segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Crítica: A Despedida / The Farewell (2019)

"Chinese people have saying, when people get cancer they die. It's not cancer that kills them, it's the fear."
Jian


*7/10*

A realizadora Lulu Wang surpreende-nos desde o início de A Despedida, ao começar por dizer que o filme se baseia numa mentira real - a história da sua família. Uma comédia dramática, que interliga culturas distintas e tenta compreender se a mentira não poderá funcionar como atenuante quando a verdade é demasiado dolorosa. 

Billi (Awkwafina), uma norte-americana de origem chinesa, regressa à China ao saber que a sua amada avó sofre de uma cancro terminal. Billi luta contra a decisão da família de esconder o diagnóstico da avó enquanto preparam um casamento que reunirá todos por uma última vez. 


A Despedida é leve e divertido, apesar da temática sensível. Será que se deve esconder a um doente o seu diagnóstico, por pior que ele seja? Eis a premissa para se instalar o dilema entre os membros da família, ao mesmo tempo que o conflito de culturas ocupa uma posição de destaque. Uma família de chineses emigrantes: um irmão vive no Japão, outro nos Estados Unidos. Oriente e Ocidente encaram de formas diferentes a morte e a doença, e os direitos dos doentes são também bastante distintos. Lulu Wang coloca-nos perante uma realidade sobre a qual nunca pensamos. Neste caso, a realizadora viveu tudo na pele.

O desenlace está longe de ser trágico, mas, ao longo de todo A Despedida, os momentos de humor  intercalam-se com a introspecção das personagens, numa batalha interior - em especial, Billi, uma boa interpretação de Awkwafina, que balança entre a boa disposição, a mágoa e muita ternura. A acompanhar a reunião familiar está a banda sonora de Alex Weston, inspirada e emocionante.


A Despedida apela ao riso e às lágrimas, sem nunca se tornar irrealista ou demasiado dramático. Lulu Wang conduz a sua própria história com leveza e naturalidade, num convite a conhecer outra cultura, outros actores, outro país, tudo em redor de uma mentira piedosa - universalmente compreensível.

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