domingo, 4 de março de 2012

Crítica: Vergonha (2011)

“We’re not bad people. We just come from a bad place.”
Sissy Sullivan


Sem medo nem pudor, Steve McQueen quis dar-nos a conhecer a Vergonha de um viciado em sexo. O filme chegou esta quinta-feira aos cinemas portugueses, depois da antestreia na sessão de abertura do Fantasporto.

Michael Fassbender protagoniza este filme na pele de Brandon, um empresário de sucesso, ninfomaníaco. Os seus dias dividem-se entre o trabalho, as mulheres que seduz e as prostitutas que contrata, todavia, tudo começa a fugir ao seu controlo com a chegada inesperada de Sissy, a sua rebelde e perturbada irmã.

Vergonha foi algo que Steve McQueen não teve (e ainda bem) ao mostrar, da melhor e mais perturbante forma, a realidade nua e crua de um viciado em sexo. Uma história pesada e de difícil abordagem resultou e muito bem no grande ecrã às mãos deste realizador. Logo no início, o filme apresenta-nos a nudez frontal do protagonista, e faz-nos adivinhar que a história será contada sem esconder ou minimizar qualquer aspecto. Até à chegada de Sissy, é-nos dado a conhecer o dia-a-dia de Brandon, que convive com o seu problema como se fosse algo natural. É a irmã que traz a mudança ao pensamento do protagonista que, de início parece entrar em negação, mas depressa começa a tentar mudar, sem sucesso. Ele parece ver em Sissy uma ameaça e renega-a, sem se importar com o facto de, também ela, ser uma mulher perturbada, e ao mesmo tempo, parece querer esconder todo o carinho que sente pela irmã.

O conflito interior do protagonista chega a deixar-nos com pena. Um homem que, para além do trabalho, apenas vive para o sexo, e que não consegue estabelecer relações emocionais com ninguém. Mesmo quando tenta "apagar" tudo o que alimenta esse vicio, acaba por ter uma muito forte recaída, e tão bem podemos ver o seu desespero. E a forma como Steve McQueen nos apresenta o problema e filma as cenas de sexo, onde destaco o momento em que Brandon está numa orgia com duas mulheres, é por vezes sufocante para o espectador, que consegue perceber, só através daquela cena, toda a loucura do protagonista. Um momento que consegue ser tão belo e tão incómodo, ao mesmo tempo.

Fassbender encarna uma personagem difícil e muito complexa e o seu desempenho é excelente, com o actor a entregar-se de corpo e alma a Brandon. Das cenas de sexo e nudez ao desespero, que, a certo momento, se apodera do protagonista, Fassbender não fraqueja, nem por um momento, e é um dos mais injustiçados no que respeita aos Oscars, sem sequer ter recebido uma nomeação este ano. Ainda no que respeita ao elenco, Carey Mulligan surge aqui com um dos melhores (ou mesmo o melhor) desempenhos da sua carreira na pele da problemática Sissy.

Apesar de todo o brilhantismo deste filme, fica no ar a dúvida acerca da origem das perturbações psicológicas dos dois irmãos. Estamos perante um homem viciado em sexo e uma mulher com tendências suicidas, e tudo aponta  para que algo na sua infância ou juventude, provavelmente a nível familiar, possa ter provocado esses problemas e instabilidade.

Vergonha termina numa cena semelhante a uma das do início do filme, mas com mudanças que, apesar de subtis, nos levam a construir o nosso final. Steve McQueen traz-nos um filme que irá deixar muita gente boquiaberta, principalmente se não souber ao que vai, mas Vergonha está muito longe do pornográfico. As cenas de sexo, por vezes explícitas, são inevitáveis para que o filme possa ser absorvido na íntegra e para que o resultado seja tão bom.

*8.5/10*

6 comentários:

Sam disse...

É, de entre as estreias mais recentes, um filme que quero muito ver. E, pelas tuas palavras, parece ser um "soco no estômago" cinematográfico — o que, para mim, é sinónimo de imperdível! :)

Parabéns pelo texto!

Cumps cinéfilos.

Inês Moreira Santos disse...

Tenho a certeza de que vais gostar imenso quando o vires.
Obrigada, Sam. :)

Cumprimentos cinéfilos,

Inês

Nuno Barroso disse...

Excelente crítica! Muito provavelmente irei vê-lo esta semana :D Can't wait!

O Narrador Subjectivo disse...

Depois do Hunger, quero tanto, mas tanto ver este filme.

Inês Moreira Santos disse...

Vejam que vale bem a pena. :)
Obrigada.

Cumprimentos cinéfilos

Unknown disse...

Já vi o filme e é muito original...