*6/10*
Tem sido um sucesso internacional, é o candidato brasileiro na corrida às nomeações para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e passou pelo Lisbon & Estoril Film Festival: falo de Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert.
Que horas ela volta? conta a história da empregada doméstica Val e do reencontro com a sua filha adolescente, Jéssica, criada longe da mãe. Para sustentar a filha, Val trabalha em casa de um casal da classe média e tem criado o filho dos patrões como se fosse seu. Há dez anos que não vê Jéssica.
Anna Muylaert trabalhou ao longo de 20 anos no filme e o resultado está à vista. Que Horas Ela Volta? conquistou a crítica estrangeira, venceu o Prémio Especial do Júri no Festival de Sundance, que premiou as duas protagonistas - Regina Casé e Camila Márdila -, e em Berlim recebeu o prémio Panorama, do público, e o prémio C.I.C.A.E. (atribuído pela International Confederation of Art House Cinemas).
É um trabalho que dirá muito ao público brasileiro, pela realidade que retrata, mas que tocará mais especialmente quem desconhece totalmente este quotidiano, como os norte-americanos ou grande parte dos europeus. Para os portugueses, habituados à realidade brasileira quer pelas suas novelas quer pelo cinema, Que Horas Ela Volta? poderá soar a cliché do início ao fim.
Trata-se de um filme agradável de assistir mas cujo conteúdo não traz muito de novo. A história da empregada pobre que, para poder dar uma vida digna à filha, abdica da sua presença e vai trabalhar longe para sustentá-la não é nova. Tal como não será nova a relação que se cria entre o filho dos patrões, Fabinho, e a empregada que o criou, mais forte do que a que mantém com os pais.
Os personagens são clichés usados, por vezes, de forma inteligente, mas, em muitas outras, exageradamente (exemplo maior o momento em que pai, mãe e filho estão a jantar sem largar o smartphone). Temos o patrão rico, simpático mas infeliz e deprimido, a patroa sempre ocupada, que vive das aparências, e usa uma falsa simpatia para a empregada. Do outro lado, temos a protagonista, Val, numa interpretação fantástica de Regina Casé, que vive para a família que serve, é conscientemente subjugada, acha que é assim que deve ser e parece amar mais o rapaz que criou do que a própria filha. Val merecia uma personalidade um pouco mais forte e menos ingénua. Quem se destaca e vem contrariar expectativas e clichés é mesmo Jéssica, a menina pobre mas inteligente e batalhadora. Sem papas na língua, ela clama por justiça. É a vingadora da história, a sua chegada vem alertar para a necessidade de mudança, provavelmente a mesma mudança a que a realizadora pretende apelar com o seu filme. Como Jéssica, Camila Márdila parece um peixe na água numa interpretação segura e sincera.
Na realização, somos meros observadores - em quem um sentimento de revolta vai crescendo - introduzidos naquela casa, com especial enfoque na cozinha - o espaço de Val -, e vamos assistindo à rotina dos personagens, quebrada com a chegada de Jéssica. A câmara é, normalmente, estática, e espreita pelas divisões como se não quisesse que alguém dê por ela.
A crítica social está claramente presente neste retrato-tipo da relação da família com a sua empregada, com o papel das mulheres em destaque - qualquer que seja a classe social ou a idade. Que Horas Ela Volta? é um trabalho feito com muito amor por Anna Muylaert e que, apesar da trivialidade, tem surpreendido.
Anna Muylaert trabalhou ao longo de 20 anos no filme e o resultado está à vista. Que Horas Ela Volta? conquistou a crítica estrangeira, venceu o Prémio Especial do Júri no Festival de Sundance, que premiou as duas protagonistas - Regina Casé e Camila Márdila -, e em Berlim recebeu o prémio Panorama, do público, e o prémio C.I.C.A.E. (atribuído pela International Confederation of Art House Cinemas).
É um trabalho que dirá muito ao público brasileiro, pela realidade que retrata, mas que tocará mais especialmente quem desconhece totalmente este quotidiano, como os norte-americanos ou grande parte dos europeus. Para os portugueses, habituados à realidade brasileira quer pelas suas novelas quer pelo cinema, Que Horas Ela Volta? poderá soar a cliché do início ao fim.
Trata-se de um filme agradável de assistir mas cujo conteúdo não traz muito de novo. A história da empregada pobre que, para poder dar uma vida digna à filha, abdica da sua presença e vai trabalhar longe para sustentá-la não é nova. Tal como não será nova a relação que se cria entre o filho dos patrões, Fabinho, e a empregada que o criou, mais forte do que a que mantém com os pais.
Os personagens são clichés usados, por vezes, de forma inteligente, mas, em muitas outras, exageradamente (exemplo maior o momento em que pai, mãe e filho estão a jantar sem largar o smartphone). Temos o patrão rico, simpático mas infeliz e deprimido, a patroa sempre ocupada, que vive das aparências, e usa uma falsa simpatia para a empregada. Do outro lado, temos a protagonista, Val, numa interpretação fantástica de Regina Casé, que vive para a família que serve, é conscientemente subjugada, acha que é assim que deve ser e parece amar mais o rapaz que criou do que a própria filha. Val merecia uma personalidade um pouco mais forte e menos ingénua. Quem se destaca e vem contrariar expectativas e clichés é mesmo Jéssica, a menina pobre mas inteligente e batalhadora. Sem papas na língua, ela clama por justiça. É a vingadora da história, a sua chegada vem alertar para a necessidade de mudança, provavelmente a mesma mudança a que a realizadora pretende apelar com o seu filme. Como Jéssica, Camila Márdila parece um peixe na água numa interpretação segura e sincera.
Na realização, somos meros observadores - em quem um sentimento de revolta vai crescendo - introduzidos naquela casa, com especial enfoque na cozinha - o espaço de Val -, e vamos assistindo à rotina dos personagens, quebrada com a chegada de Jéssica. A câmara é, normalmente, estática, e espreita pelas divisões como se não quisesse que alguém dê por ela.
A crítica social está claramente presente neste retrato-tipo da relação da família com a sua empregada, com o papel das mulheres em destaque - qualquer que seja a classe social ou a idade. Que Horas Ela Volta? é um trabalho feito com muito amor por Anna Muylaert e que, apesar da trivialidade, tem surpreendido.
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