*8/10*
Uma sala cheia recebeu a antestreia de Montanha, a primeira longa-metragem de João Salaviza, no cinema Monumental, por ocasião do Lisbon & Estoril Film Festival. Realizador e elenco apresentaram o filme que, tal como as anteriores curtas do cineasta, aborda a adolescência problemática de gente real de Lisboa.
Certo Verão quente, na capital, conhecemos David, de 14 anos, que se perde na montanha de sentimentos da adolescência, entre os amores, os amigos, a mãe ausente e o avô, no hospital, cuja hipótese de morte iminente David se recusa a colocar.
Um argumento simples, realista, onde as palavras não dizem tudo e são os olhares, os gestos e os momentos de introspecção que nos ajudam a saber o que vai dentro de cada personagem, conhecer os seus dilemas, a sua dor. Desde o David rebelde, sem futuro em vista, ao David protector da mãe, da irmã e do avô - que paira sempre como um espectro ausente mas muito presente e cuja importância na vida do protagonista parece ser crucial -, o David apaixonado, desiludido, desencantado, revoltado, perdido...
Os personagens encontram-se com a sua realidade com uma naturalidade invejável, especialmente David Mourato, que encarna este protagonista desafiador, justo, triste, solitário. Entre os seus amigos, reencontramos Rafa, que conhecemos da curta-metragem homónima de Salaviza e que aqui nos faz uma visita, tornando-nos quase como parte de Montanha.
Mas mais que todo o lado humano da longa-metragem, o deslumbramento chega desde o primeiro plano, com uma fabulosa direcção de fotografia que faz da iluminação a verdadeira protagonista. Filmado em 35 mm, João Salaviza consegue fazer da imagem um elemento repleto de significação, com a luz e a escuridão a assumirem este papel principal. Somos inundados por perfis que surgem das sombras, vultos tímidos, que se mexem naqueles prédios de um bairro social de Lisboa... Sensações, sentimentos, melancolia, medo, a adolescência a jogar a sério com David, o adulto que surge aos poucos na criança que ainda é.
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