"In many ways, this has been the best time of my life. It's the only time recently I can remember being proud of the work I was doing."
Lee Israel
*7.5/10*
Saber rir de si próprio é uma grande virtude, e Can You Ever Forgive Me? faz isso com talento, numa alegria triste e melancólica, mas que abre sorrisos e enternece.
A realizadora Marielle Heller adaptou ao cinema o livro de memórias da verdadeira Lee Israel, e a sua inacreditável história é-nos contada com uma simplicidade quase viciante. Paradoxalmente, condenamos as acções da protagonista mas queremos que ela possa singrar e sentir-se valorizada.
Após o falhanço comercial da sua biografia de Estée Lauder, a autora Lee Israel debate-se com um bloqueio criativo, alcoolismo e graves problemas financeiros – ao ponto de vender a um livreiro uma carta pessoal que lhe fora enviada pela diva Katharine Hepburn. Fechado o negócio, Lee decide começar a forjar cartas de escritores, dramaturgos e actores já desaparecidos, ornamentando os escritos com pormenores íntimos destinados a subir o preço desses testemunhos.
Can You Ever Forgive Me? lembra-nos, em alguns momentos, as histórias e personagens em decadência de Woody Allen, com especial incidência em escritores, argumentistas e outros artistas. Aqui, Lee Israel poderia protagonizar um filme de Allen - a escritora desesperada que redescobre o encanto pelo seu trabalho e um novo talento, ao falsificar documentos antigos.
Apesar de Israel ser uma mulher solitária e pouco sociável, a plateia não lhe irá resistir. O responsável por isso é o gato da protagonista que tem um simbolismo especial, já que é o ser que mais emoções desperta em Israel. Ele é o elo que mais nos liga a esta mulher tão desencantada, que passou de biógrafa a falsificadora. Ao mesmo tempo, ninguém fica indiferente ao renascimento da sua criatividade quando já não escreve em nome próprio. A vida de Israel parece ganhar um novo sentido.
Normalmente, associamos Melissa McCarthy à comédia, mas em Can You Ever Forgive Me? o lado dramático da actriz manifesta-se. O humor está presente, claro, mas Melissa transforma-se, e não apenas fisicamente. A mágoa e desilusão da escritora mal-amada, solitária e desconfiada atormentam a personagem que se refugia na bebida... e na falsificação. Uma interpretação tão intensa como divertida, mas acima de tudo, muito realista.
Ao seu lado, um esplendoroso Richard E. Grant como Jack Hock. O actor tem uma interpretação elegante e sentida na pele de um traficante alcoólico homossexual, cujo caminho se cruza com o da protagonista de Can You Ever Forgive Me?. Entre a fragilidade da doença e o companheirismo com Melissa McCarthy, Grant absorve tudo o que o rodeia quando entra em cena.
E assim um filme tão discreto conquista a audiência. Personagens fortes e um argumento bem escrito são os responsáveis pela simpatia que Can You Ever Forgive Me? faz despertar.
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