terça-feira, 5 de novembro de 2013

DocLisboa'13: Death Metal Angola (2012)

*8.5/10*

Realizado por Jeremy Xido, Death Metal Angola trouxe o metal e o rock feitos em Angola para a secção Heart Beat do DocLisboa e para o Mundo. O filme segue a organização do primeiro concerto de rock do país - o sonho de Wilker e Sonia -, juntando membros de diferentes tendências da cena hardcore angolana, oriundos de várias províncias. O palco deste festival de música será o cenário bombardeado e minado do outrora imponente Huambo.

Marcada pela guerra, morte e superstições, a cidade de Huambo, em Angola, era uma "cidade fantasma" quando, em 1996, Sonia chegou. Cruzou-se com "pessoas de olhar vazio", "sem rumo" e ali criou Okutiuka, que acolhe crianças brutalizadas pela guerra, que perderam os pais e a família. Sonia "é uma grande mãe" para estes jovens, segundo as palavras dos mesmos, e o seu dia-a-dia junto deles é-nos apresentado. Ao mesmo tempo, ao conhecermos Wilker (namorado de Sonia), descobrimos o seu sonho comum: organizar um festival de rock em Huambo. "Duvido que haja música que permita que a alma fale melhor" do que esta, diz Sonia.

Death Metal Angola traz-nos uma fusão improvável: música rock numa cidade devastada. Sonia conta-nos como Huambo "é uma província culturalmente muito pobre", tudo desapareceu com a guerra. Com este festival, o casal pretende trazer ao país algo diferente, uma cultura quase desconhecida, e como alguém refere, "para um país que não estava habituado a ouvir barulho de música mas a ouvir barulho de tiros, [isso] é muito bom".


Conhecemos muitas bandas do panorama do rock e do metal em Angola: Before Crush, Neblina, Black Soul, Instinto Primário, Dor Fantasma ou Fios Eléctricos são alguns dos nomes que surgem neste documentário. Todos se unem pela mesma causa e todos provam como a guerra e o rock e metal angolanos estão interligados. As bandas referem que a música que fazem é como “um grito de revolta”, uma forma de se libertarem da dor causada pela guerra.

Death Metal Angola intercala de forma muito competente o passado e o presente de Huambo, o trabalho de Sonia com as crianças da cidade e os esforços do casal na organização do festival. À medida que o tempo passa e a data do evento se aproxima, seguimos todos os seus passos, desde a divulgação na rádio em Benguela, às dificuldades financeiras em véspera dos concertos, até aos problemas técnicos do grande dia.

Jeremy Xido consegue fazer com que nos envolvamos intensamente em Death Metal Angola. Insere-nos na realidade marcada pela destruição e pela morte, com os relatos crus e arrepiantes de Sonia, visivelmente emocionada. Ao mesmo tempo, vamos conhecendo as histórias de algumas das crianças de Okutiuka, que também elas encontram no rock uma forma de libertação do seu passado infeliz.

Sonia e Wilker dão tudo de si por esta causa, pelo seu sonho, e fizeram História. Para Wilker, "rock significa poesia, amor, canção, estilo de vida, alegria, felicidade..." – somente elementos positivos que quis partilhar com uma cidade marcada pela tristeza, com um país habituado a outros estilos de música. Death Metal Angola faz o Mundo descobrir a paixão angolana pelo metal e mostra como este estilo de música “pesada” serve de escape e dá força para seguir em frente, mais felizes.

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