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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Doclisboa'15: No Home Move (2015)

*8/10*

No Home Movie é o derradeiro filme de Chantal Akerman e o Doclisboa, que tem sempre acompanhado o trabalho da realizadora (foi a homenageada de 2012), trouxe-o ao seu público nesta edição.


Chantal deixou-nos no início do mês e, mesmo que este trabalho não seja uma despedida, ou não deva ser encarado com esse peso de ser "o último", é inevitável que a experiência de assistir a No Home Movie seja difícil e cheia de significação. 

A cineasta dizia que este filme seria "acima de tudo sobre a minha mãe, a minha mãe que já não se encontra entre nós. Sobre essa mulher que chegou à Bélgica em 1938, em fuga da Polónia, dos pogroms e da violência. Essa mulher que é sempre apenas vista dentro do seu apartamento. Um apartamento em Bruxelas. Um filme acerca de um mundo em movimento que a minha mãe não vê.” Todavia, torna-se difícil de separar as duas ausências: a da mãe de Chantal, Natalia Akerman, o foco do documentário, mas igualmente a actual ausência da cineasta. Não é possível afastar esse acontecimento do pensamento.

Mais do que um filme sobre a figura materna, o dia-a-dia da mãe da realizadora, a relação das duas, as suas conversas, pessoalmente ou via skype, a sua história de vida, triste e dura, vítima da Segunda Guerra Mundial e, consequentemente, do nazismo, No Home Movie é um filme sobre a vida, a memória, o tempo que passa e não volta, mas perdura no pensamento de quem cá fica - ou, neste caso, na obra, o seu legado.


Há uma aura dupla que paira sobre este documentário, quase numa espécie de antagonismo. Duas mulheres que nos deixaram recentemente - mãe e filha -, um filme que magoa, que mostra, sem falinhas mansas, que a vida é assim, dura, fria, impiedosa, mas, ao mesmo tempo, que nos encanta pela forma como é construído, como guarda em si o calor das relações familiares, a história de uma família, a história universal, mais ainda, a realidade, tal e qual.

A plateia não sabe como reagir a No Home Movie - se o ama, por ser tão bom, ou o odeia, por confrontá-la com a dura realidade, sem dó -, e tal notou-se durante e no final da sessão, com as emoções à flor da pele, entre lágrimas, apatia, quase depressão. Se um filme é capaz de produzir estes efeitos no público, então está-se perante uma obra ímpar. Não é fácil, é cruel, mas tinha de ser assim.

No Home Movie repete no dia 1 de Novembro, às 18h00, no Cinema Ideal.

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