sábado, 19 de março de 2016

Crítica: Uma História de Amor e Trevas / A Tale of Love and Darkness (2015)

 "Maybe you could finally tell me, what is it about you that I love so much, you of all people?"
Fania

*5/10*

A estreia de Natalie Portman na realização não fica na História mas denota uma sensibilidade que já transparecia enquanto actriz. Uma História de Amor e Trevas, que teve a sua antestreia nacional na Judaica, baseia-se nas memórias de Amos Oz, autor do livro homónimo do filme.

Amos e os pais, Arieh e Fania, são uma das muitas famílias judias que se mudaram da Europa para a Palestina durante os anos 30 e 40 para escapar à perseguição nazi. Arieh é esperançoso quanto ao futuro, enquanto Fania (Natalie Portman) quer muito mais. Ao terror da guerra e das fugas seguiu-se o tédio da vida quotidiana, que pesa fortemente sobre a mãe. Infeliz no casamento e intelectualmente sufocada, para se animar e para entreter o filho, de 10 anos, começa a inventar histórias de aventuras e caminhadas através do deserto.


Mais do que um filme sobre o nascimento do Estado de Israel, Uma História de Amor e Trevas é uma homenagem à mãe do protagonista, a uma mulher intelectualmente fabulosa, mas desencantada com a vida. Paradoxalmente, esta é a maior força e fraqueza do filme.

Por um lado, o contexto histórico é pouco explorado e poderá gorar as expectativas de quem esperava conhecer melhor esta época. Contudo, é neste acto de amor para com a personagem feminina, ela que é o centro de todo o enredo, que criamos laços e que Portman filma momentos especialmente bonitos e tocantes.

Uma História de Amor e Trevas é, essencialmente, a história de Fania e a importância da figura materna para este jovem. Ela é apaixonada pelo filho e fascinada pela morte. A sua imaginação não conhece limites e as histórias que conta parecem ser o seu refúgio, apesar de se deixar levar pela desilusão, depressão e solidão - mas a plateia não compreende na totalidade os motivos reais para esta tristeza tão extrema.


A montagem faz-nos divagar entre o sonho e a realidade, as histórias e as premonições. Muitas das imagens que vemos farão sentido no final da longa-metragem. Visualmente, a realizadora oferece-nos planos cativantes, quer pela sua beleza, quer pela sensibilidade que detêm.

A maior fraqueza do filme de Natalie Portman é a narração, insistente, cansativa e demasiado presente. A realizadora - também argumentista do filme - revela uma grande dificuldade em contar a história apenas através das imagens e personagens, que por vezes nada nos transmitem.

Como actriz, Portman continua a ser talentosa, como realizadora, parece ter tido um início atribulado. Uma História de Amor e Trevas é uma desilusão que deixa uma doçura no ar. Saímos da sala frustrados com o que poderia ter sido e não foi, mas com um carinho por Fania e Amos que, provavelmente, só Natalie Portman seria capaz de criar.

Sem comentários: