A propósito da blogosfera cinéfila...

O recente encerramento de um blog "de culto" da comunidade cinéfila portuguesa - no caso o Keyzer Soze's Place - serve de impulso para o texto que se segue. Há muito tempo que penso escrever sobre o tema - diga-se, o actual estado da blogosfera cinéfila nacional - e agora é, talvez, o momento certo.

Escrevo enquanto blogger (jovem nestas andanças do cinema onde estou desde 2010, mais "adulta" na blogosfera em geral onde marco presença desde 2006), mas igualmente enquanto leitora apaixonada por cinema. E apenas redijo este post para expressar uma opinião, apelar à reflexão - longe de mim querer ditar verdades incontestáveis.

Longe vão os tempos em que a comunidade era pequena e mais assídua nas leituras e comentários. Desde há poucos anos, assiste-se a um aumento em larga escala dos blogs de cinema nacionais e a novas formas de chegar aos leitores. Os tempos mudam, e tudo se actualiza com eles, é necessário que assim seja. Contudo, também nos últimos tempos, a blogosfera cinéfila tem perdido muito do seu encanto, muitos espaços de culto desapareceram, e novas atitudes se instalaram.

A união da comunidade, se é que alguma vez existiu, tem desaparecido quase por completo. Em vez de se promover o amor pelo cinema e a diversidade de opiniões que daí advém, (com excepção de uma pequena parte da blogosfera) promovem-se, em alguns casos, a competitividade, ódios, inimizades e faltas de respeito ou a lei do menor esforço e falta de rigor - mesmo quando se reclama estatuto ou se pretende ser exemplo.

O debate de opiniões e críticas construtivas tem decrescido, aumentando, sim, a intolerância entre opiniões contrárias. Ao mesmo tempo, cada vez são menos os blogs que restam - ou que nascem - e com os quais podemos aprender, partilhar conhecimentos, instruirmo-nos e melhorar também o nosso trabalho.

Também eu estou desencantada com a blogosfera de cinema, saturada de pouca novidade, de conteúdos fracos, de mexericos que fogem da cena cinéfila, da falta de tolerância para com uns e da ideia de outros se assumirem como superiores, mas sem mérito para tal. Somos todos iguais, supostamente unidos por uma paixão em comum.

Muito longe de ser exemplo, o Hoje Vi(vi) um Filme continuará a ter como propósito a expressão do meu amor pelo cinema, com respeito e rigor, e sempre com a vontade de melhorar e aprender. Revejo-me apenas numa pequena parte - resistente - da comunidade, que espero que continue forte e com as qualidades que fazem dela o exemplo a seguir.

Restam poucos dos bons - dos que merecem respeito. Mas os que restam devem servir de referência para os restantes se tornarem melhores. Enquanto essa minoria existir, todos deveriam reflectir seriamente sobre o real propósito de manter um blog e sob que critérios actuam.

Cumprimentos cinéfilos.