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segunda-feira, 6 de julho de 2020

Crítica: Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga / Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga (2020)

"The elves went too far!"
Sigrit Ericksdottir


*6.5/10*

Em 2020, o Festival Eurovisão da Canção chegou até nós através da Netflix, pela mão do fã norte-americano Will Ferrell. O actor parece que adivinhou que o evento ia ser cancelado e presenteou-nos com a Eurovisão 2020 possível, mesmo que ficcional. Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga é um filme para os fãs (ou mesmo para os haters) eurovisivos; quem desconhece a realidade do festival dificilmente conseguirá compreender ou desfrutar.

Lars (Will Ferrell) e Sigrit (Rachel McAdams), dois aspirantes a músicos, recebem a oportunidade de representar o seu país na maior competição musical do mundo. Finalmente, têm a possibilidade de provar que os melhores sonhos são aqueles pelos quais estamos dispostos a lutar.


Os momentos musicais são, sem dúvida, os grandes pontos fortes de Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga e transportam-nos bem para a realidade eurovisiva, com todo o seu kitsch, cores, luzes, pirotecnia e adereços extravagantes. Os temas têm também a sonoridade que associamos às canções que, normalmente, competem no evento. Seja no palco do festival, com as caricaturais interpretações - que, curiosamente, poderiam mesmo ser interpretações da Eurovisão real -, como na festa em casa do cantor russo Alexander Lemtov (Dan Stevens), que reúne, numa cena empolgante, antigos participantes e vencedores de outras edições: John Lundvik (Suécia, 2019), Anna Odobescu (Moldávia, 2019), Bilal Hassani (França, 2019), Loreen (vencedora pela Suécia, 2012), Jessy Matador (França, 2010), Alexander Rybak (vencedor pela Noruega, 2009 e concorrente em 2018), Jamala (vencedora pela Ucrânia, 2016), Elina Nechayeva (Estónia, 2018), Conchita Wurst (vencedora pela Áustria, 2014), Netta Barzilai (vencedora por Israel, 2018) e até o português Salvador Sobral (vencedor por Portugal, 2017) - que faz um cameo, enquanto toca Amar Pelos Dois num jardim.


É um filme que dirá muito mais aos Europeus, mesmo aos que não gostam dos "fogos de artifício", das luzes e coreografias explosivas. Porque está tudo ali, todas as críticas que se fazem, mas também muito do encanto do evento: os fãs, o espectáculo e o amor à música - mesmo que ela seja, isso mesmo, eurovisiva. Fora os momentos de homenagem ao festival, a longa-metragem de David Dobkin é uma comédia mediana que, por vezes, estica demasiado as piadas, quase roçando o exagero, mas não o ridículo.

Will Ferrell é ele próprio, na pele de Lars, com o seu humor característico, ao lado da talentosa Rachel McAdams, como a doce Sigrit, habituada a deixar as suas ambições para trás por amor a Lars. Nos secundários, Pierce Brosnan surge como o pai que se envergonha do filho (mas que se redime, claro está) e, a roubar todas as atenções, Dan Stevens é o russo Alexander Lemtov. O actor tem uma presença ofuscante e a sua personagem ganha um forte significado no decorrer do filme - por muito estereotipada que possa ser. Mas não será a Eurovisão, em parte, a celebração dos estereótipos, numa luta festiva contra preconceitos? E aqui a personagem de Dan Stevens é fundamental.


E porque na Eurovisão todos podem ser o que quiserem, Festival Eurovisão da Canção: A História dos Fire Saga cumpre o objectivo de entreter, mas, mais que isso, é capaz de transmitir o espírito e a magia do evento que conquista espectadores, pelo mundo inteiro, há tantas décadas.

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