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sábado, 19 de outubro de 2019

Doclisboa'19: Retratos de Identificação / Portraits of Identification (2014)

*7.5/10*


Retratos de Identificação, de Anita Leandro, faz parte da secção Da Terra à Lua do Doclisboa'19, e recorda, através de fotografias e de testemunhos das vítimas, as prisões de guerrilheiros brasileiros durante a ditadura militar.

O documentário enquanto registo histórico é cada vez mais fulcral quando olhamos para a História de um país. Mais ainda quando essa História foi marcada por uma ditadura, com presos políticos, tortura e crimes vários, pelos quais os opressores nunca foram devidamente punidos. E, no ressurgir de valores de extrema-direita e de elogios à ditadura militar brasileira com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, filmes como Retratos de Identificação (produzido quatro anos antes da sua eleição) são cada vez mais importantes para construir a memória de um passado que não queremos repetir.

A realizadora Anita Leandro conversa com dois antigos guerrilheiros brasileiros, Antonio Roberto Espinosa e Reinaldo Guarany Simões, que se deparam, pela primeira vez, com fotografias de identificação da polícia tiradas depois de terem sido presos durante a ditadura militar. O passado ressurge através das imagens e com ele uma história de crimes até agora por explicar.


Nas entrevistas, Espinosa e Guarany contam alguns dos episódios de tortura que sofreram, os tempos que passaram com a famosa guerrilheira Maria Auxiliadora Lara Barcelos (que se suicidou aos 31 anos, no exílio em Berlim Ocidental, em 1976) - que surge no documentário através de imagens de arquivo, onde conta a sua própria experiência traumatizante. Espinosa conta ainda como o caso da morte de outro companheiro de luta, Chael Charles Schreier, lhe poderá ter salvo a vida; e Guarany relata os momentos que viveu no exílio no Chile e na Alemanha Ocidental.

Retratos de Identificação reúne material de arquivo relevante - fotografias, relatórios policiais, etc. -, cruzando-o com os depoimentos emocionados dos protagonistas, num arrepiante pedaço de História para relembrar um povo dos seus pecados e crimes. Nos dias de hoje, é quase incompreensível, à luz do passado recente, que o Brasil pareça querer repetir os mesmos erros. Documentários destes nunca serão demais.

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