quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Crítica: Verão Danado / Damned Summer (2017)

*8/10*

Portugal, esse país danado, com jovens decadentes e desencantados que se perdem nas drogas e festas, noite e dia, porque no escuro, entre as luzes faiscantes são todos iguais, ninguém os julga. Portugal, esse país danado, de onde saem realizadores surpreendentes que conquistam mais o mundo que o próprio país. Mas que bela surpresa este Verão Danado, de Pedro Cabeleira, a sua primeira longa-metragem.

Um filme feito de e por jovens talentos nacionais. Um retrato ficcionado de uma geração sem rumo, onde o realizador filma, segundo as suas próprias palavras, "tudo aquilo que nos fascina e tudo aquilo que nos destrói”. Mas o que triunfa realmente em Verão Danado é a mise en scène e toda a experiência visual que oferece.


O filme acompanha o Verão de Chico, que começa na terra, ao pé dos avós, debaixo dos limoeiros, na atmosfera da infância. Mas o seu lugar agora é na capital, onde terminou o curso e para onde parte à procura de emprego. Pertence a uma geração sem expectativas, à qual a idade adulta começa às portas do nada. É na noite de Lisboa que Chico se perde, entre amores e drogas.

Ao longo de mais de duas horas, aceitamos o convite para conhecer este mundo alienado, onde as drogas conduzem a diversão e a adrenalina, e os jovens, quais zombies modernos, passam as noites, sem dormir, sem fraquejar - fraquejos só são admitidos nas coisas do coração. Em transe, seguimos o rumo da história, que, tal como os jovens, não o tem. Acompanhamos conversas ilógicas, tentativas de conquista, sempre ao som da insistente banda sonora, inseparável companheira de festa.


E entre o nonsense e o experimental, sobressai o estético e sensorial. Verão Danado não nos conta uma história mas vicia-nos em si, contagia-nos pela sua beleza visual. Realização e direcção de fotografia (Leonor Teles a revelar-se uma promessa nacional nesta área, depois dos prémios que Balada de um Batráquio arrecadou) são de excelência, com a segunda a assumir um papel fundamental ao longo de todo o filme. As cenas à noite são filmadas potenciando luz e sombras, colocando as cores eléctricas e vibrantes quase como mais uma personagem psicadélica.


Pedro Marujo é Chico e encabeça um enorme número de jovens actores, fundamentais neste Verão. A longa-metragem alucinada e promissora de Pedro Cabeleira chega aos cinemas portugueses em breve. Já conquistou Locarno, onde recebeu uma menção especial na secção Cineasti del Presenti, agora é aguardar por trabalhos futuros. Por aqui, estamos de olho nele.

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