*8.5/10*
Nanni Moretti expõe a sua vida pessoal no grande ecrã como nunca o fez. Minha Mãe confronta-nos com a vida real, com tudo o que sabemos que vai acontecer mas queremos adiar, até ao infinito. A família volta a estar no centro da narrativa do realizador italiano que se distancia da sua própria realidade - o falecimento da sua mãe tempos antes de rodar este filme - colocando-se como personagem secundária.
Minha Mãe segue a vida de Margherita, uma realizadora em plena rodagem de um filme cujo protagonista é um famoso actor americano. Às questões artísticas que enfrenta, juntam-se angústias de ordem pessoal: a sua mãe encontra-se no hospital e a sua filha em plena crise adolescente. O irmão Giovanni, por sua vez, mantém-se como uma constante na sua vida. Conseguirá Margherita estar à altura de todos os problemas familiares e artísticos que enfrenta?
Margherita é Moretti. Moretti queria ser Giovanni: moderado, consciente do que o futuro lhes reserva, sempre presente mas conformado, sem ilusões. Margherita não só é Moretti como poderia ser qualquer um de nós: com pouco tempo para tudo e todos os que a rodeiam, apegada à mãe e ao irmão, fragilizada, uma mulher completamente em negação que teima em não aceitar que a mãe pode morrer a qualquer momento. Inevitavelmente, na vida real, quer admitamos, quer não, a esperança é a última a morrer.
Mas o realizador não nos traz unicamente um filme dramático, de temática pesada. A personagem de John Turturro, o actor americano que participa no filme de Margherita, vem despertar as gargalhadas e os sorrisos. Ele tira a protagonista do sério, nos dois sentidos possíveis da expressão. E são os momentos hilariantes que o actor protagoniza que nos farão sentir culpados por nos rirmos no meio da tragédia da vida desta mulher. Mas a vida não é assim? Por mais mal que tudo corra, não haverá sempre aquela situação que nos arranca um sorriso?
No entanto, Moretti esconde um segredo na condução da sua longa-metragem que faz de Minha Mãe um título muito mais profundo, cruel e desconfortável do que aparenta. É notável a facilidade com que tão depressa nos faz sorrir, como a seguir chorar. E a leveza com que, até muito perto do fim, o filme parece tratar a morte, impressiona-nos ao ponto de, ao sair da sala, sentirmos que o realizador nos deu uma autêntica "tareia" psicológica.
Minha Mãe é a partilha da dor e do sentimento de perda que Nanni Moretti resolveu fazer connosco. Íntimo mas, ao mesmo tempo, comum a todo o ser humano. Porque ninguém saberá nunca lidar com a morte - nem mesmo Giovanni.
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