quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Crítica: E Agora? Lembra-me (2013)

"Agora eu sei o que é o amor"

*8/10*

Na realidade dura da doença e no aconchego doce do lar, Joaquim Pinto traz até nós um dos melhores filmes do ano: o seu premiado documentário E Agora? Lembra-me - um apelo à memória e um hino à vida e à luta, ao amor, à Natureza.

Joaquim Pinto vive com o VIH e o VHC há cerca de duas décadas. Neste filme ele recorda a sua vida no cinema, amizades e amores, nos mistérios da arte e da natureza - enquanto faz parte de um ensaio clínico com drogas tóxicas ainda não aprovadas.

O sofrimento do realizador é visível ao longo das quase três horas de filme, mas quase nem damos pelo tempo passar, entre recordações do passado e um presente sensível, cruel, mas que vale a pena ser vivido. Entre a Natureza e as viagens a Madrid para o tratamento, Joaquim Pinto abre-nos as portas da sua casa e da sua vida e mostra-nos a dor da sua doença, o amor e a força de viver.


Joaquim Pinto filma para nos fazer sentir, ver o mundo de outra perspectiva. Filma a Natureza com poucas vezes a vemos e o documentário respira deste ar puro, onde o realizador vive. O amor espreita um pouco por cada imagem, e adensa-se especialmente na relação de Pinto e Nuno Leonel e dos dois com os seus cães - é mútuo o carinho e a pureza do sentimento consegue emocionar.

E entre as repetições próprias da rotina diária e outras originadas pelos efeitos dos medicamentos, o espectador é convidado a sentir e sofrer dos mesmos sintomas que o realizador e, ao mesmo tempo, sente-se livre para fazer parte da intimidade do protagonista, abraçar os seus quatro cães, quer ajudar nos trabalhos do campo ou a combater incêndios, enfim, faz parte da família.


E Agora? Lembra-me recorda também amigos que partiram e lembra a importância dos que ficaram. Sempre com uma banda sonora dinâmica e com temas fortes, o filme faz-nos entrar numa espécie de diário do realizador, que conhecemos desde a infância e juventude, percorremos alguns dos filmes em que trabalhou, conhecemos os seus amigos, sabemos do surgimento da doença e primeiras mortes de quem lhe foi próximo, mas continuamos na luta pela vida e pela memória, construindo uma família e partindo à descoberta de tudo o que há para descobrir, sempre com o amor a comandar. Há desabafos fortes e frases marcantes, momentos comoventes, tempo para ver e reflectir. E assim se recorda e se mostra como é viver.

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