terça-feira, 12 de novembro de 2019

Crítica: Parasitas / Parasite (2019)

"You know what kind of plan never fails? No plan. No plan at all."
Ki-taek


*8/10*

Parasitas é mais um trabalho inspirado do sul-coreano Bong Joon-ho. Uma crítica social mordaz que contrapõe duas famílias - uma rica, outra pobre - numa Coreia cheia de desigualdades e sonhos.

O realizador constrói um cenário onde tudo pode acontecer e nunca estaremos preparados para os próximos desenvolvimentos narrativos. Comédia, drama e muita violência são os ingredientes principais deste duelo de classes.

Kim Ki-taek tem uma família unida, mas estão todos desempregados e as suas perspectivas futuras não são boas. O filho Ki-woo é recomendado por um amigo para dar explicações de inglês à filha do Sr. Park, homem abastado, dono de uma empresa de informática. Eis que surge a oportunidade de também empregar a irmã de Ki-woo naquela casa, como professora de artes do filho mais novo dos Park. Inicia-se assim o contacto entre as duas famílias, que irá provocar uma cadeia imparável de incidentes.


As imagens iniciais lembram-nos o japonês Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões e as histórias começam por se assemelhar, todavia, depois, Parasitas segue um caminho bem mais complexo e tumultuoso que o filme de Hirokazu Koreeda.

A luta de classes evidencia-se com o humor negro a cumprir um papel essencial no decorrer dos acontecimentos. Enquanto os ricos precisam dos pobres para servi-los, os pobres precisam desse trabalho para sobreviver e, enquanto isso, os Kim sonham com uma vida melhor, em sair da cave, com poucas condições, onde têm vivido. Mas quando tudo se começa a desmoronar, uma desgraça nunca vem só. Ao construir a dura crítica social, Parasitas faz-nos assemelhar os protagonistas pobres a ratazanas de esgoto - a certo momento do filme, uma inundação mostra-nos bem essa metáfora.

E quando a vida dos Kim começa a melhorar, surge uma ameaça que pode colocar tudo por terra. O medo toma proporções inesperadas que emergem das profundezas. Ao mesmo tempo, a violência, inicialmente não programada, entra numa escalada. De repente, não se sabe quem são os parasitas naquela casa.


Há pormenores aparentemente insignificantes que estão carregados de simbologia. Se há uma personagem alérgica a pêssegos, depressa chegamos à conclusão que também o patriarca dos Park sofre de alergia aos pobres e nem lhes tolera o cheiro.

Parasitas traz consigo um incómodo latente, especialmente cruel. Os momentos de humor disfarçam a culpa que a plateia carrega por não conseguir escolher um lado. Todos têm sonhos e todos querem sobreviver.

2 comentários:

Belinha Fernandes disse...

Um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos. Ainda não escrevi sobre ele. Já é costume. Acabo por não escrever sobre os filmes de que mais gostei!

Inês Moreira Santos disse...

E agora depois dos Oscars, já vale uma review tua? :)