa bem cedo, com duas crianças a crescerem sem mãe, que faleceu, criadas por um pai carinhoso que lhes incute os melhores valores. Apesar disso, Suzanne não se mostra a jovem mais responsável e, já como mãe, denota essa irresponsabilidade e falta de apego - quer ao trabalho, quer ao filho. É uma mulher movida por paixões, mais propriamente por Julien, um homem que inspira pouca confiança e que não parece trazer o melhor futuro para aquela mulher. Suzanne só dá valor ao que tem quando o perde e, mesmo assim, sem evitar erros futuros.


Apesar da Família estar no centro do filme de Quillévéré e do drama vivido pelos seus membros, Suzanne não consegue tocar tão fundo como se faz esperar. Rapidamente nos daremos conta que criamos empatia com o pai viúvo e com Marie, a irmã mas nova e que nunca desiste, mas com a protagonista torna-se muito difícil. Acções irreflectidas, decisões egoístas e mimadas, mais amor por um homem do que pelo filho, tornam impossível não fazer juízos de valor perante momentos totalmente injustificados. Nada nos explica o que a move ou faz tomar atitudes tão irreflectidas - cada novo episódio apenas nos parece mais um capricho da protagonista.

É quase como se em Suzanne descobríssemos o lado negativo daquilo que vimos em Frances Ha, com mais pés mas sem a mesma cabeça. A comparação possível entre os dois filmes reside nas protagonistas, Suzanne e Frances Ha - as duas mulheres dão título aos filmes -, ambas irresponsáveis e que levam a vida como bem entendem sem pensar nas consequências. O que as distingue: enquanto Frances se diverte e faz por continuar o seu estilo de vida, Suzanne não poderia passar por mais provações.

Tecnicamente, o filme oferece-nos planos interessantes, muitos filmados de cima, acompanhados por uma bonita fotografia de Tom Harari e por uma banda sonora que é, talvez, o ponto mais positivo de todo o filme. Nas interpretações, as duas actrizes Sara Forestier e Adèle Haenel têm desempenhos sentidos e competentes, acompanhadas de perto por François Damiens, que faz de pai de ambas.