quinta-feira, 12 de junho de 2014

Crítica: Só os Amantes Sobrevivem / Only Lovers Left Alive (2013)

*6.5/10*

Dois amantes muito pouco comuns conduzem-nos pelo mundo dos vampiros, muito ao estilo de Jim Jarmusch, que aqui realiza e escreve Só os Amantes Sobrevivem. O ambiente sombrio mas tranquilo e extremamente visual é o que melhor distingue a longa-metragem protagonizada por Tilda Swinton e Tom Hiddleston.

Entre Detroit e Tânger, conhecemos os dois amantes: Adam (Tom Hiddleston), um músico underground, profundamente deprimido pelo rumo das acções humanas, que se reúne com Eve (Tilda Swinton), a sua resiliente e enigmática amante. A história de amor entre ambos dura há alguns séculos, mas este momento idílico é interrompido pela chegada da incontrolável irmã mais nova de Eve

Acima de tudo, é o ambiente nocturno, extravagante e obscuro, que nos cativa para Só os Amantes Sobrevivem, a par das curiosas coincidências históricas que marcam passado e presente dos nossos protagonistas - que começam desde logo ao sabermos os seus nomes - Adam e Eve. As personalidades com que se cruzaram, os conhecimentos que adquiriram com o passar dos séculos e o seu amor que resiste através dos tempos são os aspectos que mais cativarão a plateia.


Narrativamente, contudo, Jarmusch não esteve no seu melhor. O argumento no seu todo não traz originalidade aos filmes de vampiros. A crítica ao mundo actual e aos humanos - aqui chamados de zombies por estes vampiros -, que surge a dado momento, perde-se e não é suficientemente forte para ser sentida. Por outro lado, há opções narrativas desaproveitadas - a bala de madeira é o exemplo mais flagrante - e outras totalmente desapropriadas, sem acrescentar nada à acção principal. Neste segundo ponto, refiro-me à personagem de Mia Wasikowska, Ava, irmã de Eve, que chega e parte sem grandes explicações acerca da sua introdução na narrativa. É certo que são as suas atitudes que levam a uma alteração na rotina de Adam, mas essa mudança também poderia ter acontecido por outro qualquer motivo mais certeiro e menos comum do que uma cunhada inconsequente e nada bem-vinda.

Em geral, os protagonistas mereciam uma história à sua imagem, já que são também eles que nos fazem não desviar os olhos de Só os Amantes Sobrevivem. Como Adam e EveTom HiddlestonTilda Swinton têm uma química poucas vezes vista no cinema. Misteriosos e apaixonados, inseparáveis mesmo longe um do outro, algo os une para lá do espaço e do tempo, e nós somos testemunhas do seu amor. Hiddleston pode aqui distanciar-se do papel que o tornou famoso (Loki), encarnando com talento um vampiro rockeiro suicida, cansado da vida eterna e dos humanos, mas totalmente apaixonado por Eve. Swinton tem aqui mais uma hipótese de mostrar o quão multifacetada é. Veste a pele de uma mulher do mundo, poliglota e descontraída, capaz de atravessar os céus pelo seu amante.


A câmara rodopia sobre os personagens, segue-os, faz-nos caminhar com eles pelos cenários abandonados de Detroit, ou pelos becos e ruelas da enigmática e inebriante Tânger. O trabalho de fotografia, de Yorick Le Saux, é de elogiar, sendo o principal responsável pela criação do ambiente tão característico do filme de Jarmusch. Os tons escuros predominam e o vermelho-sangue destaca-se, obviamente. A banda sonora, à imagem dos protagonistas, é intensa, pesada, por vezes incómoda, mas extremamente envolvente, fundindo-se na perfeição com as imagens.

Só os Amantes Sobrevivem mostra-nos como podem os vampiros sobreviver nos dias de hoje, num mundo alucinado e corrupto, onde deixaram de ter a força de outros tempos. Entre recordações do passado e a antecipação de possíveis futuros, Adam e Eve introduzem-nos o seu mundo, enquanto tentam sobreviver. Nós deixamo-nos conduzir, mas pedíamos mais a Jarmusch.

1 comentário:

Júlio disse...

Nao percebeu nada do filme, desculpe. Nao entendeu que os vampiros sao os artistas, que sobrevivem por séculos mas acabam por morrer. Nao entendeu que a irmã de eve representa o falso artista (de los angeles, hollywood), e que bebe a arte de golada sem saborear...
Tanta coisa, antes de escrever criticas, tente perceber o que vê.